1990–1999
Com Fé a Cada Passo
Abril 1997


Com Fé a Cada Passo

Daqui a muito tempo, nossos netos irão contar, maravilhados, a história de nossas decisões que mudaram a vida deles. Vocês serão chamadas de pioneiras por eles.

Anna Matilda Anderson era uma menina que morava na Suécia por volta de 1880. Quando ela e sua família filiaram-se à Igreja, foram ridicularizadas por sua crença. A mãe de Anna decidiu que eles se mudariam para os Estados Unidos e se reuniriam aos santos de Utah. Anna tinha onze anos quando ela e sua irmã Ida foram enviadas na frente para ganhar dinheiro e ajudar o restante da família a viajar para os Estados Unidos. Elas viajaram primeiramente de navio e depois pegaram o trem para Ogden, Utah. Ida partiu dali num carroção, para trabalhar em Idaho, para as pessoas que patrocinaram sua viagem. Anna ficou completamente sozinha no trem e seguiu viagem até Salt Lake City. Ela não falava inglês e não conhecia ninguém. Podem imaginar a solidão e o medo que sentiu naquela viagem?

O trem parou pouco antes da meia-noite na estação Rio Grande, que estava escura. O parente que deveria ter ido encontrar-se com Anna não estava lá. Anna ficou olhando, apavorada, a estação esvaziar-se aos poucos. Por fim, ficou sozinha com uma família alemã que também não fora recepcionada por ninguém. A escuridão era ameaçadora e parecia envolvê-la gradativamente. Ela relembrou, mais tarde: “Comecei a chorar e pensei na última coisa que minha mãe me dissera quando parti: ‘Se chegar a um lugar em que não compreenda o que as pessoas estão dizendo, não se esqueça de orar ao Pai Celestial, pois Ele a compreende.’” Anna ajoelhou-se ao lado de sua mala e pediu de todo o coração o auxílio divino. Quem já não passou por uma experiência assim?

A família alemã fez sinal para que Anna os acompanhasse. Não tendo outra escolha, ela seguiu-os, chorando. Chegando à Praça do Templo, ouviram passos apressados. Uma mulher vinha correndo na direção deles, olhando cada pessoa ao passar. A mulher olhou a família alemã e seguiu adiante. Seu olhar, então, ateve-se em Anna. Parou, atônita. Havia reconhecido a menina! Para sua surpresa, Anna também a reconheceu. Era sua professora da Escola Dominical que havia partido da Suécia um ano antes! Abraçando a menina com força, a professora enxugou-lhe as lágrimas de medo. Disse, então, a Anna: “Acordei diversas vezes ( … ) tendo na mente imagens dos imigrantes que chegavam. Não consegui dormir mais. Senti que devia vir até o templo para ver se encontrava alguém conhecido”. (Diário de Anna Matilda Anderson)

Podem acreditar? Uma professora da Escola Dominical foi enviada no meio da noite como um anjo de luz! “Como vêem”, relembra Anna, “o Pai Celestial fez muito mais do que simplesmente responder a minhas orações. Pedi apenas que encontrasse alguém que pudesse me compreender, e Ele enviou-me alguém que eu conhecia.”

Anos depois, Anna explicou como conseguiu empreender sozinha aquela incrível jornada: sua fé no Senhor deu-lhe a certeza de que algo melhor a esperava adiante. Isso deu-lhe a coragem de cruzar o oceano sem a mãe, orar a seu Pai Celestial quando se viu perdida e caminhar até o templo, que considerava um lugar seguro. Anna caminhou para o desconhecido e deixou uma trilha para que outros a seguissem. Um dos que seguiram seus passos cheios de fé foi meu marido. Anna era a avó dele.

Deve ter sido apavorante fazer o que Anna fez. Mesmo que ela não soubesse, estava abrindo corajosamente uma trilha para quem estivesse para vir. Anna era uma pioneira. Um pioneiro luta pelo que é certo, ousa falar do evangelho, apesar da oposição, e dá testemunho de Cristo por meio de suas ações. Assim como fez Anna.

Conseguem imaginar-se no lugar de Anna? Talvez sintam o mesmo entusiasmo pelo evangelho ou, quem sabe, o medo do desconhecido. Todas precisamos empreender jornadas de fé. Esse é o plano do evangelho. Nosso caminho pode não nos levar a cruzar o oceano ou sair sozinhas de uma estação ferroviária vazia. Mas, seja qual for, exigirá fé a cada passo. Daqui a muito tempo, nossos netos irão contar, maravilhados, a história de nossas decisões que mudaram a vida deles. Vocês serão chamadas de pioneiras por eles. Já se deram conta de que, quando caminham para o desconhecido, assim como Anna, estão mostrando o caminho para outras pessoas? Vou contar-lhes alguns detalhes da vida de outras jovens, que ilustram as experiências dos primeiros pioneiros.

Ruth May Fox disse: “Ao chegar o momento de partirmos da Inglaterra, eu estava no sétimo céu ( … ) Saímos de nossa casa quando ainda estava escuro, para evitar a curiosidade dos vizinhos. Podem imaginar algo mais emocionante?” [Susan Arrington Madsen, I Walked to Zion: True Stories of Young Pioneers on the Mormon Trail (Andei até Sião: Histórias Verídicas de Jovens Pioneiros que Percorreram a Trilha Mórmon), 1994, p. 30.] O espírito pioneiro é cheio de aventuras!

Margaret Gay Judd Clawson escreveu: “Havia vários rapazes muito bons em nossa companhia. Especialmente um deles, que costumava dizer-me coisas muito amáveis: Disse-me que eu era bonita e inteligente. Chegou até mesmo a dizer que eu era simpática, algo de que nunca me acusaram antes”. [I Walked to Zion (Andei até Sião), p. 144.] Já foram acusadas de serem simpáticas ou agradáveis? Que grande elogio!

Margaret McNeil Ballard relembra: “Andei cada passo da jornada através das planícies conduzindo uma vaca e, por boa parte do caminho, carreguei meu irmão James nas costas”. [I Walked to Zion (Andei até Sião) p. 126.] Muitas de vocês carregam nos ombros a responsabilidade de cuidar de seus irmãos, com carinho e vigor.

Que me dizem do ponto de vista de Susan Noble Grant? “Oh, crianças, não sabem o quanto éramos felizes, mesmo durante os dias de nossas maiores tribulações! Apesar de muito jovem, eu sabia que o evangelho havia sido restaurado. Ouvi mais de uma vez Joseph Smith declarar que nosso Pai Celestial e Seu Filho Jesus, o Salvador ressuscitado, haviam aparecido a ele e conversado com ele ( … ) Nunca me esqueci de seu testemunho. E depois que eu morrer, quero que contem isso a seus filhos e netos”. [I Walked to Zion (Andei até Sião, p. 98.) Que grande legado! Nós também já ouvimos um profeta falar.

Essas histórias são muito diferentes das que vocês escrevem em seus diários, hoje em dia? Quantas de nós poderíamos fazer o mesmo que Anna fez? Creio que todas podemos. Por quê? Demonstramos nossa fé pelas decisões corajosas que tomamos todos os dias. O Presidente Harold B. Lee deu um conselho maravilhoso aos pioneiros modernos: “Andem até o limite da luz e depois, talvez, dêem alguns passos para dentro da escuridão, e então verão que a luz irá surgir e iluminar o caminho à frente”. [Conforme citado pelo Élder Boyd K. Packer in Lucile C. Tate e Boyd K. Packer, A Watchman on the Tower (Uma Atalaia na Torre), 1955, p. 138] Devemos caminhar pela fé. Isso significa caminhar alguns passos para dentro da escuridão desconhecida, porque acreditamos que o Pai Celestial nos estará esperando de braços abertos, da mesma forma que a professora da Escola Dominical de Anna.

Nossa oração, nesta noite, é que todas encontremos força nesse espírito pioneiro. Olhem-se no espelho, hoje à noite. Irão ver uma pessoa especial, forte e corajosa. Uma pioneira. Guardem essa impressão. Da mesma forma que Anna e milhares de outras pessoas, vocês estão caminhando à frente, mostrando destemidamente a seus entes queridos o caminho a seguir. Que tenhamos sempre fé a cada passo é minha oração, em nome de Jesus Cristo. Amém. 9