1990–1999
Paz Mundial
April 1990


Paz Mundial

“A receita de paz: guardar os mandamentos de Deus. Guerras e conflitos são resultado da iniqüidade; a paz é o produto da retidão… Todo cidadão promove a causa da paz mundial quando guarda os mandamentos de Deus e vive em paz com a família e os vizinhos.”

Há alguns anos, um amigo que se estava mudando para Washington, D.C., dirigiu-se à repartição distrital para tirar sua carteira de motorista. Precisou preencher um formulário que pedia seu endereço comercial e sua ocupação. Tendo sido recentemente nomeado juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, usou esta como endereço comercial. No espaço reservado a “ocupação”, escreveu a palavra justiça. O funcionário que o atendia examinou a resposta e comentou: “Justiça? Justiça! Bem, suponho que está bem. Na semana passada um camarada escreveu paz.”

Todos nós deveríamos exercer a ocupação de “paz”. O que é paz, e como a conseguimos?

Muitos consideram paz a ausência de guerra. Todos querem esse tipo de paz. Músicas a celebram e adesivos de pára-choques a proclamam.

Muitas pessoas de bem promovem a paz opondo-se à guerra. Advogam leis ou tratados que proíbem a guerra, requerem o desarmamento ou reduzem as forças armadas.

Esses métodos poderão diminuir a probabilidade ou custo de guerras, mas a oposição à guerra não consegue assegurar a paz, porque esta é mais que ausência de luta.

Há mais de cinqüenta anos tenho ouvido os líderes desta Igreja pregando que a paz só se consegue por meio do Evangelho de Jesus Cristo. E estou começando a entender o motivo.

A paz proveniente do evangelho não é simples ausência de guerra. É o contrário dela. A paz do evangelho é o oposto de qualquer conflito, armado ou desarmado. É o oposto de hostilidades nacionais ou étnicas, de conflitos civis ou familiares.

Em meio à I Guerra Mundial, o Presidente Joseph F. Smith declarou:

“Há anos vem sendo dito que a paz só se consegue pela preparação para a guerra; o atual conflito prova que a paz só se consegue pela preparação para a paz, instruindo o povo em retidão e justiça, e escolhendo governantes que respeitem a vontade justa do povo…

Só uma coisa pode trazer paz ao mundo. É a adoção do Evangelho de Jesus Cristo, devidamente compreendido, obedecido e praticado tanto pelos governantes como pelo povo.” (Improvement Era, setembro de 1914, pp. 1074-1075.)

Umà geração mais tarde, durante as selvagens hostilidades da II Guerra Mundial, o Presidente David O. McKay declarou:

A paz será alcançada e mantida unicamente pelo triunfo dos princípios de paz, e pela conseqüente sujeição dos inimigos da paz, que são o ódio, a inveja, o lucro ilícito, o exercício de domínio injusto sobre o homem. A submissão a esses males traz miséria para o indivíduo, infelicidade para o lar, guerra entre nações.” (Gospel Ideals, Salt Lake City: Deseret Book Co., 1953, p. 280.)

Essa tem sido a mensagem dos profetas de todas as eras. Referindo-se às primeiras famílias da terra, disse Moisés: “E naqueles dias Satanás exercia grande domínio entre os homens, e enfurecia os seus corações; e desde então houve guerras e derramamento de sangue.” (Moisés 6:15.)

Em sua própria época, Moisés transmitiu a promessa do Senhor aos filhos de Israel: “Se andardes nos meus estatutos e guardardes os meus mandamentos… darei paz na terra,… e pela vossa terra não passará espada.” (Levítico 26:3, Levítico 6.)

Por todo o Livro de Mórmon, declara o Senhor: “Enquanto guardardes meus mandamentos prosperareis na terra.” (2 Néfi 1:20.)

Procurando entender as causas das guerras, perseguições e conflitos civis, podemos ver que quase sempre são produto da iniqüidade.

Os assassinatos em massa, do século vinte, contam-se entre os crimes mais sangrentos já cometidos contra a humanidade. Dificilmente podemos compreender a extensão do holocausto nazista, que matou mais de cinco milhões de judeus na Europa, os expurgos e campos de trabalhos forçados de Stalin, que mataram de cinco a dez milhões na União Soviética, e os dois a três milhões de não-combatentes que foram mortos ou morreram de inanição na Guerra de Biafra. (Vide Isidor Walkman e Michael N. Dobkowski, ed.,Genocide and the Modem Age, New York: Greenwood Press, 1987, p. 46; The Nation, 6 de março de 1989, p. 294; 7/14 agosto de 1989, P. 154.)

Todas essas matanças e outras semelhantes tiveram suas raízes na antiga iniqüidade ensinada por Satanás, de que um homem pode matar para obter lucros. (Vide Moisés 5:31.) Os genocidas deste século mataram para adquirir propriedades e assegurar poder sobre outros.

Através do Profeta Moisés, o Senhor Deus de Israel ordenou:

“Não matarás.

Não adulterarás.

Não furtarás.

Não dirás falso testemunho…

Não cobiçarás.” (Êxodo 20:13–17.)

A obediência a esses mandamentos, que são o inabalável alicerce moral para todos os cristãos e judeus, teria impedido as maiores tragédias deste século.

Continuamos vivendo numa época turbulenta. Há guerras entre algumas nações, conflitos armados em outras e violentas controvérsias na maioria. Todos os dias pessoas são mortas, em alguns lugares, e o ódio é praticado em muitos outros. A paz é a vítima em toda parte.

Se apenas conseguíssemos acatar o chamado do Senhor Deus de Israel: “Vinde a mim todos vós, extremos da terra.” (2 Néfi 26:25.) Conforme ensina o Livro de Mórmon, ele criou toda a carne, e “para ele uma criatura é tão preciosa como a outra”. (Jacó 2:21.) Ele deu a salvação “livremente a todos os homens” (2 Néfi 26:27), e “todos os homens têm o mesmo privilégio e a nenhum é vedado”. (Vers. 28.)

“E convida a todos (os homens) para que venham a ele e participem de sua bondade; e nada nega aos que o procuram, seja branco ou preto, escravo ou livre, homens ou mulheres; e lembra-se dos pagãos; e todos são iguais perante Deus.” (2 Néfi 26:33.)

As bênçãos do evangelho são universais, como também a receita de paz: guardar os mandamentos de Deus. Guerras e conflitos são resultado da iniqüidade; a paz é o produto da retidão.

Durante o ano passado vimos mudanças revolucionárias no governo de muitas nações. Estamos contentes porque, na maioria delas, essas mudanças processaram-se sem guerra ou derramamento de sangue. Não obstante, estamos longe de ter a paz assegurada nessas nações ou quaisquer outras, em todo o mundo.

Muitos encontram consolo na profecia do Velho Testamento, de que nações “converterão as suas espadas em enxadas, e as suas lanças em foices”. (Miquéias 4:3.) Mas esta profecia aplica-se unicamente à época de paz que seguirá o tempo em que o Deus de Jacó há de “nos (ensinar) os seus caminhos, e nós (andaremos) pelas suas veredas”. (Miquéias 4:2.)

Por enquanto temos guerras e conflitos que, em toda parte, são produto das violações dos mandamentos de Deus.

Os governantes de certas nações têm assassinado sistematicamente seus opositores.

Pessoas no poder, em certas nações, têm roubado propriedades públicas e privadas para poderem viver no luxo. E, ao mesmo tempo, negligenciam as necessidades mínimas dos famintos e desabrigados do povo.

Alguns cidadãos promovem a pobreza roubando, corrompendo funcionários públicos e oprimindo os pobres e indefesos.

Junto às fronteiras de certos países encontram-se deploráveis campos de refugiados, cuja condição de sofrimento também é resultado da incapacidade do homem de guardar os mandamentos de Deus.

O clima moral em certas nações, faz lembrar a descrição do Profeta Ezequiel da “cidade sangüinária” de Jerusalém:

“Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa, para derramarem o sangue, para destruírem as almas, para seguirem a avareza.

Ao povo da terra oprimem gravemente, e andam roubando, e fazem violência ao aflito e ao necessitado.” (Ezequiel 22:27, 29.)

Democracia não assegura paz. Quando uma nação é governada segundo a voz de seu povo, seus atos refletirão a retidão ou iniqüidade desse povo.

Não podemos ter paz entre nações sem que haja retidão geral entre os povos que as formam. Disse o Élder John A. Widtsoe:

“A única maneira de edificar uma comunidade pacífica é formar homens e mulheres que sejam amantes e promotores de paz. Toda pessoa, por essa doutrina de Cristo e sua Igreja, tem em suas próprias mãos a paz do mundo.

Isto me torna responsável pela paz do mundo, e vos torna individualmente responsáveis pela paz do mundo. A responsabilidade não pode ser transferida para outros. Não pode ser colocada sobre os ombros do Congresso ou Parlamento, ou qualquer outra organização de homens com autoridade para governar.” (Conference Report, outubro de 1943, p. 113.)

Se os cidadãos não tiverem um mínimo de bondade para governar seu procedimento em relação uns aos outros, jamais alcançaremos paz no mundo. A ganância, o ódio ou o desejo de poder de uma nação sobre outra é simples reflexo das ganâncias, ódios e desejos egocêntricos dos indivíduos dessa nação.

Por outro lado, todo cidadão promove a causa da paz mundial quando guarda os mandamentos de Deus e vive em paz com a família e os vizinhos. Esses cidadãos vivem a prece expressa na letra de uma canção popular: “Que haja paz na terra e que comece em mim.” (Sy Miller e Jill Jackson, “Let There Be Peace on Earth”.)

O Salvador e seus apóstolos não tinham outro programa para a paz mundial além da retidão individual. Não faziam nenhuma oposição ao domínio de Roma ou ao regime dos tiranos locais. Pregavam a retidão pessoal e ensinavam que os filhos de Deus deviam amar seus inimigos (vide Mateus 5:44) e viver em “paz com todos os homens”. (Romanos 12:18.)

A história recente lembra-nos de que os povos que continuam a odiar-se depois de uma guerra terão outra guerra, enquanto que o vitorioso e o derrotado que se perdoam um ao outro viverão em paz e prosperidade.

Os membros de nossa Igreja demonstraram o poder do amor, que cura e pacifica, na remessa de mantimentos e agasalhos para aliviar o sofrimento dos santos alemães, logo após a II Guerra Mundial. O Presidente Harry S. Truman ficou admirado quando o Presidente George Albert Smith lhe informou que os suprimentos não seriam vendidos. “Não está querendo dizer que vão doá-los?”, exclamou.

O Presidente Smith replicou simplesmente: “Eles são nossos irmãos e estão em situação angustiante.” (Edward L. Kimball e Andrew E. Kimball Jr., Spencer W. Kimball, Salt Lake City: Bookcraft, 1977, p. 222.)

Poucos meses mais tarde, o Élder Ezra Taft Benson viu um membro alemão em lágrimas, ao passar os dedos por uma embalagem de trigo triturado e sussurrar: “Irmão Benson, é difícil para mim acreditar que pessoas que nunca nos viram possam fazer tanto por nós.” (Sheri L. Dew, Ezra Taft Benson, Salt Lake City: Deseret Book Co., 1987, p. 219.)

O que pode fazer uma pessoa para promover a paz mundial? A resposta é simples: Guardar os mandamentos de Deus e servir a seus filhos.

O bispo que procura sanar um casamento perturbado ou resolver uma controvérsia pessoal está trabalhando pela paz, como também a vítima de abuso que conscientemente se dedica ao longo processo de perdoar o transgressor.

Jovens contribuem para a paz quando, esquecendo o prazer temporário de atividades pessoalmente gratificantes, envolvem-se em projetos de serviço e outros atos de bondade.

Os mais poderosos batalhadores da paz podem ser os pais fiéis. Alguns dos mais terríveis crimes cometidos contra a humanidade são atos de pessoas vitimadas e deformadas pelos pecados alheios, muitas vezes de seus próprios pais ou de outros que cuidavam deles. Os pais que cuidam com carinho dos próprios filhos ou abrigam filhos adotivos e os criam em retidão, estão trabalhando pela paz. Assim como os pais que ensinam os filhos, segundo aconselhava o Rei Benjamim, a evitarem conflitos e “a se amarem mutuamente e a servirem uns aos outros”. (Mosiah 4:15.)

Pessoas que buscam amenizar o sofrimento humano e pessoas que trabalham em prol do entendimento entre diferentes povos, também são trabalhadores importantes da paz.

Um ato pessoal de bondade ou reconciliação também tem seu impacto de paz. O biógrafo de Lincoln descreve um ato assim. Um oficial da União solicitou ao seu comandante permissão para deixar o regimento, a fim de ir ao enterro da esposa. Lincoln recusou rispidamente. Estavam na iminência de outra batalha e todos os oficiais eram necessários. Na manhã seguinte, o Presidente Lincoln reconsiderou sua decisão e concedeu a licença. Dirigiu-se ao quarto do oficial enlutado, tomou-o pela mão e disse:

“Caro coronel, fui ríspido ontem à noite. Não tenho como me desculpar. Eu estava exausto, mas não tinha o direito de tratar com rudeza um homem que oferecera a vida por seu país, muito menos um homem que me procurou num momento de grande aflição. Tive uma noite dolorosa e venho agora pedir-lhe perdão.” (Carl Sandburg, Abraham Lincoln, The War Years, 4 vols., New York: Harcourt, Brace and Co., 1939, 1:514.)

Nossos missionários, jovens e casais de mais idade, trabalham pela paz mundial. E também as almas fiéis que os sustentam.

Como a Igreja que os envia, nossos missionários não dispõem de agenda política e nenhum programa específico de desarmamento ou redução de forças. Eles não apresentam petições, não advogam nenhuma legislação, não apoiam nenhum candidato. São servos do Senhor e o seu programa de paz mundial depende de retidão, não de retórica. Seus métodos envolvem arrependimento e reforma, não cartazes e demonstrações.

Pregando a retidão, nossos missionários procuram tratar as causas da guerra. Eles pregam o arrependimento da corrupção, da ganância e opressão pessoal, pois só pela reforma individual podemos vencer a corrupção e a opressão exercida por grupos ou nações. Convidando todos a se arrependerem e virem a Cristo, nossos missionários estão trabalhando pela paz neste mundo, pela mudança dos corações e comportamento da humanidade.

Na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, seguimos a receita prescrita pelo rei-profeta Benjamim. Ele ensinava que quem recebe a remissão dos pecados pela expiação de Cristo enche-se do amor de Deus e do conhecimento daquilo que é justo e verdadeiro. Essas pessoas não terão “desejo de injuriar-(se) uns aos outros, mas de viver em paz” com todo mundo. (Mosiah 4:13.)

Este é o nosso método, e salvação e paz para toda humanidade é nossa meta.

Jesus Cristo é o nosso Salvador. Ele nos ensinou como viver. Se o seguirmos e tivermos boa vontade para com todos os homens, teremos paz na terra.

Que Deus nos abençoe nesse grande esforço, eu oro em nome de Jesus Cristo, amém.