1990–1999
Época de Oportunidades
Outubro 1998


Época de Oportunidades

É a época de estendermos a mão para tocar a vida de alguém; época ⌦de nos comprometermos a santificar o Dia do Senhor e de ajudarmos ⌦a manter a luz de nossos templos bem acesas.

Recentemente, em uma reunião sacramental, uma bela jovem sugeriu que um bom discurso deveria começar com alguma coisa engraçada e de bom gosto ou com uma mentira óbvia. Meu talento humorístico é praticamente inexistente, mas digo com absoluta sinceridade que estou totalmente à vontade e não sinto medo nenhum diante deste púlpito.

Com o término da recente comemoração do sesquicentenário, nosso caro profeta redirecionou nossa atenção dizendo: “É chegada agora a hora de voltarmos os olhos para o futuro. Esta é uma época de imensas oportunidades. Podemos aproveitar essas oportunidades e seguir avante. Que época maravilhosa para cada um de nós fazer sua pequena contribuição para o avanço da obra do Senhor na direção de seu magnífico destino”. [Gordon B. Hinckley, Conference Report (Relatório da Conferência Geral), outubro de 1997, pp. 90–91; ou A Liahona, janeiro de 1998, p. 77.]

Todos enfrentamos dificuldades na vida diária, mas é nas dificuldades que estão algumas de nossas melhores oportunidades. Quando reconhecemos e nos valemos de nossas oportunidades, o resultado é o progresso, felicidade e crescimento espiritual.

Precisamos envolver-nos ativamente em levar a obra do Senhor adiante. Ainda que nossas oportunidades sejam inúmeras, falarei somente de algumas. Diversas vezes, deste púlpito, lembraram-nos de guardar plenamente o Dia do Senhor. Se não estivermos santificando o Dia do Senhor, hoje é um ótimo dia para assumirmos o compromisso, aproveitarmos a oportunidade, para recebermos as bênçãos prometidas que advêm de guardar o Dia do Senhor.

Muitos acham que a expressão “Dia do Senhor” é sinônimo de “dia de diversão”. Um amigo meu, que gerencia várias lojinhas em comunidades majoritariamente mórmons, disse-me que sabe o exato momento em que as reuniões de domingo terminam, pois o aumento no número de clientes é marcante. As diversas formas de recreação existentes tornaram-se o que há de mais importante no domingo.

Quando a irmã Burton e eu éramos recém-casados, morávamos no sudeste do Vale do Lago Salgado. Certa ocasião, quando estávamos fazendo compras em uma merceariazinha de bairro, vimos o Presidente Joseph Fielding Smith e a esposa fazendo compras ali. Depois de ver a mesma coisa acontecer diversas vezes, acabei criando coragem para perguntar ao Presidente Smith por que ele vinha do centro da cidade, passando por dúzias de mercearias, para fazer compras ali. Ele olhou por cima dos óculos e respondeu categoricamente: “Meu filho”, dei-lhe atenção imediatamente, “a irmã Smith e eu apoiamos os estabelecimentos que santificam o Dia do Senhor”.

Não há novidade no conselho de que é preciso reverenciar o Dia do Senhor. Hoje não estamos escutando nada que gerações passadas não tenham escutado dos profetas de sua época e que os profetas de nossos dias não tenham reafirmado inúmeras vezes. As escrituras modernas trazem a seguinte admoestação: “E para que mais plenamente te conserves limpo das manchas do mundo, irás à casa de oração e oferecerás teus sacramentos no meu dia santificado; porque em verdade este é um dia designado para descansares de teus labores e prestares tua devoção ao Altíssimo”. (D&C 59:9–10)

Sei que, principalmente para os jovens, é difícil resolver guardar o Dia do Senhor, considerando-se que os times em que eles mais querem jogar sempre marcam partidas para os domingos. Sei muito bem que para muitos parece irrelevante parar numa loja de conveniência aos domingos e comprar uma coisinha ou outra de que precisam. Entretanto, também sei que se lembrar de santificar o Dia do Senhor é um dos mandamentos mais importantes que devemos guardar para nos prepararmos para escutarmos os sussurros do Espírito.

Esta é uma época de oportunidades para as famílias viverem integramente para serem contadas com os fiéis que obedecem ao quarto grande mandamento: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus ( … )”. (Êxodo 20:8–10)

Há alguns anos, o Presidente Hinckley respondeu a uma observação a respeito do número de dedicações e rededicações de templos dos quais tinha participado como Autoridade Geral. Disse que gostaria de continuar envolvido com a dedicação de templos até que tivéssemos, no mínimo, 100 templos em funcionamento. Quando ouvi o que disse, não pude deixar de fazer umas continhas e percebi que o total de templos em funcionamento mais o número de templos projetados ou em construção na época era muito inferior a 100. Como o Bispado Presidente é responsável por supervisionar a construção dos templos que são anunciados, lembro-me com toda clareza de ter dito ao profeta: “Presidente, peço ao Senhor que o abençoe com muita longevidade”.

Eu nem imaginava que talvez, naquele momento, nosso Profeta estivesse recebendo inspiração dos céus para pensar em como proporcionar mais oportunidades de que as famílias fiéis da Igreja participassem das bênçãos relativas à adoração no templo. Chorei de alegria, como vocês, quando, na conferência geral de abril passado, ouvimos o Presidente Hinckley dizer: “( … ) Nos últimos meses estivemos viajando por lugares distantes para reunir-nos com os membros da Igreja. Estive com muitas pessoas que possuem bem poucos bens materiais. Mas elas têm no coração uma grande e ardorosa fé no trabalho destes últimos dias. Elas amam a Igreja. ( … ) Amam o Senhor e desejam cumprir a vontade Dele. Estão pagando o dízimo, por menor que seja. Estão fazendo sacrifícios enormes para ir ao templo. Viajam vários dias em ônibus desconfortáveis e barcos velhos. Economizam dinheiro e passam necessidade para que isso seja possível. Essas pessoas precisam de templos ( … ) próximos de onde moram. Tendo isso em vista, aproveito esta oportunidade para anunciar a toda a Igreja o projeto de construirmos imediatamente cerca de 30 templos pequenos. ( … ) Acrescentando-se os 17 edifícios que já estão em construção ( … ) teremos um total de 47 templos novos, além dos 51 que já se encontram em funcionamento. Acho melhor acrescentarmos mais dois para que tenhamos um número redondo de cem templos, no final deste século ( … )”. [Conference Report (Relatório da Conferência Geral), abril de 1998, p. 115; ou ⌦A Liahona, julho de 1998, p. 98.]

No início desta dispensação, nossos antepassados foram abençoados com a oportunidade de fazerem grandes sacrifícios para construir templos. Eles doaram generosamente parte do pouco dinheiro que tinham, bem como o trabalho de suas próprias mãos. Quando o templo de Kirtland e, depois, o de Nauvoo ficaram prontos, os santos fizeram muito sacrifício. Foram abençoados de acordo com o que fizeram. Depois da migração dos santos para o alto das montanhas, começaram a aparecer templos em diversos lugares do oeste dos EUA. O projeto de cada templo implicava em muito sacrifício. As bênçãos prometidas por Deus aguardavam os que se valiam da oportunidade de tomarem parte na construção dos templos.

As oportunidades que o serviço no templo nos reserva atualmente são diferentes das que havia no passado. Não se espera que usemos o martelo, cortemos pedras, serremos tábuas, viremos concreto ou façamos o trabalho braçal da construção dos templos. Temos, porém, a excelente oportunidade de pagar o dízimo fielmente para que o trabalho de construção de templos e a obra do Senhor continuem a progredir. Temos também o desafio de ser dignos de oferecermo-nos para realizar as ordenanças salvadoras pelos falecidos. Em poucas palavras, a maior oportunidade das famílias da Igreja é fazer com que a luz de nossos templos fique acesa desde cedo até tarde. Poderíamos fazer com que fosse necessário que elas ficassem acesas a noite inteira, como acontece nos finais de semana em vários templos.

Há alguns anos, uma grande empresa de comunicação usou esta frase em uma propaganda: “Estenda a mão e toque alguém”. O Presidente Hinckley lembrou-nos várias vezes das muitas oportunidades que temos de estender a mão e tocar alguém. Falando das pessoas que se juntaram a nós há pouco tempo, tratou da necessidade de estendermos a mão e tocá-las com amor e amizade; as pessoas que se sentem isoladas precisam de um toque de incentivo, amor incondicional e de muito perdão. É preciso que os vizinhos, conhecidos e amigos que não são de nossa fé ⌦sejam tocados pelo Espírito Santo graças ao que dizemos e fazemos.

Recentemente, em uma reunião de treinamento dos conselhos de estaca e ala, que era parte de uma conferência de estaca da qual participei, houve apresentações bem preparadas que tinham como tema as oportunidades de “incluirmos” em vez de “excluirmos”, de estendermos a mão e tocarmos as pessoas novas e as menos ativas, bem como as que não são membros de nossa Igreja. A irmã Laura Chipman, presidente das Moças da estaca, sugeriu cinco passos para ajudar-nos a “incluirmos” quando entramos em contato com alguém. Eles são: (1) Introspecção: Será que, sem perceber, estamos passando uma atitude que faz ⌦as pessoas se sentirem excluídas? ⌦(2) Identificação: Conhecemos os recém-batizados, os menos ativos e os não-membros que moram em nosso bairro ou comunidade? 3. Sermos pessoais: Será que sabemos quais são os interesses, talentos e habilidades das pessoas a quem queremos integrar? 4. Convite: Incluímos os ⌦vizinhos e amigos em atividades adequadas? 5. Envolvimento: Haveria algum meio de aproveitarmos as habilidades e talentos das pessoas a quem queremos incluir?

Há pouco tempo, fui ao funeral de um amigo de infância. Esse irmão tinha uma deficiência genética congênita. Conseguia compreender conceitos muito bem, mas não sabia ler nem escrever. Sua fala era limitada a um número bem pequeno de palavras inteligíveis e a seu vocabulário particular. Algumas pessoas de nosso grupo conseguiam compreender algumas das palavras que ele dizia. Contudo, normalmente sabíamos pelo tom de voz se ele estava externando suas preocupações ou sua grande capacidade de amar. Lynn passou grande parte da infância em uma escola especial distante de casa. Passava o verão e muitos feriados em casa com a família. Nos últimos 17 anos, Lynn, que havia vivido mais do que todos os familiares, morava em uma clínica que podia atender melhor a suas muitas necessidades.

Quando Lynn morreu, um de seus melhores amigos tomou as providências para que o funeral fosse feito em uma capela que havíamos freqüentado na infância. Seus melhores amigos e funcionários da clínica compareceram ao funeral; estavam presentes também alguns membros da ala que o conheceram havia muitos anos e, talvez, uns doze amigos de infância com a família. Vários irmãos da Igreja, que permaneceram próximos a Lynn em sua longa e, muitas vezes, solitária permanência na clínica, fizeram ternos discursos.

Todos nós refrescamos a memória no decurso da cerimônia. Um amigo lembrou-se de uma ocasião em que o professor da Escola Dominical nos convidou a prestar o testemunho em aula. Chamou-nos um por um, mas pulou Lynn, talvez por achar que ele não tivesse entendimento para fazer o que se pedia. Com a maior manifestação de justa indignação de que era capaz, ele disse ao professor que esperava ter a oportunidade de se expressar. Apesar de não entendermos muito do que disse, sentimos seu amor e sentimos a profundidade de um espírito magnífico tragicamente preso a um corpo que não funcionava bem. Como foi intenso o espírito que sentimos na classe!

À medida que os funcionários e bons amigos da clínica expressavam o amor incondicional que tinham por Lynn, ficou claro que, modestamente, ele havia estendido a mão e tocado a vida dessas pessoas. No decurso do funeral, ficou patente que, pelo menos três ou quatro amigos de infância e a família haviam estendido a mão para cuidar de Lynn, fazendo coisas como visitá-lo sempre, dar longos passeios de carro, convidá-lo para jantar ou para ocasiões especiais como um aniversário ou uma festa.

Depois das histórias e lembranças, todos percebemos que nosso bondoso amigo deficiente tinha dado a nós e às famílias excelentes e compassivas que lhe estenderam a mão com amor algo muito mais valioso do que tudo o que havia recebido.

É verdade que esta é mesmo uma época de muitas oportunidades. É a época de estendermos a mão para tocar a vida de alguém; época de nos comprometermos a santificar o Dia do Senhor e de ajudarmos a manter a luz de nossos templos bem acesas, para citar pouquíssimas coisas. Testifico que o Pai Celestial e Seu Filho, nosso Salvador e Redentor, vivem, amam-nos incondicionalmente e desejam ardentemente que agarremos as oportunidades que nos proporcionam. Reconheço e expresso o amor que tenho a nosso querido profeta, que, com muita devoção, empunha nossa bandeira com coragem e grandeza. Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9