2000–2009
Com Todo o Sentimento de um Terno Pai: Uma Mensagem de Esperança às Famílias
Abril 2004


Com Todo o Sentimento de um Terno Pai: Uma Mensagem de Esperança às Famílias

Não importa quão mau o mundo se torne, nossa família pode viver em paz. Se fizermos o que é certo, seremos guiados e protegidos.

Como profetizou Paulo, vivemos em “tempos trabalhosos”1“Satanás [anda] por toda parte, desviando o coração do povo”,2 e sua influência está aumentando. Mas não importa quão mau o mundo se torne, nossa família pode viver em paz. Se fizermos o que é certo, seremos guiados e protegidos.

O hino tantas vezes entoado por nossos ancestrais pioneiros nos diz o que fazer: “Mas não deveis desanimar se tendes Deus para vos amar”.3 É dessa coragem e fé que precisamos como pais e como família nestes últimos dias.

O pai Leí possuía tal coragem. Ele amava a família e alegrava-se porque alguns de seus filhos cumpriam os mandamentos de Deus. Mas ele deve ter ficado inconsolável quando seus filhos “Lamã e Lemuel não comeram do fruto” que representava o amor de Deus. Ele “temia muito [por eles]; sim, temia que fossem expulsos da presença do Senhor”.4

Todo pai enfrenta momentos de temor semelhante ao dele. Contudo, quando exercitamos nossa fé ensinando nossos filhos e fazendo o que podemos para ajudá-los, nossos temores diminuirão. Leí não desanimou e, com fé “exortou [seus filhos] (…) com todo o sentimento de um terno pai, a darem ouvidos a suas palavras, para que talvez o Senhor tivesse misericórdia deles”. E “ordenou-lhes que seguissem os mandamentos do Senhor”.5

Nós também devemos ter fé para ensinar nossos filhos e dizer-lhes que sigam os mandamentos. Não devemos permitir que suas escolhas enfraqueçam nossa fé. Nossa dignidade não será medida de acordo com a retidão deles. Leí não perdeu a bênção de partilhar da árvore da vida porque Lamã e Lemuel recusaram-se a comer de seu fruto. Às vezes, como pais, sentimos que falhamos quando nossos filhos cometem erros ou se perdem. Os pais jamais serão um fracasso quando derem o melhor de si ao amar, ensinar, orar e cuidar de seus filhos. Sua fé, orações e empenho serão consagrados para o bem de seus filhos.

O desejo do Senhor para nós é o de que cumpramos Seus mandamentos. Ele disse: “[Ensinem] luz e verdade a [seus] filhos, segundo os mandamentos (…). [Ponham] em ordem [sua] própria casa, (…) sejam mais diligentes e interessados em casa”.6

Quero lembrar a todos hoje, que nenhuma família já alcançou a perfeição. Todas as famílias estão sujeitas às condições da mortalidade. Todos nós recebemos o dom do arbítrio—escolher por nós mesmos e aprender com as conseqüências de nossas escolhas.

Qualquer um de nós pode passar pela experiência de ver um cônjuge, um filho, um dos pais ou um parente sofrer de uma forma ou de outra — mental, física, emocional ou espiritualmente — e talvez, às vezes, nós mesmos passemos por essas tribulações. Em poucas palavras: a mortalidade não é fácil.

Cada família tem suas próprias circunstâncias especiais. Mas o evangelho de Jesus Cristo aplica-se a todos os desafios — é por isso que precisamos ensiná-lo a nossos filhos.

“A Família — Proclamação ao Mundo” declara:

“Os pais têm o sagrado dever de criar os filhos com amor e retidão, atender a suas necessidades físicas e espirituais, ensiná-los a amar e servir uns aos outros, guardar os mandamentos de Deus e ser cidadãos cumpridores da lei, onde quer que morem. O marido e a mulher — o pai e a mãe — serão considerados responsáveis perante Deus pelo cumprimento dessas obrigações.”7

O cumprimento dessas obrigações é a chave para proteger nossa família nos últimos dias.

Moisés aconselhou: “E ensinarás [estas palavras] a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te”.8 Nossa família deve estar continuamente em nosso pensamento.

Moisés entendeu a necessidade do ensino constante, pois crescera em tempos difíceis. Na época em que Moisés nasceu, o Faraó havia declarado que todos os meninos hebreus recém-nascidos, deveriam ser jogados no rio. Mas os pais de Moisés levaram os deveres da paternidade e maternidade a sério.

As escrituras registram: “Pela fé Moisés, já nascido, foi escondido três meses por seus pais. (…) e [seus pais] não temeram o mandamento do rei”.9 Quando Moisés estava grande demais para permanecer escondido, sua mãe, Joquebede, construiu uma engenhosa arca de juncos revestida com barro e betume, e colocou o filho dentro. Ela colocou o pequeno barco na água rio abaixo, rumo a um local seguro — onde a filha do Faraó se banhava.

Não deixando nada ao acaso, Joquebede mandou que uma ajudante inspirada, sua filha Miriã, ficasse de vigia. Quando a filha do Faraó, a princesa, encontrou o bebê, Miriã corajosamente ofereceu-se para chamar uma ama das hebréias. Essa ama era Joquebede, a mãe de Moisés.10

Devido à fidelidade da mãe, a vida de Moisés foi poupada. No devido tempo ele aprendeu quem realmente era e “deixou o Egito, não temendo a ira do rei”.11

Uno-me a pais fiéis de toda parte ao declarar que sabemos quem realmente somos, entendemos nossas responsabilidades como pais e não tememos a ira do príncipe das trevas. Confiamos na luz do Senhor.

Como Joquebede, criamos nossa família em um mundo iníquo e hostil—um mundo tão perigoso quanto as cortes do Egito governadas pelo Faraó. Mas, como Joquebede, também tecemos uma arca protetora em torno de nossos filhos — um barco chamado “a família” — e os encaminhamos para locais seguros onde nossos ensinamentos podem ser reforçados no lar e na igreja.

Finalmente, nós os conduzimos para a maior de todas as casas de aprendizado—o templo sagrado, onde um dia eles poderão ajoelhar-se, circundados por seus familiares fiéis, para serem selados para esta vida e para a eternidade a um companheiro digno. O que eles aprenderam conosco, ensinarão aos próprios filhos e o trabalho da família eterna prosseguirá.

Ao longo do caminho, nos momentos em que nossos filhos estiverem longe de nós, o Senhor providenciará “Miriãs” inspiradas para zelar por eles—ajudantes terceirizados especiais como líderes do sacerdócio e das auxiliares, professores, parentes e amigos dignos. Algumas vezes, o Espírito nos inspira, como pais, a buscarmos uma ajuda especial além de nós mesmos, por meio de recursos como médicos e terapeutas qualificados. O Espírito os orientará quando e como tal ajuda deva ser obtida.

Mas a maior ajuda para nossa família vem por intermédio do evangelho—de nosso Pai Celestial, da orientação do Espírito Santo nas doutrinas e nos princípios, e do sacerdócio. Quero compartilhar com vocês cinco elementos importantes da paternidade ou maternidade, que irão ajudar-nos no fortalecimento de nossa família.

Realizar conselhos de família. Às vezes sentimos medo de nossos filhos—medo de aconselhá-los com receio de ofendê-los. Existem bênçãos inestimáveis que são obtidas com a realização de conselhos em nossa família, demonstrando um interesse genuíno pela vida dos membros da família. Ocasionalmente esses conselhos envolvem todos os membros da família como parte da noite familiar ou de outras reuniões especiais. Mas devemos aconselhar nossos filhos individualmente de maneira regular.

Sem a realização desse conselho individual direto com nossos filhos, eles ficarão inclinados a acreditar que nem a mãe nem o pai, ou nem o avô nem a avó, entendem e nem se importam com os desafios que estiverem enfrentando. Ao escutarmos com amor e evitarmos interrompê-los, o Espírito irá ajudar-nos para que saibamos como auxiliar e ensinar nossos filhos.

Por exemplo, podemos ensiná-los que podem escolher as ações, mas não suas conseqüências. Podemos também, delicadamente ajudá-los a entender que as conseqüências de suas ações podem afetar a própria vida deles.

Algumas vezes, quando o que ensinamos não é ouvido e quando nossas expectativas não são atingidas, precisamos lembrar-nos de deixar aberta a porta do nosso coração.

Na parábola do filho pródigo, encontramos uma lição de grande efeito para famílias e especialmente para os pais. Depois que o filho mais jovem “[tornou] em si”12 ele decidiu voltar para casa.

Como ele sabia que o pai não o rejeitaria? Porque ele conhecia o pai. Durante os inevitáveis mal-entendidos, conflitos e tolices da juventude do filho, consigo visualizar o pai, a seu lado, com um coração compreensivo e compassivo, com uma resposta branda, um ouvido atento e um abraço que tudo perdoava. Consigo imaginar também o filho sabendo que poderia voltar para casa porque conhecia o tipo de lar que esperava por ele; pois as escrituras dizem: “(…) quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou”.13

Testifico que nosso Pai Celestial deixa a porta aberta. Testifico também que nunca é muito tarde para abrir a porta entre nós e nossos filhos com palavras simples como “Eu te amo”, “Sinto muito” e “Perdoe-me, por favor”. Podemos começar agora a criar um lar para o qual eles terão vontade de voltar não só agora, mas na eternidade.

Podemos também ajudar nossos filhos obedientes a deixarem a porta do perdão aberta, expressando nosso amor e apreciação a eles, e ajudando-os a alegrarem-se com o arrependimento de seus irmãos.

Com a porta de nosso coração aberta, devemos aprender a aplicar as escrituras à nossa vida.

Com freqüência conversamos a respeito de ensinar nossos filhos utilizando as escrituras, mas como fazemos isso?

Anos atrás, eu estava ensinando nosso filho a respeito da vida e das experiências do irmão de Jarede. Embora a história fosse muito interessante, ele não estava atento a ela. Então perguntei-lhe o que a história significava para ele pessoalmente. É muito importante perguntarmos a nossos filhos: “O que isso significa para você?” Ele comentou: “Sabe, não é tão diferente do que Joseph Smith fez no bosque quando orou e obteve uma resposta”.

Disse a ele: “Você tem cerca da mesma idade que Joseph. Acredita que uma oração como essa poderia ajudá-lo?” De repente não estávamos conversando a respeito de uma história muito antiga em um país longínquo. Falávamos a respeito de nosso filho — a respeito de sua vida, de suas necessidades e da maneira como a oração poderia ajudá-lo.

Como pais, temos a responsabilidade de ajudar nossos filhos a “[aplicar] todas as escrituras [de fato, cada parte do evangelho de Jesus Cristo] a nós [e aos nossos filhos], (…) para [o] proveito e instrução [de nossa família]”.14

Estamos aplicando todas as experiências do evangelho que nossos filhos têm, às necessidades reais da vida deles? Estamos ensinando a eles sobre o dom do Espírito Santo, do arrependimento, da Expiação, do sacramento e da bênção que é a reunião sacramental, à medida que eles enfrentam os desafios da vida? Não existe tempo o bastante em reuniões formais para ensinar o que eles precisam saber. Portanto, precisamos: aproveitar as ocasiões informais do dia-a-dia.

Esses momentos são inestimáveis. Eles surgem quando estamos trabalhando, nos divertindo e batalhando juntos. Quando isso acontece, o Espírito do Senhor pode ajudar-nos a saber o que dizer e ajudar nossos filhos a aceitarem o que ensinarmos.

Que alegria e que bênção é ter o Espírito em nosso lar! E que bênção é convidá-lo com uma oração, com o estudo das escrituras, ao falarmos gentilmente e mostrando apreço uns pelos outros. Preparemo-nos para ocasiões de ensino, orando da forma como Alma orou por seu filho, “com muita fé”15e com toda a energia de nossa alma; jejuando, consultando as escrituras, arrependendo-nos de nossos pecados e deixando que o Espírito Santo envolva nosso coração com amor, perdão e compaixão; então, ele reinará em nosso lar. Então, vamos confiar no Bom Pastor.

A mãe de Moisés, Joquebede, levou seu filho pelo rio com fé no “Pastor (…) de [nossa alma]”16 Como pais, podemos confiar no Bom Pastor para guiar-nos e orientar-nos. Isaías prometeu Ele “guiará suavemente”17 a todos os que forem responsáveis pelos jovens.

Ele nos ajudará a confiar e honrar os princípios do arbítrio, da oposição e da Expiação, mesmo quando nossos filhos tomarem decisões insensatas. Através do Seu Espírito, Ele nos ajudará a ensinarmos nossos filhos a enfrentar todo desafio, provação e tribulação da vida lembrando a eles quem são—filhos de Deus. Seremos inspirados com formas que os ajudarão a vestirem a “armadura de Deus”,18 para que possam enfrentar os “dardos inflamados do maligno”,19 com o “escudo da fé”20 e com a “espada do Espírito”.21 À medida que nossos filhos se armam espiritualmente e se fortalecem, Ele os abençoará para perseverarem fielmente até o fim e voltarem para casa, dignos de permanecer e viver na presença de seu Pai Celestial para sempre.

Durante tudo isso, sofreremos por ver os membros de nossa família sofrerem com as fundas e com as flechas da mortalidade. Mas ficaremos maravilhados com o amor que o Salvador dá a eles. Devido a Ele, as bofetadas não precisam derrotá-los nem destruí-los, mas podem enternecê-los, fortalecê-los e santificá-los.

Aos pais e famílias de todo o mundo, testifico que o Senhor Jesus Cristo é poderoso para salvar. Ele é Aquele que nos cura, o Redentor, o Pastor que nos salva, que deixará as noventa e nove para encontrar a que se perdeu. Se estivermos buscando a salvação das especiais “que se perderam” em nossa própria família, presto testemunho de que elas estão ao alcance Dele. Nós O ajudamos a alcançá-las ao vivermos o evangelho fielmente, ao sermos selados no templo e formos leais aos convênios que lá fizermos.

Os pais encontrarão grande consolo nas palavras do Élder Orson F. Whitney relacionadas aos ensinamentos de Joseph Smith:

“O Profeta Joseph Smith declarou — e ele nunca ensinou uma doutrina mais consoladora — que os selamentos eternos de pais fiéis e as promessas divinas que lhes foram feitas por seu valente serviço pela Causa da Verdade salvaria não apenas eles próprios mas também sua posteridade. Embora algumas ovelhas venham a desgarrar-se, o olhar do Pastor está sobre elas, e cedo ou tarde elas sentirão os braços da Providência Divina estendendo-se para elas e trazendo-as de volta ao redil. Quer nesta vida ou na vida futura, elas voltarão. Terão que pagar sua dívida para com a justiça; sofrerão por seus pecados; e podem ter que percorrer um caminho espinhoso; mas se ele as conduzir por fim, tal como o penitente filho pródigo, ao coração e lar de um pai amoroso e desejoso de perdoar, a experiência dolorosa não terá sido em vão. Orem por seus filhos descuidados e desobedientes; apeguem-se a eles com sua fé. Tenham esperança e confiança até verem a salvação de Deus.22

Presto meu testemunho especial de que Jesus Cristo deu Sua vida possibilitando a salvação e a exaltação de todas as famílias da Terra. Com todo o sentimento de um terno pai, expresso o meu amor e o amor de nosso Pai Celestial a vocês e a sua família.

Que possamos reunir nossos entes queridos ao nosso redor “[sem] desanimar, se [temos] Deus para [nos] amar”. Com fé, coragem e amor, as famílias serão mesmo eternas. Assim o testifico, em nome de Jesus Cristo. Amém.

  1. II Timóteo 3:1.

  2. 3 Néfi 2:3.

  3. “Vinde, Ó Santos”, Hinos, nº 20.

  4. 1 Néfi 8:35–36.

  5. 1 Néfi 8:37–38.

  6. D&C 93:42–43, 50.

  7. A Liahona, outubro de 1998, p. 24.

  8. Deuteronômio 6:7.

  9. Hebreus 11:23.

  10. Ver Êxodo 2:3–10; ver também Jerrie W. Hurd, Our Sisters in the Bible, 1983, pp. 36–37.

  11. Ver Hebreus 11:24–27.

  12. Lucas 15:17.

  13. Lucas 15:20.

  14. 1 Néfi 19:23.

  15. Mosias 27:14.

  16. I Pedro 2:25.

  17. Isaías 40:11.

  18. Ver Efésios 6:11, 13; ver também D&C 27:15.

  19. 1 Néfi 15:24; D&C 3:8; ver também Efésios 6:16.

  20. Efésios 6:16; D&C 27:17.

  21. Efésios 6:17; ver também D&C 27:18.

  22. Conference Report, abril de 1929, p. 110.