1990–1999
Uma Mesa Rodeada de Amor
Abril 1995


Uma Mesa Rodeada de Amor

Pensem no potencial de uma família ajoelhada ao redor de uma mesa (sem televisão), orando, rogando ajuda, agradecendo ao Pai as bênçãos recebidas.

Muito se tem escri­to sobre a impor­tân­cia do lar. O Élder Marion G. Romney disse que “no fundo dos males ­fatais da socie­da­de está a ins­ta­bi­li­da­de fami­liar”1 Reconhecemos que algu­mas casas são gran­des, muito bem equi­pa­das e até luxuo­sas. Outras são bem peque­nas e humil­des, com ins­ta­la­ções limi­ta­das. Ainda assim, como nos lem­bra um de nos­sos que­ri­dos hinos, “pode o lar ser como o céu, se nele exis­te amor; ( … ) onde é bom estar” (Hinos, 1991, nº 189).


Um dos ­móveis mais impor­tan­tes encon­tra­dos na maio­ria dos lares é a mesa da cozi­nha. Pode ser peque­na, gran­de, ou ter a forma de um peque­no bal­cão, com pouco espa­ço para a comi­da e os uten­sí­lios. Aparente­mente, sua fun­ção prin­ci­pal é ser o lugar onde os mem­bros da famí­lia se ali­men­tam.


Nesta oca­sião espe­cial, porém, dese­jo cha­mar a aten­ção de todos para uma uti­li­da­de supe­rior da mesa da cozi­nha, onde pode­mos rece­ber bem mais do que ape­nas ali­men­to para nosso bem-estar físi­co.


Uma famí­lia, geral­men­te, é com­pos­ta de duas ou mais pes­soas de ida­des dife­ren­tes, mas seus mem­bros pre­ci­sam reu­nir-se, de pre­fe­rên­cia não só para comer, mas para orar, con­ver­sar, ouvir e rela­tar ocor­rên­cias, apren­der e cres­cer jun­tos. O Presidente Gordon B. Hinckley rea­fir­mou isso cla­ra­men­te: “Meu apelo—e dese­ja­ria ser mais elo­qüen­te ao exter­ná-lo—é para que sal­ve­mos as crian­ças. Há crian­ças ­demais pade­cen­do de dor e medo, de soli­dão e deses­pe­ro. As crian­ças pre­ci­sam da luz do sol. Precisam de ale­gria. Precisam de amor e cui­da­dos. Precisam de bon­da­de, de con­for­to e de afei­ção. Todos os lares, inde­pen­den­te­men­te do valor mone­tá­rio da cons­tru­ção em si, podem pro­ver um ambien­te de amor que se trans­for­ma­rá num ambien­te de sal­va­ção.”2


A maio­ria dos mem­bros da famí­lia está sujei­ta às ­várias for­ças do mundo fora do lar, assim como à influên­cia do rádio, tele­vi­são, ­vídeos, músi­cas e mui­tas ­outras coi­sas que leva­mos para den­tro de casa.


Imaginem uma famí­lia reu­ni­da ao redor de uma mesa, tal­vez a mesa da cozi­nha, con­ver­san­do sobre o evan­ge­lho, comen­tan­do as men­sa­gens da reu­nião sacra­men­tal, falan­do da últi­ma Liahona, con­ver­san­do sobre a esco­la, con­ver­san­do sobre a con­fe­rên­cia geral, dis­cu­tin­do algu­ma lição da Escola Dominical, ouvin­do boa músi­ca, con­ver­san­do sobre Jesus Cristo e Seus ensi­na­men­tos. A lista pode­ria ser maior. Não só os pais, mas todos os mem­bros da famí­lia agi­riam sabia­men­te ao per­mi­tir que todos os pre­sen­tes tives­sem ampla opor­tu­ni­da­de de par­ti­ci­par.


Pensem no poten­cial de uma famí­lia ajoe­lha­da ao redor de uma mesa (sem tele­vi­são), oran­do, rogan­do ajuda, agra­de­cen­do ao Pai as bên­çãos rece­bi­das—ensi­nan­do a pes­soas de todas as ida­des a impor­tân­cia de ter­mos um Pai Celestial amo­ro­so. A ora­ção fami­liar junto com as crian­ças pode muito bem desen­vol­ver adul­tos que algum dia esta­rão oran­do com sua pró­pria famí­lia.


O Presidente Thomas S. Monson rea­fir­mou isso com cla­re­za: “O Senhor orde­nou que faça­mos ora­ção em famí­lia, quan­do disse: ‘Orai ao Pai no seio de vossa famí­lia, sem­pre em meu nome, a fim de que vos­sas mulhe­res e vos­sos ­filhos sejam aben­çoa­dos.’ (3 Néfi 18:21)


Observemos uma típi­ca famí­lia de san­tos dos últi­mos dias ofe­re­cen­do ora­ções ao Senhor. Pai, mãe e todos os ­filhos ajoe­lham-se, bai­xam a cabe­ça e ­fecham os olhos. Um doce espí­ri­to de amor, união e paz enche a casa. Imaginemos o pai ouvin­do seu peque­no filho pedir a Deus que seu pai sem­pre faça o que é certo e seja obe­dien­te aos man­da­men­tos. Será que esse pai acha­rá difí­cil hon­rar a ora­ção de seu pre­cio­so filho? Imaginemos uma ado­les­cen­te ouvin­do sua mãe supli­car ao Senhor que a filha seja ins­pi­ra­da ao sele­cio­nar os ami­gos e que se pre­pa­re para o casa­men­to no tem­plo. Será que essa filha não pro­cu­ra­rá hon­rar a humil­de súpli­ca da mãe que tanto ama? Quando pai, mãe e cada um dos ­filhos oram sin­ce­ra­men­te para que os bons ­filhos ­homens da famí­lia vivam de manei­ra digna, de modo a, no devi­do tempo, rece­be­rem o cha­ma­do de embai­xa­do­res do Senhor no campo mis­sio­ná­rio da Igreja, não come­ça­mos a ver como esses ­filhos cres­cem com um enor­me dese­jo de ser­vir como mis­sio­ná­rios?”3


Como mui­tos já dis­se­ram: “De modo algum ­podeis dei­xar vos­sos ­filhos e pais saí­rem de casa dia­ria­men­te para o mundo, sem se reu­ni­rem para con­ver­sar com o Senhor.” Os pais pru­den­tes devem exa­mi­nar seus horá­rios e esta­be­le­cer que, no míni­mo uma vez por dia, toda a famí­lia se reu­ni­rá para as bên­çãos da ora­ção. Os meno­res apren­dem rapi­da­men­te a fazer a ora­ção e pas­sam a conhe­cer os valo­res pre­cio­sos da ora­ção fami­liar.


Eu já disse antes que “o lar deve ser um lugar feliz, pelo esfor­ço de cada um em mantê-lo assim. Afirma-se que a feli­ci­da­de come­ça em casa, e deve­mos esfor­çar-nos para fazer do lar um lugar feliz e agra­dá­vel para nos­sos ­filhos. Um lar feliz é cen­tra­li­za­do nos ensi­na­men­tos do evan­ge­lho. Isso ­requer esfor­ço e dedi­ca­ção cons­tan­tes de todos os que dele fazem parte.”4


Um ado­les­cen­te que tinha uma vida bas­tan­te ocu­pa­da, certa vez quei­xou-se do tempo gasto com ora­ções fami­lia­res. A mãe, muito sábia, ao orar no dia seguin­te, ⌦inten­cio­nal­men­te omi­tiu o nome daque­le filho. Ao fim da ora­ção, o filho per­gun­tou: “Mãe, e eu? Fico fora da ora­ção?” A mãe expli­cou que esta­va ape­nas aten­den­do a sua recla­ma­ção. O filho quei­xou-se: “Não me deixe de fora.”


Vizualizemos uma famí­lia em volta de uma mesa, com as escri­tu­ras aber­tas, dis­cu­tin­do diver­sas ver­da­des e ­lições. Essa, de fato, é uma mesa rodea­da de amor!


Os edu­ca­do­res con­cor­dam que as crian­ças pre­ci­sam ler muito mais fora das esco­las. Podemos aben­çoar nos­sos ­filhos lendo as escri­tu­ras com eles dia­ria­men­te—na mesa da cozi­nha.


Arranjar tempo para reu­nir-se à mesa da cozi­nha pode reque­rer da famí­lia con­si­de­rá­veis ajus­tes e um pla­ne­ja­men­to deta­lha­do, mas o que pode­ria ser de maior impor­tân­cia para a união da famí­lia, para seu cres­ci­men­to espi­ri­tual, para as pon­tes que ligam os fami­lia­res enquan­to con­ver­sam, ouvem e opi­nam, todos cer­ca­dos de amor? Nosso maior suces­so resi­de sim­ples­men­te em ten­tar­mos—vez após vez.


Há mui­tas for­ças no mundo hoje pro­cu­ran­do dizi­mar a famí­lia e o lar. Os pais inte­li­gen­tes devem lutar para for­ta­le­cer seus laços fami­lia­res, aumen­tar a espi­ri­tua­li­da­de den­tro de casa e con­cen­trar-se em Jesus Cristo e na fre­qüên­cia ao tem­plo. O Presidente Howard W. Hunter disse-nos:


“Oro para que nos tra­te­mos uns aos ­outros com mais bon­da­de, cor­te­sia, humil­da­de, paciên­cia e per­dão. ( … ) Exorto os mem­bros da Igreja a faze­rem do tem­plo do Senhor o gran­de sím­bo­lo de sua vida e o local supre­mo de seus mais sagra­dos con­vê­nios. O meu mais pro­fun­do dese­jo é que todos os mem­bros da Igreja se tor­nem dig­nos de ­entrar no tem­plo.”5


A orien­ta­ção do Presidente Hunter pode ser real­ça­da pelo ⌦que acon­te­ce em volta da mesa da cozi­nha.


Em nosso lar, deve­mos trei­nar como tra­tar os ­outros. Como Goethe tão bem disse: “Se tra­tas [um indi­ví­duo] como ele é, ele per­ma­ne­ce­rá como é, mas se o tra­tas como ele [pode] e [tem capa­ci­da­de] de ser, ele se tor­na­rá o que deve ser.”6


O Presidente Boyd K. Packer decla­rou: “Introduzir algu­mas coi­sas celes­tiais no lar é garan­tir a trans­for­ma­ção gra­dual dos mem­bros da famí­lia em mem­bros ati­vos da Igreja. A noite fami­liar é, com cer­te­za, des­ti­na­da a esse pro­pó­si­to—uma reu­nião feita no lar, pas­sí­vel de ser pla­ne­ja­da de modo a aten­der às neces­si­da­des de cada um, e que é, ou ­melhor, pode ser, uma reu­nião reli­gio­sa tanto quan­to as reu­niões da cape­la.”7 Este con­se­lho tam­bém con­cor­da com o que o Élder Dean L. Larsen nos disse: “Nossas cape­las não são o único lugar em que se pode ado­rar. Nossa casa deve ser igual­men­te um lugar de devo­ção. Seria bom se todos os dias pudés­se­mos vol­tar para nossa ‘igre­ja domés­ti­ca’. Não deve­ria haver outro lugar em que o Espírito do Senhor fosse mais bem rece­bi­do e mais facil­men­te aces­sí­vel do que em nosso lar.”8


Ao tra­ba­lhar­mos para rea­li­zar tudo isso no lar, seria bom lem­brar-nos da impor­tan­te decla­ra­ção do Presidente Harold B. Lee: “O tra­ba­lho mais impor­tan­te do Senhor que ­fareis, será den­tro das pare­des de vosso pró­prio lar.”9


Meu apelo de hoje é que cada um de nós este­ja aten­to ao pró­prio lar e à mesa da cozi­nha, e esfor­çan­do-se con­ti­nua­men­te para esta­be­le­cer o céu den­tro de sua casa e vindo a Jesus Cristo. Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9


  1. A Liahona, outu­bro de 1972, p. 8.