1990–1999
O Inspirado Programa de Bem-Estar da Igreja
April 1999


O Inspirado Programa de Bem-Estar da Igreja

O Salvador, que nos deu o modelo, alegra-Se com quem “em todas as coisas [lembra-se] dos pobres e necessitados, dos doentes e dos aflitos”

Amados irmãos, que lindo dia de Páscoa é hoje! Refletindo sobre a vida do Salvador e Sua ressurreição, vem-me sempre à mente a imagem das pessoas que Lhe pediram ajuda. É fácil imaginar o homem de pernas deformadas, que nunca andou, ou as lágrimas rolando pela face da viúva que acompanha o corpo do único filho que vai sendo carregado para o sepulcro. Vejo os olhos baços dos famintos, as mãos trêmulas dos doentes, a voz suplicante dos condenados, o olhar desolado dos banidos. Todos buscando um homem solitário, sem riquezas, sem casa e sem posição social.

Vejo esse homem, o Filho do Deus vivente, olhar para cada uma dessas pessoas com infinita compaixão. Com um toque de Sua santa mão, consola os desanimados, cura os doentes, liberta os condenados. A uma palavra Sua, o morto levanta-se do esquife e a viúva abraça o filho que voltou à vida.

Esses e outros atos milagrosos de misericórdia e bondade, alguns conhecidos de todos, outros silenciosos e discretos, para mim definem uma das características marcantes do Salvador: Seu amor e compaixão pelos oprimidos, cansados, fracos e sofredores. Na verdade, o Seu nome é sinônimo desses atos de compaixão.

Apesar de já se terem passado quase 2.000 anos do ministério mortal do Filho de Deus, Seu exemplo e ensinamentos de amor continuam sendo parte integrante do que somos como povo e como Igreja. Hoje, por intermédio de seu inspirado programa de bem-estar, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e seus membros empenham-se em imitar o exemplo Dele, à medida em que buscam aliviar o sofrimento e aumentar a auto-suficiência.

A Abrangência do Bem-Estar da Igrej

O programa de bem-estar da Igreja é bastante conhecido em todo o mundo. Há pessoas das mais diversas classes sociais que vão à sede da Igreja para ver pessoalmente como ela cuida dos pobres e necessitados sem que os beneficiados se tornem dependentes e sem que as pessoas que doam se ressintam. O presidente de certo país cancelou todos os demais compromissos do dia após visitar a Welfare Square. “O que há aqui é mais importante do que qualquer outro compromisso”, disse ele. “Tenho de ficar e aprender mais.”

Com o passar dos anos, o programa de bem-estar da Igreja cresceu para atender às necessidades cada vez maiores da Igreja, que está em expansão. Atualmente, na América do Norte, existem 80 fazendas da Igreja que produzem alimentos nutritivos para os necessitados. Oito fábricas cuidam de embalar esse alimento básico. Mais de 100 armazéns do bispo estão prontos a ajudar mais de 10.000 bispos e presidentes de ramo a cumprir seu dever sagrado de estender a mão e auxiliar os pobres e necessitados de suas alas e ramos. Cinqüenta fábricas das Indústrias Deseret oferecem trabalho e treinamento a milhares de pessoas. Em todo o mundo, existem 160 centros de empregos que, anualmente, ajudam mais de 78.000 pessoas a encontrar emprego. Há 65 escritórios de Serviços Sociais SUD que ajudam os casais da Igreja a adotarem crianças e oferecem aconselhamento a quem precise.

Tenho certeza de que os grandes líderes que o Senhor suscitou para serem os pioneiros deste trabalho de bem-estar da época atual ficariam contentes com os avanços deste atual e inspirado programa de bem-estar.

À Maneira do Senhor

O Presidente Joseph F. Smith escreveu: “Os santos dos últimos dias sempre tiveram como um de seus principais ensinamentos que não se pode esperar que uma religião que não seja capaz de salvar as pessoas materialmente e torná-las prósperas e felizes aqui seja capaz de exaltá-las na vida futura”.1

O que é físico e o que é espiritual estão inseparavelmente ligados. Quando doamos de nosso tempo, talentos e bens para atender às necessidades dos doentes, dar comida aos famintos e ensinar quem seja dependente a andar com as próprias pernas, passamos por um enriquecimento espiritual que ultrapassa o nosso entendimento.

O Senhor declarou em uma revelação ao Profeta Joseph Smith: “(…) é meu propósito suprir a meus santos (…). Mas é necessário que seja feito a meu modo; e eis que este é o modo que eu, o Senhor, decretei para suprir meus santos, para que os pobres sejam aumentados naquilo que os ricos são diminuídos”.2 O método do Senhor consiste em ajudar as pessoas a ajudarem a si mesmas. Os pobres são aumentados por que trabalham pelo auxílio temporário que recebem, aprendem princípios corretos e conseguem sair da pobreza para a auto-suficiência. Os ricos são diminuídos porque se humilham para doar generosamente de seus bens aos necessitados.

Ensinamos os membros a serem auto-suficientes, a fazerem tudo para sustentar-se e a procurar a ajuda de seus familiares em caso de necessidade. Quando os membros e a família fazem todo o possível para sustentarem-se, mas mesmo assim não conseguem suprir suas necessidades básicas, a Igreja está pronta a ajudar.

Na Igreja, os bispos têm a responsabilidade específica quanto aos “pobres, necessitados, ao pai ou à mãe que cria o filho sem o cônjuge, os idosos, os incapacitados, os órfãos, as viúvas e viúvos e outras pessoas que tenham necessidades especiais”.3

Sei de um bispo que envidou todos os esforços para auxiliar um homem que o procurou pedindo ajuda. Durante anos, o homem fora feliz no casamento, mas depois de certa idade viciou-se em álcool e drogas e, por isso, perdeu o emprego, a casa e a família. Ele degradou-se e humilhou-se com os anos difíceis em que morou nas ruas. Com o rosto banhado em lágrimas, implorou ao bispo que o ajudasse.

O comitê de bem-estar da ala discutiu o problema. O homem estava com um dente da frente quebrado, e alguém conhecia um dentista que talvez estivesse disposto a concertá-lo. A presidente da Sociedade de Socorro disse que a saúde dele poderia melhorar caso se alimentasse da boa comida do armazém do bispo. Outra pessoa disse que, talvez, o homem precisasse de alguém que despendesse tempo com ele todos os dias e o ajudasse a conseguir forças para vencer o vício.

Com as idéias que fluíam, o bispo percebeu que a ala estava repleta de irmãos interessados e prontos a ajudar.

Logo, o bispo começou a perceber progressos. Os irmãos do sacerdócio abençoaram o homem, um dentista caridoso consertou-lhe o dente quebrado, a saúde dele melhorou com a comida do armazém do bispo, e uma dupla de irmãos mais velhos fiéis aceitou servir como mestres familiares especiais. Eles passavam algum tempo com ele todos os dias para ajudá-lo a manter sua resolução.

Seguindo os princípios estabelecidos, esse bom irmão ofereceu-se para ajudar outras pessoas da ala. Aos poucos, sua vida começou a melhorar. O olhar de desespero e miséria gradualmente cedeu lugar ao de alegria e felicidade. Ainda que o processo tenha sido doloroso, ele conseguiu libertar-se do vício e tornou-se ativo na Igreja. A vida de pobreza e miséria transformou-se em uma vida de esperança e felicidade. É assim que o Senhor cuida de quem precisa.

A Ajuda Humanitária da Igreja

A Igreja não restringe aos membros o serviço de auxílio, mas segue a admoestação do Profeta Joseph Smith, que disse: “Um homem cheio do amor de Deus não se contenta em abençoar apenas sua família, mas corre o mundo inteiro, desejoso de abençoar toda a raça humana”.4 Ele ensinou os membros a “alimentar os famintos, vestir os nus, prover o sustento das viúvas, enxugar as lágrimas dos órfãos e consolar os aflitos.”5

Em pouco mais de dez anos, a Igreja enviou mais de 27.000 toneladas de roupas, 16.000 toneladas de alimentos e 3.000 toneladas de suprimentos e equipamentos médicos e educacionais para aliviar o sofrimento de milhões de filhos de Deus em 146 países em muitas partes do mundo. Não perguntamos: “Vocês são da Igreja?” Nossa pergunta é: “Estão sofrendo?”

Todos sabemos do furacão Mitch, que devastou a Nicarágua e Honduras nos últimos meses de outubro e novembro. Ele inundou casas e causou deslizamento com sua violência terrível. Mais de 10.000 pessoas morreram e dois milhões de outras ficaram desabrigadas. Esse furacão violentíssimo destruiu casas e cobriu as ruas com uma lama que parecia dura como cimento.

Quase imediatamente, a Igreja começou a enviar alimentos básicos, roupas, remédios e cobertores para ajudar tanto aos membros da Igreja como as pessoas de outras religiões. Assim que os carregamentos chegavam ao destino, centenas de membros da Igreja apareciam para descarregar os caminhões e arrumar as provisões em caixas. Cada uma continha o necessário para sustentar uma família durante uma semana.

O nosso querido Presidente Gordon B. Hinckley, que é o diretor do Comitê Geral de Bem-Estar, ficou perturbado com o sofrimento das pessoas na América Central. Numa noite que passou em claro, sentiu-se inspirado a ir até lá e estender seu amor e apoio aos que tinham passado por essa grande perda. A visita do profeta animou milhares de pessoas e deu-lhes esperança. “Enquanto [a Igreja] tiver quaisquer recursos”, disse-lhes ele, “estaremos a seu lado nos momentos de aflição.”6 E testifico-lhes, irmãos, que ele é verdadeiramente um profeta de Deus. Dou-lhe meu apoio com toda a sinceridade.

Além de fornecer as provisões necessárias quando há calamidades e catástrofes, cerca de 1.300 membros da Igreja aceitaram o chamado do Senhor para servir os necessitados de muitos países. Darei dois exemplos.

O irmão David Glines e a mulher, Dovie, de Ivins, em Utah, atualmente estão morando em Gana, na África, onde ensinam técnicas de administração, computação e de gerenciamento de escritório para quem está tentando conseguir um emprego melhor.

O irmão Mark Cutler, de Clayton, na Califórnia, é cirurgião aposentado e, juntamente com a mulher, Bonnie, presta serviço no Vietnã. O irmão Cutler é consultor e professor dos médicos de lá. A irmã Cutler ensina inglês e terminologia médica aos médicos e funcionários do hospital.

O Bem-Estar e os Membros

Além de ajudar os outros, seria bom se as famílias e os membros individualmente avaliassem o próprio grau de auto-suficiência. Podemos-nos fazer algumas perguntas.

Somos sábios com nosso dinheiro? Gastamos menos do que recebemos? Evitamos gastos desnecessários? Seguimos os conselhos das Autoridades Gerais de “armazenar alimentos, roupas e, se possível, combustível para, pelo menos um ano”?7 Ensinamos os filhos a dar valor ao que têm e a não desperdiçar? Será que os ensinamos a trabalhar? Será que eles compreendem a importância da lei sagrada do dízimo? Será que estudamos o bastante e temos um emprego adequado? Conservamos a boa saúde vivendo a Palavra de Sabedoria? Estamos livres dos efeitos de substâncias prejudiciais?

Caso honestamente respondamos “não” a qualquer dessas perguntas, é possível que queiramos melhorar nossos planos de auto-suficiência. Os profetas forneceram-nos diretrizes fundamentais.

Primeiro, um dos males de nossos dias é o pecado da cobiça. A ânsia desordenada por bens materiais pode tornar-se uma obsessão que consuma nossos pensamentos, esgote nossos bens e traga-nos infelicidade. Alguns membros da Igreja estão cada vez mais sobrecarregados com dívidas desnecessárias por causa desse pecado. O Presidente Heber J. Grant disse: “Se há uma coisa que traz paz e contentamento ao coração dos homens e à família é viver de acordo com o que temos. E se há algo que seja aflitivo e desanimador, é ter dívidas e encargos que não conseguimos saldar”.8

“A laboriosidade, economia e auto-suficiência continuam sendo os princípios orientadores desse trabalho”, advertiu o Presidente Thomas S. Monson, Diretor do Comitê Executivo de Bem-Estar da Igreja. “Como povo, deveríamos evitar as dívidas desnecessárias (…) ‘paga a tua dívida e vive’ (II Reis 4:7). Que conselho sábio para nós hoje!”9

Segundo, desde o início, Deus ordenou que trabalhássemos10 e advertiu-nos contra a ociosidade.11 Infelizmente, há muitas coisas em nosso mundo que incentivam a ociosidade, principalmente na forma das diversões vazias que encontramos na Internet, na televisão e nos jogos de computador.

Terceiro, recomendo-lhes o conselho que o Presidente Hinckley deu quando disse: “Estudem o máximo que puderem. (…) Cultivem as habilidades mentais e manuais. Os estudos são a chave para as oportunidades”.12 É, os estudos são o catalisador que refinará e lapidará nossos talentos, técnicas e habilidades e os fará desabrochar.

Quarto, quem decide seguir o exemplo do Salvador e aliviar o sofrimento de outros poderia atentar para a quantia que doam nas ofertas de jejum. Esse dinheiro sagrado é utilizado única e exclusivamente para uma coisa: abençoar os doentes, os que sofrem e outras pessoas que estejam necessitadas.

Quando contribuímos generosamente nas ofertas de jejum, somos grandemente abençoados, e isso possibilita que nos associemos ao Senhor e ao bispo em ajudar a minorar o sofrimento e a aumentar a auto-suficiência. Considerando-se nossa prosperidade, talvez devamos examinar nossas ofertas e verificar se somos tão generosos com o Senhor quanto Ele é conosco.

Conclusão

Se o Salvador estivesse entre nós, na mortalidade, atualmente, estaria ministrando aos necessitados, aos que sofrem e aos doentes. Pode ter sido para seguir o exemplo Dele que o Presidente Spencer W. Kimball tenha dito: “Olhando por esse prisma, vemos que o [bem-estar] não é um programa, mas a essência do evangelho. É o evangelho em ação. É o mais importante princípio da vida cristã”.13

Quando o programa de bem-estar teve seu início modesto em meio à Grande Depressão, poucos imaginaram que, 60 anos depois, teria crescido a ponto de ser literalmante uma bênção para milhões dos necessitados do mundo.

O lindo hino “Eu Devo Partilhar” traz uma lição inspirada a respeito de doar.

Eu devo partilhar pois muito recebi

A cada dia muitas bênçãos, Pai, me dás

E tuas dádivas eu sei que sempre devo dividir

Com o irmão que auxílio precisar.14

Irmãos e irmãs, o Salvador, que nos deu o modelo, alegra-Se com quem “em todas as coisas [lembra-se] dos pobres e necessitados, dos doentes e dos aflitos”.15 Ele alegra-Se com quem dá ouvidos à Sua advertência de “[socorrer] os fracos, [erguer] as mãos que pendem e [fortalecer] os joelhos enfraquecidos”.16

Que sigamos o Seu exemplo, é minha oração, em nome de Jesus Cristo. Amém.

  1. “The Truth about Mormonism”, Out West Magazine, setembro de 1905, p. 242.

  2. D&C 104:15-16.

  3. Manual de Instruções da Igreja, Volume I: Presidências de Estaca e Bispados, 1999, p. 14.

  4. History of the Church, 4:227

  5. Times and Seasons, 15 de março de 1842, p. 732.

  6. Discurso em Honduras, 21 de novembro de 1998; ver também “President Hinckley: ‘We Will Not Forget You’”, Church News, 28 de novembro de 1998, pp. 3, 6-7.

  7. Carta da Primeira Presidência de 24 de junho de 1988.

  8. Gospel Standards. G. Homer Durham (org), 1941, p. 111.

  9. In Conference Report (Relatório da Conferência Geral), outubro de 1988, p. 57; ou Ensign, novembro de 1988, p. 46.

  10. Ver Gênesis 3:19.

  11. Ver D&C 88:124.

  12. Ensinamentos de Gordon B. Hinckley. 1997, p. 172.

  13. Conference Report (Relatório da Conferência Geral), outubro de 1977, pp. 123-124; ou Ensign, novembro de 1977, p. 77.

  14. Hinos. n° 135.

  15. D&C 52:40.

  16. D&C 81:5.