Alegria e Misericórdia

Uma das maiores revelações de Deus é o ensinamento do Pai Léhi de que “os homens existem, para que tenham alegria” (2 Néfi 2:25). A alegria é muito mais que felicidade. Alegria é a suprema sensação de bem-estar. É o resultado de uma completa harmonia com nosso Criador e suas leis eternas.

O oposto de alegria é o tormento, que é muito mais que infelicidade, tristeza ou sofrimento. Tormento é o supremo estado de desarmonia com Deus e suas leis.

Alegria e tormento são emoções eternas, e é provável que não experimentemos seu clímax na mortalidade. Nesta vida há alguns simulacros, que chamamos de felicidade ou prazer, de infelicidade ou dor. No meio dessas emoções, está o sofrimento. Alguns sofrimentos resultam de nossos próprios pecados ou de pecados alheios, mas o sofrimento é simplesmente uma parte inevitável de nossa condição de mortais, assim como um ferimento acidental.

Um exemplo dos dois extremos emocionais ocorreu há dois anos. Durante uma excursão, um grupo de escoteiros santos dos últimos dias entrou em uma mina abandonada nas montanhas, não muito longe daqui. O jovem Joshua Dennis afastou-se do grupo e desapareceu na mina. Qualquer pessoa que já tenha perdido alguma coisa valiosa lembrar-se-á da sensação terrível de um momento assim. A dor é extremamente intensa, quando perdemos um ente querido. A família e os amigos de Joshua temiam tê-lo perdido para sempre.

Organizaram-se buscas. Durante dias, pessoas bondosas deixaram tudo que estavam fazendo para procurar o jovem desaparecido. Muitos partilhavam da dor de sua perda. Então, miraculosamente, ele foi encontrado. As orações foram respondidas, e a misericórdia de um Pai Celestial amantíssimo manifestou-se na felicidade da família e amigos que encontraram o menino. A dor da perda transformou-se na alegria maravilhosa da reunião. (Vide “Joshua Dennis: Um Tesouro de Fé”, A Liahona, agosto de 1991.)

Poucas experiências ilustram melhor os sentimentos de alegria do que a recuperação de algo precioso que temíamos ter perdido. As escrituras ilustram esta experiência. Na parábola da ovelha perdida, o pastor convidou os amigos a se regozijarem com ele, pois “achei a minha ovelha perdida” (Lucas 15:6). “Assim”, explicou Jesus, “haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende” (Lucas 15:7). Em outra parábola, um pai se rejubilou com a volta de um filho pródigo, explicando: “Porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se” (Lucas 15:32).

Estas são experiências simbólicas de nossa jornada eterna. A Queda nos separou do lar celestial. Precisamos escolher o caminho a seguir. Satanás, que foi separado de Deus e está para sempre perdido, gostaria de ver nossa separação tomar-se permanente também. O Pai Léhi ensinou que o propósito de Satanás é tornar miseráveis os homens. “Por ter caído do céu, tendo-se tornado miserável para sempre, (Satanás) procurou também a miséria de toda a humanidade” (2 Néfi 2:18; vide também o versículo 2 Néfi 2:27). Aqueles que cedem às tentações, estão a caminho do mesmo destino miserável que ele teve. Afastados da presença de Deus, eles ficarão em “um estado de miséria e tormento sem fim” (Mosiah 3:25; vide também 2 Néfi 2:5). Como disse o Senhor a respeito dos iníquos, “a miséria será seu quinhão” (Moisés 7:37).

Satanás incentiva a miséria por meio de perdas.

Ele experimentou esse tipo de miséria, quando perdeu seu primeiro estado. Agora tenta infligir perdas semelhantes àqueles que vieram para a mortalidade, o segundo estado. Satanás encoraja perda de virtude, perda de integridade, perda de reputação, perda de ideais, perda de amizades saudáveis, e mesmo perda de vida.

Nosso Pai Celestial, no entando, criou-nos para que resistamos a essas perdas e as sobrepujemos, sejamos perfeitos, tenhamos alegria. Ele quer que retornemos a ele, e proporcionou um meio pelo qual essa reunião se realizará. Não é à toa que dizemos que o seu evangelho é “uma voz de misericórdia dos céus… uma voz de alegria para os vivos e mortos; novas alegres de grande gozo” (D&C 128:19).

Nosso Criador deseja que sejamos felizes nesta vida. O Profeta Joseph Smith ensinou que “ã felicidade é o objetivo da nossa existência” (Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, p. 249). As coisas da terra foram criadas para nossa felicidade. A revelação moderna nos diz que “todas as coisas que provêm da terra… são feitas para o benefício e uso do homem, tanto para agradar aos olhos, como para alegrar o coração” (D&C 59:18). Mesmo no Dia Santificado, um dia de adoração, o Senhor espera que tenhamos “corações e rostos alegres” (D&C 59:15). Um profeta chamou o plano do evangelho de “o grande plano de felicidade” (Alma 42:8).

Como procuramos felicidade ou alegria? O Rei Benjamim convidou seu povo a considerar “o estado feliz e abençoado daqueles que guardam os mandamentos de Deus. Porque”, disse ele, “eis que são abençoados em tudo, tanto corporal como espiritualmente; e, se eles se conservarem fiéis até o fim, serão recebidos no céu, para habitar com Deus em um estado de alegria sem fim” (Mosiah 2:41).

O Pai Léhi explicou que, se Adão e Eva não tivessem passado pelo processo que denominamos Queda, teriam permanecido para sempre em seu estado inicial de inocência, “não tendo alegria, por não terem conhecido a miséria; não fazendo o bem, por não conhecer o pecado” (2 Néfi 2:23).

Nossos primeiros pais reconheceram este princípio. Quando o Espírito Santo desceu sobre eles e prestou testemunho do Pai e do Filho, Adão bendisse o nome do Senhor, declarando que “por causa de minha transgressão meus olhos foram abertos, e terei alegria nesta vida” (Moisés 5:10). Com discernimento inspirado, Eva explicou o propósito da vida e a fonte da alegria:

“Se não fosse pela nossa transgressão, jamais teríamos tido semente, jamais teríamos conhecido o bem e o mal, nem a alegria de nossa redenção, nem a vida eterna que Deus concede a todos os obedientes (Moisés 5:11).

Quando penso em felicidade ou alegria nesta vida, inicio com algumas experiências que são simples e básicas. Vejo a expressão do rosto de uma criança de um ano, dando aqueles primeiros passos. Lembro-me de um outro de dois anos de idade, imerso em um copinho de sorvete derretendo. Penso em uma criança segurando com amor um cãozinho ou gatinho.

Se as pessoas mais amadurecidas não estiverem com a sensibilidade física ou espiritual entorpecida pelo excesso ou pela falta de uso, poderão também experimentar alegria naquilo que é simples e básico — nas flores e outras dádivas da natureza, em um nascer ou pôr-do-sol, nas coisas belas da natureza, no companheirismo sadio.

Outra fonte de felicidade e alegria é a realização de metas dignas, que podem ser simples, como exercícios físicos, ou mais complexas, como a realização de uma tarefa árdua.

Outras metas têm significado eterno. Sua realização produz alegria nesta vida e a promessa de alegria eterna no mundo vindouro. Há algumas semanas, o Élder Rex D. Pinegar e eu vimos um exemplo disto, quando visitamos o templo de Cardston, Alberta, no Canadá, que foi reformado. Na sala das noivas, encontramos uma bonita jovem vestida com o traje nupcial. Estava lá por ter efetuado as escolhas corretas. A expressão de seus olhos e a aparência de seu rosto eram uma corporização perfeita da alegria.

A despeito de tudo que fizermos, não podemos ter uma plenitude de alegria neste mundo apenas por nossos próprios esforços. (Vide D&C 101:36.) Só em Cristo nossa alegria pode ser completa. Foi por isso que o anjo proclamou: “Trago novas de grande alegria, que será para todo o povo:

Pois… vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2:10-11).

Só poderemos ter uma plenitude de alegria, quando o espírito e o corpo estiverem inseparavelmente unidos na grandiosa ressurreição para a glória celestial. (Vide D&C 93:33; D&C 76:50-70.) Essa alegria, é claro, só advém da misericórdia do Santo Messias, cuja ressurreição quebrou as cadeias da morte e cuja expiação abriu as portas do reservatório de misericórdia, pela qual podemos ser purificados do pecado e voltar à presença de Deus, para receber a plenitude do Pai.

Alegremente proclamamos que “nenhuma carne pode habitar na presença de Deus, a menos que seja por meio dos méritos, misericórdia e graça do Santo Messias” (2 Néfi 2:8). A misericórdia de Deus é a única fonte da alegria definitiva e eterna, que restitui toda perda, enxuga toda lágrima, e apaga toda dor. A alegria eterna transcende todo o sofrimento. Nesta vida e na vindoura, essa alegria se realiza pela Ressurreição e pela remissão de pecados.

Lembrando-se de sua existência passada, Alma disse o quanto seus pecados o haviam “atormentado com as penas do inferno” (Alma 36:13). Ele disse que foi “atormentado pelas dores de uma alma condenada” (Alma 36:16). Lembrou detalhadamente os ensinamentos de seu pai a respeito do Salvador, que expiaria os pecados do mundo. E clamou: “Ó Jesus, Filho de Deus, tem misericórdia de mim” (Alma 36:18).

O milagre do perdão realizou-se em sua vida, e a dor amarga do pecado foi substituída pela doce alegria da redenção. Em suas próprias palavras: “Oh, que alegria e que luz maravilhosa vi então! Sim, minha alma se encheu de tanta alegria quanta havia sido minha dor.” (Alma 36:20.)

Alma aprendeu a verdade eterna de que a dor e a miséria resultantes do pecado só podem ser apagadas pelo arrependimento. A dor física termina com a morte. A dor espiritual, ou miséria, é eterna, a menos que nos arrependamos.

O Livro de Mórmon conta a respeito de todo um povo que recebeu a remissão dos pecados, e “os encheu de alegria” e “paz de consciência” (Mosiah 4:3). O Rei Benjamim lembrou-os de que haviam “recebido a remissão de (seus) pecados, o que (ocasionou) tão grande alegria em (suas) almas” (Mosiah 4:11).

A alegria que acompanha a remissão do pecado provém do Espírito do Senhor. (Vide Mosiah 4:3, 20). É o cumprimento da promessa do Senhor de que “te concederei do meu Espírito, o qual… encherá de alegria a tua alma” (D&C 11:13). Como ensinou o Apóstolo Paulo, “o fruto do Espírito é: o amor, gozo, paz” (Gálatas 5:22). Todos a recebem da mesma forma — o rico e o pobre, o preeminente e o obscuro. Ao conferir seu maior dom de misericórdia, por meio da Expiação, Deus não faz acepção de pessoas.

Aqueles, contudo, que cedem às tentações de Satanás, podem, como dizem as escrituras, “por um pouco de tempo ter o gozo do pecado” (Hebreus 11:25), mas esse tipo de prazer nunca leva à felicidade duradoura ou à alegria eterna. O espírito e a influência de Satanás produzem sentimentos de confusão, contenda, trevas, desordem, ira, ódio e miséria.

As pessoas que seguirem o caminho de Satanás receberão, com certeza, a miséria de Satanás. A menos que se arrependam, elas estarão “permanecendo com o pai das mentiras, em miséria, como ele” (2 Néfi 9:9). Como disse Alma ao seu filho extraviado: “Iniqüidade nunca foi felicidade” (Alma 41:10).

Nossas experiências pessoais e quase todos os noticiários e jornais nos lembram da infelicidade e dor existentes na terra. Parte dessa infelicidade pode ser atribuída ao pecado. Muitas cartas enviadas à sede da Igreja descrevem a dor que as pessoas infligem umas às outras, freqüentemente em relacionamentos familiares, que deveriam ser a fonte da maior alegria da vida.

Temos visto a dor de pais, quando os filhos se afastam do caminho da verdade. Temos visto a dor, quando uma esposa abandona a família e vai embora, em busca de prazeres em sendas proibidas, como uma mariposa voando para a chama. Temos visto a dor nos casos mais comuns, em que o marido abandona a mulher e os filhos, numa busca autodestrutiva de prazer.

Outro tipo de infelicidade resulta de um desejo ardente de poder e riqueza. Há algumas semanas, alguns irmãos e eu visitamos um país que havia sido dominado durante décadas por uma ditadura opressiva, recentemente derrubada. Vimos as condições produzidas por dirigentes que gratificaram seus desejos às custas do povo. Seus palácios eram um vergonhoso contraste com as moradias dos trabalhadores, construídas sem esgotos internos. Vimos em toda parte os horríveis efeitos da negligência dos serviços públicos. Verdadeiramente, os Provérbios declaram: “Quando o ímpio domina, o povo suspira” (Provérbios 29:2).

As conseqüências da iniqüidade têm longo alcance. Passam de geração em geração. As vítimas lastimáveis do abuso físico, sexual e emocional são mais suscetíveis às manipulações de Satanás. Elas têm maior probabilidade de perpetuar essas horríveis transgressões em seus próprios relacionamentos familiares. Como enfermidades físicas contagiosas, as doenças espirituais da luxúria, corrupção e cobiça espalham seus efeitos maléficos, e Satanás se regozija na infelicidade e dor que elas causam em cada geração.

Irmãos, idosos e jovens, suplico-vos que vos lembreis de que iniqüidade nunca foi felicidade e que o pecado leva à miséria. Jovens, não procureis a felicidade nas coisas cintilantes, mas vazias do mundo. Não podemos alcançar felicidade duradoura perseguindo as coisas erradas. Alguém disse, certa vez: “Nunca podereis obter o suficiente daquilo de que não precisais, porque aquilo de que não precisais não vos satisfará.”

Jovens e idosos, afastai os olhos e o coração das mensagens enganosas da mídia. Não há felicidade no álcool ou nas drogas, somente escravidão. Não há felicidade na violência, somente dor e tristeza. Não há felicidade nas relações sexuais e em familiaridades físicas fora dos laços do casamento, somente degradação e a intensificação do impulso que leva ao caminho da morte espiritual.

Não existe felicidade duradoura naquilo que possuímos. A felicidade e a alegria provêm do que a pessoa é, e não daquilo que ela possui ou parece ser. Jovens, apegai-vos aos padrões. Estudai e usai o folheto salvador, Para o Vigor da Juventude.

Retidão gera retidão. Os efeitos dos exemplos dignos serão sentidos nas gerações vindouras. Bons pais produzem jovens que serão bons pais. Da mesma forma que muitos temos sido fortalecidos pelos exemplos nobres de nossos ancestrais pioneiros em vários países, as escolhas corretas e os sacrifícios de nossos dias podem abençoar as famílias, os amigos e as nações por todos os anos vindouros.

Apreciamos o trabalho de nosso jornal Church News (Notícias da Igreja) e das revistas da Igreja, que publicam exemplos dignos e sadios para o fortalecimento de todos. Entristecem-nos os exemplos negativos realçados pela mídia e muitas outras comunicações públicas. Os exemplos são vigorosos. Devemos usá-los para edificar, não para destruir.

Testifico-vos da felicidade duradoura e alegria definitiva daqueles que exercitam a fé em Deus e guardam seus mandamentos. Recomendo-vos que procureis a alegria resultante da obediência aos mandamentos de Deus e da nossa influência virtuosa, para benefício daqueles que amamos.

Testifico da veracidade da promessa de Deus de que os fiéis “(entrarão) para o gozo do seu Senhor e (herdarão) a vida eterna” (D&C 51:19). Testifico de Deus, o Pai Eterno e de seu Filho Jesus Cristo, autores do grande plano de felicidade e misericórdia. É minha oração que possamos fazer as coisas indispensáveis à felicidade e paz nesta vida, e à alegria e vida eterna no mundo vindouro, em nome de Jesus Cristo, amém.