1990–1999
Mórmon Deveria Significar “Muito BOM”
October 1990


Mórmon Deveria Significar “Muito BOM”

Gostaria primeiramente de dizer que nossos corações estão voltados para a família do ex-Governador Scott Matheson (Utah), que faleceu esta manhã, um homem que muitos de nós conhecíamos e apreciávamos bastante. Oramos para que o Espírito do Senhor conforte aqueles que choram a sua perda.

Amados irmãos, saúdo-vos com carinho nesta bela manhã de domingo, quando nos reunimos no Tabernáculo, na Praça do Templo, e em milhares de edifícios da Igreja em todo o mundo, bem como em nossos lares. Esta é uma bela manhã de outono neste vale das montanhas, onde há quase um século e meio, depois de muito sofrimento, nossos antepassados pioneiros encontraram um lugar para adorar a Deus segundo os ditames de sua consciência. Como somos agradecidos pela paz que gozamos. Quão precioso é o privilégio de poder adorar o Pai Eterno como desejamos, embora respeitando os outros na forma de adoração que escolheram.

Reunimo-nos em nome do Senhor Jesus Cristo, o Salvador e Redentor da humanidade. Reunimo-nos como membros da Igreja que leva seu nome sagrado.

Muitos de nós nos sentimos perturbados com o costume dos meios de comunicação e de muitos outros, de ignorar completamente o verdadeiro nome da Igreja, usando o apelido “Igreja Mórmon”.

Há seis meses, em nossa conferência, Elder Russell M. Nelson proferiu um excelente discurso sobre o nome correto da Igreja. Ele citou as palavras do próprio Senhor:

“Pois assim será a minha igreja chamada nos últimos dias, mesmo A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.”(D&C 115:4.)

Ele falou dos vários elementos desse nome. Recomendo uma nova leitura desse discurso.

Igreja Mórmon, naturalmente, é um apelido, e os apelidos têm a tendência de pegar. Lembro-me de um versinho sobre um menino e seu nome:

Meu pai me chama William,

Minha irmã Will,

Minha mãe diz que eu sou Willie,

Mas para os amigos sou Bill.

(“Jest ‘Fore Christmas”)

Suponho que apesar de nossos esforços, talvez nunca convertamos o mundo ao uso geral do nome completo e correto da Igreja. Como a palavra mórmon é curta e fácil de ser pronunciada e escrita, continuarão a chamar-nos mórmons, Igreja Mórmon, e assim por diante.

Podia ser pior. Há mais de cinqüenta anos, quando eu era missionário na Inglaterra, disse para um dos meus conhecidos: “Como podemos fazer com que esta gente, incluindo nossos próprios membros, chamem a Igreja pelo seu verdadeiro nome?”

Ele replicou: “Nunca. A palavra mórmon está profundamente arraigada e é muito fácil de ser pronunciada.” E prosseguiu: “Já desisti de tentar. Embora eu seja agradecido pelo privilégio de ser um seguidor de Jesus Cristo e membro da Igreja que leva o seu nome, não tenho vergonha do apelido mórmon.”

“Sabe”, continuou ele, “se existe algum nome totalmente honroso em sua derivação, é o nome mórmon. Portanto, quando alguém me pergunta a respeito e quer saber o seu significado, respondo calmamente: ‘Mórmon significa muito bom’.” (O Profeta Joseph Smith declarou isto pela primeira vez em 1843; Times and Seasons, 4:194; Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, pp. 291-292.)

Tal declaração me deixou intrigado — Mórmon significa “muito bom”. Eu sabia, naturalmente, que “muito bom” não era um derivado da palavra mórmon. Já havia estudado tanto o latim como o grego, e sabia que o inglês é derivado em grande parte destas duas línguas, e que as palavras muito bom não são um cognato da palavra mórmon. Mas a atitude dele era positiva, e baseada numa percepção interessante. E, como sabemos, nossa vida é guiada em grande parte por nossas percepções. Desde então, quando vejo a palavra mórmon sendo usada nos meios de comunicação para nos descrever — seja num jornal, revista, livro ou o que for, me vem à mente essa declaração, que se tornou para mim um lema: Mórmon significa “muito bom”.

Talvez não consigamos mudar o apelido, mas podemos fazer com que brilhe mais intensamente.

Afinal de contas, é o nome de um profeta, um grande homem que lutou para salvar sua nação, e também o nome de um livro, um poderoso testamento da verdade eterna, uma testemunha genuína da divindade do Senhor Jesus Cristo.

Gostaria de falar da grandeza e bondade deste homem, Mórmon. Ele viveu neste continente americano, no quarto século depois de Cristo. Quando era jovem, com apenas dez anos, foi descrito pelo historiador do povo, cujo nome era Amaron, como “um menino sensato e de pronto entendimento”.(Mórmon 1:2.) Amaron deu-lhe o encargo de, ao alcançar os vinte e quatro anos de idade, tomar conta dos registros das gerações que o haviam precedido.

Os anos logo após a infância de Mórmon foram anos de terrível derramamento de sangue em sua nação, resultado de longa e terrível guerra entre os então chamados nefitas e os denominados lamanitas.

Mais tarde Mórmon se tornou o líder dos exércitos dos nefitas e testemunhou a carnificina de seu povo, deixando-lhes claro que deviam suas repetidas derrotas por terem esquecido o Senhor, que, por sua vez, os tinha abandonado. Sua nação foi destruída com o derramamento do sangue de centenas de milhares. Ele foi um dos vinte e quatro que sobreviveram. Ao olhar os restos do que antes havia sido legiões, clamou:

“O formoso povo, como pudestes vos apartar dos caminhos do Senhor? O formoso povo, como pudestes repelir aquele Jesus que tinha os braços abertos para vos receber?”(Mórmon 6:17.)

Ao se dirigir à nossa geração ele usou palavras de admoestação e súplica, proclamando com eloqüência seu testemunho do Cristo ressuscitado. Preveniu-nos das calamidades que viriam, se nos esquecêssemos dos caminhos do Senhor, como seu próprio povo havia feito.

Sabendo que sua própria vida logo chegaria ao fim, pois os inimigos estavam à caça dos sobreviventes, ele implorou que nós, em nossa geração, tivéssemos fé, esperança e caridade, declarando: “A caridade é o puro amor de Cristo e permanece para sempre; e todos os que forem achados em sua posse no último dia bem lhes irá.” (Morôni 7:47.)

Mórmon, o profeta líder, tinha essa bondade, força, poder, fé e capacidade de profetizar.

Foi o principal compilador do livro que recebeu seu nome e que surgiu nesta época da história do mundo como uma voz falando desde o pó, em testemunho do Senhor Jesus Cristo.

Esse livro influenciou para o bem a vida de milhões de pessoas que o leram com um coração sincero e meditaram em sua linguagem. Gostaria de falar-vos de uma dessas pessoas, que conheci recentemente, na Europa.

Era um comerciante, bem sucedido nos negócios. Numa de suas viagens conheceu dois de nossos missionários, que tentaram marcar uma visita, para ensinar-lhe o evangelho. De início ele recusou a recebê-los, mas por fim concordou. Aceitou apenas superficialmente o que os rapazes tinham a dizer. Estava convencido de que eles falavam a verdade, mas seu coração não foi tocado.

Ele decidiu que leria o Livro de Mórmon. Disse-me ter sido um homem mundano, não acostumado a chorar. Ao ler o livro, lágrimas verteram de seus olhos. O livro mexeu com os seus sentimentos. Leu-o novamente e sentiu as mesmas emoções. A conversão da mente havia se transformado em conversão do coração.

Seu modo de vida foi alterado, sua perspectiva mudada. Ele se atirou no trabalho do Senhor. Hoje cumpre um alto e santo chamado na causa que passou a amar.

E assim, embora eu às vezes lamente que as pessoas não chamem esta Igreja pelo nome verdadeiro, fico contente, pelo menos, em saber que o apelido que usam é honroso, graças a um homem admirável e um livro que nos dá um testemunho inigualável do Redentor do mundo.

Qualquer um que procurar conhecer o homem chamado Mórmon, lendo e ponderando seus escritos; qualquer que ler este precioso trecho de história, compilado e preservado em grande parte por este profeta, ficará sabendo que Mórmon não é uma palavra desonrosa, mas que representa o bem maior — o bem que vem de Deus. Foi o tradutor moderno deste registro antigo que declarou que através da sua leitura poderíamos aproximar-nos mais de Deus do que pela leitura de qualquer outro livro.

Tudo isto traz a nós, que pertencemos a esta Igreja e a esta geração, uma incumbência e uma responsabilidade muito grandes: de reconhecer que quando somos chamados de mórmons, devemos viver de modo tal que nosso exemplo possa intensificar a percepção de que mórmon pode significar verdadeiramente “muito bom”.

De que maneira? perguntaríeis. De muitas maneiras, mas só tenho tempo de mencionar três ou quatro. Quando penso nos assuntos mais óbvios, não posso deixar de lembrar o que chamamos de Palavra de Sabedoria. Este é um código divino de saúde, recebido por revelação em 1833, há 157 anos. Condena o álcool e o tabaco, o chá e o café, e enfatiza o uso de frutas e grãos. Esta Palavra de Sabedoria nos veio do Pai de nós todos, o Deus dos céus, para nossa bênção e para a bênção de todos os que a observam.

E pena que nós, como povo, não a observemos mais fielmente. São, porém, admiráveis as bênçãos que já recebemos, graças a um certo grau de observância. Os jornais do país recentemente apresentaram relatórios sobre um significativo estudo feito na Califórnia, conduzido pelo Dr. James Enstrom, da UCLA School of Public Medicine. Incluía um número substancial de membros ativos da Igreja — 5.231 sumos sacerdotes e 4.613 mulheres, suas esposas. Cito parte:

“Em comparação com outros grupos, o estudo relativo aos mórmons tinha uma média de 53 por cento a menos de casos fatais de câncer … 48 por cento a menos de mortes de doenças do coração e 53 por cento a menos de enfermidades fatais de todos os tipos. (Salt Lake Tribune, 12 de setembro de 1990.)

O Dr. Enstrom, falando desse seu estudo, que levou oito anos para ser feito, disse que pode “predizer que o mórmon de 25 anos de idade, do sexo masculino, ativo e cônscio da necessidade de cuidar de sua saúde, viverá 11 anos a mais do que o homem americano em geral, da mesma idade.” (Ibid., grifo nosso.)

Será que resta alguma dúvida de que a palavra mórmon, neste contexto, significa “muito bom”? Significa, em média, uma vida mais longa. Significa, em média, uma vida substancialmente mais livre de dores e misérias. Significa mais felicidade. Significa “muito bom”.

Naturalmente, parte de nosso povo sofre das mesmas doenças que afligem os outros. Alguns deles morrem cedo, mas existem dados científicos, que estão à disposição do mundo, de um estudo independente que levou oito anos para ser concluído, feito por um membro do corpo docente de uma das grandes universidades da nação, um reconhecido perito em saúde pública, que sabe o que fala.

Mórmon deveria significar “muito bom” também em termos de vida familiar, da mesma forma que em relação à saúde pessoal e pública.

Recentemente li um artigo bastante esclarecedor sobre a deterioração da família na Cidade de Nova York, descrita como a causa principal dos sérios problemas que afligem aquela cidade e quase todas as grandes cidades do mundo.

Está no fortalecimento da família o vigor de qualquer comunidade. O vigor de toda e qualquer nação está no fortalecimento de suas famílias. A vida familiar se fortalece com um entendimento religioso claro e convicto de quem somos, por que estamos aqui, e o que podemos vir a ser na eternidade. A vida familiar se fortalece com a percepção de que cada um de nós é um filho de Deus, nascido com atributos divinos e com um grande e significativo potencial. A vida familiar é fortalecida com pais que amam e respeitam um ao outro, e que amam, respeitam e educam seus filhos nos caminhos do Senhor. Estes são princípios básicos de nossos ensinamentos como igreja. Se observarmos tais ensinamentos, fortaleceremos nossas famílias, e a nação será fortalecida por nossos descendentes.

Falo de famílias onde orações diárias são proferidas, com a certeza de que Deus é nosso Pai Eterno e de que somos responsáveis perante ele por aquilo que fazemos de nossa vida.

Famílias cujos pais e filhos se aconselham mutuamente. Famílias nas quais a educação é encorajada e os filhos se edificam, fortalecendo-se mutuamente.

Estamos longe da perfeição no cumprimento de nossos deveres, mas, falando coletivamente, estamos tentando e conseguimos certo grau de sucesso.

Quando alcançamos as metas estabelecidas pela Igreja, mórmon significa “muito bom”.

Também significa mais tolerância, respeito mútuo e prestimosidade. Disse o Profeta Joseph Smith, falando em Nauvoo, em 1843:

“Os santos são testemunhas de minha disposição de dar minha vida pelos irmãos. Já ficou demonstrado que estou disposto a morrer por um (mórmon). E com destemor que declaro diante dos céus que estou tão disposto a morrer em defesa dos direitos de um presbiteriano, um batista, ou um homem bom de qualquer outra denominação; porque, qualquer princípio que abuse dos direitos dos santos dos últimos dias, abusa dos direitos de um católico romano, ou de qualquer outra denominação que possa ser malquista e muito fraca para se defender” (History of the Church, 5:498).

No domingo passado assisti a uma reunião sacramental em uma de nossas alas da universidade, uma ala inteiramente de jovens casais estudantes, que lutam para se formar, ao mesmo tempo que atendem às necessidades da vida familiar. Dois bebês, recentemente nascidos, foram abençoados por seus pais e receberam os nomes com os quais entraram nos registros da Igreja.

Senti-me tocado pelas orações desses jovens pais. Um deles, abençoou o filho recém-nascido para que durante toda a sua vida tivesse um espírito de amor a todas as pessoas, a despeito das circunstâncias ou condições de vida que possam levar. Abençoou-o para que fosse capaz de aprender a respeitar os outros, a despeito de raça, denominação religiosa, ou outras diferenças. Eu sei que este jovem pai, um estudante de medicina, tem desenvolvido em sua própria vida, como membro fiel desta Igreja, amor, apreciação e respeito por todos.

O povo desta Igreja, o povo da chamada Igreja Mórmon, tem dado generosamente de seus recursos para ajudar os necessitados. Meus pensamentos me levam a um certo domingo, há poucos anos, quando a Presidência da Igreja pediu a nosso povo que jejuasse duas refeições e consagrasse o valor equivalente, e mais, para ajudar os desabrigados e esfomeados em lugares da África onde não tínhamos membros, mas onde havia muita fome e sofrimento.

No domingo de manhã o dinheiro começou a chegar. De início foram centenas de dólares, depois milhares, centenas de milhares, e finalmente milhões de dólares. Estes fundos consagrados se tornaram um meio de salvar muitos que, de outra forma, podiam ter perecido de fome.

Não nos jactamos disto. Menciono o fato simplesmente como um exemplo de que Mórmon pode significar, e para muitos significa, “muito bom”.

A Sociedade de Socorro da Igreja, a Sociedade de Socorro Mórmon, que abrange mais de dois milhões de mulheres organizadas em mais de cem nações, tem como lema A Caridade Nunca Falha. São incontáveis os benefícios que prestam essas mulheres admiráveis, maravilhosas e abnegadas, socorrendo os aflitos, curando os feridos, levando alegria e conforto aos angustiados, alimentando os que têm fome, vestindo os desnudos, e ajudando a levantar os caídos, dando-lhes forças, incentivo e o desejo de continuar em frente.

Este coro admirável, sentado atrás de mim, é conhecido em todo o mundo como o Coro do Tabernáculo Mórmon. Em toda a parte onde tem sido ouvido — e são muitos os lugares — sua música tem sido um hino de paz, amor, reverência e humanidade, de louvor ao Todo-Poderoso e seu Filho Amado.

Seus componentes são uma parte, um segmento, desta coisa admirável que o mundo chama “mormonismo” e que nós chamamos de evangelho restaurado de Jesus Cristo.

Portanto, deixo convosco o pensamento simples, mas profundo: Mórmon significa “muito bom”.

Uma edição atual da revista Fortune, uma revista comercial altamente respeitada, apresenta um artigo de vanguarda classificando a Cidade do Lago Salgado número um na América para negócios. Este é um grande e singular cumprimento. Alguns acham que ele ajudará a atrair muitas pessoas novas para a comunidade. Para nós da Igreja, que aqui residimos, representa a maravilhosa oportunidade de demonstrar, por nossas atitudes, integridade, industriosidade e urbanidade, que somos gente do tipo que os outros apreciam.

Possa Deus garantir-nos a força e a disciplina de conduzir nossas vidas de forma tal a seguir mais de perto o exemplo inimitável do Redentor, de quem foi dito: “O qual andou fazendo bem.” (Atos 10:38.)

Eu testifico que ele realmente vive. Testifico que Deus, nosso Pai Eterno, vive. Testifico que o evangelho de Jesus Cristo foi restaurado nesta dispensação da plenitude dos tempos, testifico que o Livro de Mórmon é a palavra de Deus e que quando as pessoas usam o nome deste livro em referência a nós, estão nos elogiando, se vivemos de modo a sermos dignos dele, lembrando que num sentido muito real, mormonismo deve significar aquele bem maior que o Senhor Jesus Cristo exemplificou. Para isso oro em seu santo nome, o próprio nome de Jesus Cristo, amém.