2000–2009
Buscai o Reino de Deus
Abril 2006


Buscai o Reino de Deus

Espero que todos vocês se recordem de que neste Dia do Senhor vocês me ouviram prestar testemunho de que esta é a obra sagrada de Deus.

Amados irmãos e irmãs, agradeço por suas orações por mim. E agora oro por sua fé para me amparar.

Quando um homem chega à minha idade, ele pára de vez em quando para refletir a respeito do que o levou à sua presente situação na vida.

Peço um pouco do seu tempo e atenção para uma coisa que talvez seja considerada de certo modo egoísta. Eu o faço porque a vida do Presidente da Igreja na verdade pertence a toda a Igreja. Ele tem bem pouca privacidade e nenhum segredo. Meu discurso nesta manhã será diferente de qualquer um, creio eu, ouvido anteriormente nas conferências gerais da Igreja.

Encontro-me diante do ocaso da vida. Estamos todos totalmente nas mãos do Senhor. Como muitos devem saber, fui submetido recentemente a uma delicada cirurgia. Foi a primeira vez em 95 anos que fiquei internado em um hospital. Não recomendo isso para ninguém. Meus médicos dizem que ainda tenho alguns problemas.

Logo completarei 96 anos. Aproveito esta oportunidade para expressar gratidão e reconhecimento pelas bênçãos extraordinárias que o Senhor derrama sobre mim.

Todos nos defrontamos com escolhas no decorrer da vida; algumas são como o canto da sereia, com promessas de riqueza e prosperidade; outras parecem menos auspiciosas.

De algum modo, o Senhor cuidou de mim e orientou minhas escolhas, embora isso nem sempre fosse evidente na época.

À minha mente vêm as palavras do poema de Robert Frost: The Road Not Taken [A Estrada Não Escolhida], que se encerra com estas palavras:

Duas estradas se separavam em um bosque, e eu —

Segui pela menos trilhada,

E isso fez toda a diferença.

(The Poetry of Robert Frost, ed. Edward Connery Lathem [1969], p. 105.)

Penso nas palavras do Senhor: “Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Lucas 12:31).

Há 48 anos, na conferência de abril, fui apoiado como Autoridade Geral. Desde aquela época falei em todas as conferências gerais da Igreja. Fiz bem mais de 200 discursos nelas. Tratei de uma grande variedade de assuntos. Mas por todos eles passava o fio predominante do testemunho deste grande trabalho dos últimos dias.

Mas as coisas mudaram e continuam mudando. Minha amada que foi minha companheira durante 67 anos faleceu há dois anos. A saudade que sinto dela é maior do que consigo expressar. Ela foi realmente uma mulher notável, com quem caminhei lado a lado em uma parceria perfeita durante mais de dois terços de século. Ao relembrar minha vida, faço-o com certo grau de admiração e reverência. Tudo de bom que aconteceu, inclusive meu casamento, devo à minha atividade na Igreja.

Tive a oportunidade de, na noite passada, examinar uma lista incompleta de sociedades e organizações que me homenagearam, todas devido à minha atividade na Igreja. Presidentes dos Estados Unidos, um número considerável deles, foram ao Escritório da Presidência da Igreja. Tenho em uma das paredes de meu escritório uma foto minha entregando um Livro de Mórmon ao Presidente Ronald Reagan. Em minha estante repousa a Medalha Presidencial da Liberdade, concedida a mim pelo Presidente Bush. Estive na Casa Branca em diversas ocasiões. Recebi e relacionei-me com primeiros ministros e embaixadores de muitas nações, incluindo Margaret Thatcher e Harold Macmillan, do Reino Unido.

Conheci e trabalhei com todos os Presidentes da Igreja desde o Presidente Grant até Howard W. Hunter. Conheci e amei todas as Autoridades Gerais ao longo de tantos anos.

Estou agora tentando decidir o que fazer com os muitos livros e artefatos que acumulei com o passar dos anos. Nesse processo, encontrei um antigo diário com anotações esporádicas dos anos de 1951 a 1954. Na época eu era conselheiro na presidência de minha estaca e ainda não havia sido chamado para Autoridade Geral.

Ao ler este velho diário, recordei-me com gratidão de como, por intermédio da bondade do Senhor, conheci tão bem e profundamente todos os membros da Primeira Presidência e do Quórum dos Doze.

Tal oportunidade não existiria agora porque a Igreja é muito maior.

O diário contém anotações como as seguintes:

“11 de março de 1953 — O Presidente McKay conversou comigo a respeito do programa da conferência de abril para presidentes de missão”.

“Quinta-feira, 19 de março — Joseph Fielding Smith pediu-me que conseguisse que uma das Autoridades Gerais demonstrasse como se organizavam as conferências missionárias de sábado à noite. (…) Creio que Spencer W. Kimball ou Mark E. Petersen devem cuidar disso.”

“Quinta-feira, 26 de março — O Presidente McKay contou-me uma história interessante. Disse: ‘Um fazendeiro tinha um grande pedaço de terra. Quando envelheceu, sentiu que o trabalho era excessivo. Ele só tinha filhos homens na família. Chamou-os e disse-lhes que teriam que carregar o fardo. O pai descansou. Mas um dia caminhou até o campo. Os filhos disseram-lhe que voltasse, que não precisavam de sua ajuda. Ele disse: “Minha sombra nesta fazenda vale mais do que o trabalho de todos vocês”’. O Presidente David O. McKay disse que o pai na história representava o Presidente Stephen L Richards, que se achava enfermo, mas cujas contribuições e amizade o Presidente McKay tinha na mais alta conta.”

“Sexta-feira, 3 de abril de 1953 — Participei da reunião no templo com as Autoridades Gerais e com os presidentes de missão das 9h às 15h30. Mais de 30 presidentes de missão falaram. Todos querem mais missionários. Todos estão fazendo bastante progresso.”

“Terça-feira, 14 de abril — Encontrei-me com o Presidente Richards em seu escritório, passei momentos agradáveis em sua companhia. Ele parece estar cansado e fraco. Sinto que foi preservado pelo Senhor para um grande propósito.”

“Segunda-feira, 20 de abril de 1953 — Tive uma conversa interessante com Henry D. Moyle, do Conselho dos Doze Apóstolos.”

“15 de julho de 1953 — Albert E. Bowen, membro do Conselho dos Doze, faleceu depois de mais de um ano sofrendo de uma grave doença. Mais um de meus amigos se foi. (…) Eu o conhecia bem. Era sábio e constante. Jamais conseguiram apressá- lo e nunca estava com pressa. Extremamente cauteloso — um homem de sabedoria incomum, um homem de uma fé simples e notável. Os mais velhos e sábios estão morrendo. Eles eram meus amigos. No pouco tempo de minha vida, vi muitos dos grandes líderes da Igreja chegarem e partirem. Trabalhei com a maior parte deles e os conhecia profundamente. O tempo tem um jeito especial de apagá-los da memória. Daqui a cinco anos, nomes como Merrill, Widtsoe e Bowen — personalidades de poder ilimitado — terão sido esquecidos por todos, exceto uns poucos. Um homem precisa ter satisfação em seu trabalho a cada dia, precisa admitir que a família se lembre dele, que ele pode contar com o Senhor, mas acima de tudo, precisa saber que seu monumento será pequeno dentre as futuras gerações”.

E assim prossegue. Li-o apenas para ilustrar o relacionamento extraordinário que tive, quando mais jovem, com os membros da Primeira Presidência e do Quórum dos Doze.

Durante minha vida também caminhei por entre os que empobreceram e os relegados à pobreza na Terra e demonstrei-lhes o meu amor, minha preocupação e minha fé. Relacionei-me com homens e mulheres privilegiados e importantes de muitas partes da Terra. Em meio a essas oportunidades, espero ter feito ao menos uma pequena diferença.

Quando eu era jovem, um menino de apenas onze anos de idade, recebi a bênção patriarcal de um homem a quem jamais vira antes e a quem nunca mais vi. É um documento extraordinário, um documento profético. É pessoal e não vou ler trechos longos. Contudo, ela contém esta declaração: “As nações da Terra ouvirão a tua voz e serão levadas a um conhecimento da verdade pelo maravihoso testemunho que tu prestarás”.

Quando terminei a missão na Inglaterra, fiz uma viagem rápida pelo continente. Prestei meu testemunho em Londres, fiz o mesmo em Berlim, depois em Paris, e posteriormente em Washington D.C. Disse a mim mesmo que prestara meu testemunho nessas grandes capitais do mundo e tinha cumprido aquela parte da minha bênção.

Na verdade isso não foi nem o começo. Desde aquela época elevei minha voz em todos os continentes, em cidades grandes e pequenas, para cima e para baixo, de norte a sul e de leste a oeste por todo esse vasto mundo — da Cidade do Cabo a Estocolmo, de Moscou a Tóquio, a Montreal, em cada grande capital do mundo. É tudo um milagre.

No ano passado pedi aos membros da Igreja no mundo todo que lessem novamente o Livro de Mórmon. Milhares, centenas de milhares, aceitaram esse desafio. O Profeta Joseph Smith disse em 1841: “Eu disse aos irmãos que o Livro de Mórmon era o mais correto de todos os livros da Terra e a pedra fundamental de nossa religião; e que seguindo seus preceitos o homem se aproximaria mais de Deus do que seguindo os de qualquer outro livro” (History of the Church, vol. 4, p. 461).

Por aceitarem a verdade dessa declaração, acredito que algo extraordinário deve ter ocorrido às pessoas desta Igreja. Elas foram vistas lendo o Livro de Mórmon no ônibus, durante o almoço, na sala de espera do médico e em dezenas de outras situações. Creio e espero que tenhamos nos aproximado mais de Deus devido à leitura desse livro.

Em dezembro passado, tive o privilégio de, juntamente com muitos de vocês, homenagear o Profeta Joseph no bicentenário de seu nascimento. Juntamente com o Élder Ballard, estive em seu local de nascimento em Vermont, enquanto este grande Centro de Conferências estava repleto com santos dos últimos dias e as palavras proferidas foram levadas por transmissão via satélite ao mundo inteiro, em tributo ao amado Profeta desta grande obra dos últimos dias.

Eu poderia continuar falando dessas coisas. Peço desculpas novamente por falar em um tom pessoal. Porém, faço-o puramente como expressão de reconhecimento e gratidão À Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, sendo que tudo isso ocorreu devido ao lugar no qual o Senhor me colocou. Meu coração está tomado pela gratidão e amor.

Repetindo:

Duas estradas se separavam em um bosque, e eu —

Segui pela menos trilhada,

E isso fez toda a diferença.

Confio que vocês não vão considerar o que eu disse como um obituário. Em vez disso, anseio pela oportunidade de falar a vocês de novo em outubro.

Agora, para concluir, espero que todos vocês se recordem de que neste Dia do Senhor vocês me ouviram prestar testemunho de que esta é a obra sagrada de Deus. A visão dada ao Profeta Joseph no bosque de Palmyra não foi algo imaginário. Foi real. Aconteceu em plena luz do dia. Tanto o Pai como o Filho falaram ao rapaz. Ele Os viu em pé no ar, acima dele. Ele ouviu Sua voz. Ele deu ouvidos a Suas instruções.

O Senhor ressuscitado foi apresentado por Seu Pai, o grande Deus do Universo. Pela primeira vez, de acordo com os registros da história, tanto o Pai como o Filho apareceram juntos para afastar a cortina e abrir esta que é a última e final dispensação, a dispensação da plenitude dos tempos.

O Livro de Mórmon é tudo o que afirma ser — uma obra registrada por profetas que viveram na Antigüidade e cujas palavras vieram à luz para “convencer os judeus e os gentios de que Jesus é o Cristo, o Deus Eterno, que se manifesta a todas as nações” (Livro de Mórmon, página de rosto).

O sacerdócio foi restaurado pelas mãos de João Batista e Pedro, Tiago e João. Todas as chaves e autoridades relativas à vida eterna são exercidas nesta Igreja.

Joseph Smith foi e é um profeta, o grande Profeta desta dispensação. Esta Igreja, que leva o nome do Redentor, é verdadeira.

Deixo-lhes o meu testemunho, minha declaração da verdade e meu amor a cada um de vocês, em nome de Jesus Cristo. Amém.