2002
Obediência e Fé
Julho de 2002


Obediência e Fé

“Obediência movida pela fé” é uma questão de confiança. A pergunta é simples: Confiamos no Pai Celestial? Confiamos em nossos profetas?

No mundo em que vivemos, as coisas nem sempre são o que parecem. Às vezes não nos damos conta das forças terríveis que nos influenciam. As aparências podem ser muito enganosas.

Há alguns anos, tive uma experiência com falsas aparências cujos resultados poderiam ter sido trágicos. O primo de minha mulher e sua família vieram de Utah visitar-nos. Era um dia calmo de verão na costa do Oregon e estávamos pescando no mar. Estava agradável e nós nos divertíamos muito pegando salmões quando, por alguma razão, eu me virei e vi uma onda gigantesca de 2,5 m prestes a cair sobre nós. Só tive tempo de gritar um aviso antes que a onda nos atingisse cobrindo toda a embarcação. Seja como for, o barco ficou firme, mas Gary, o primo de minha mulher, foi atirado ao mar. Todos nós estávamos usando coletes salva-vidas e, com certa dificuldade, manobramos o barco, metade dele cheio d’água, até o local onde ele flutuava, e o resgatamos.

Fomos atingidos por uma daquelas ondas repentinas que surgem sem aviso prévio. Não é comum isso acontecer e não há meios de prever a chegada dela. Mais tarde, soubemos que ao longo da costa, de Oregon a Washington, cinco pessoas morreram afogadas naquele dia, em três acidentes de barco, cada um num local diferente. Todos foram causados pela mesma onda, que sem nenhuma razão aparente surgiu na superfície do mar. Quando conseguimos passar por cima do banco de areia, o mar estava calmo e não dava nenhum sinal de perigo. Mas o mar mostrou-se muito traiçoeiro e bem diferente do que parecia.

Quando trilhamos nosso caminho pela vida, devemos estar continuamente vigilantes e ficar atentos a essas coisas enganadoras e não nos prender às aparências. Se não formos cuidadosos, aquela onda repentina da vida pode ser tão mortal como aquela do mar.

Uma das táticas furtivas do Adversário é fazer-nos acreditar que obedecer aos princípios e mandamentos de Deus sem questionar é obediência cega. Seu objetivo é fazer-nos acreditar que devemos seguir nossos próprios caminhos mundanos e ambições egoístas. Isso ele faz persuadindo-nos a crer que seguir os profetas e obedecer aos mandamentos “cegamente” não é pensar por si mesmo. Ele ensina que não é inteligente fazer algo somente porque um profeta vivo ou profetas das escrituras assim nos instruíram.

O fato de obedecermos aos mandamentos de Deus sem questionar não é obediência cega. O Presidente Boyd K. Packer, na conferência de abril de 1983, ensinou: “Os santos dos últimos dias não são obedientes porque são compelidos a isso. Eles são obedientes porque conhecem certas verdades espirituais e decidiram, numa manifestação de seu próprio arbítrio individual, obedecer aos mandamentos de Deus. (…) Não somos obedientes porque somos cegos; somos obedientes porque vemos”. (“Agency and Control”, Ensign, maio de 1983, p. 66)

Poderíamos chamar isso de “obediência movida pela fé”. Tendo fé, Abraão foi obediente e preparou Isaque para o sacrifício; pela fé, Noé obedeceu e construiu a arca; pela fé, Néfi foi obediente e obteve as placas de latão; e também pela fé, uma criancinha obedece e pula do alto para os braços fortes do pai. “Obediência movida pela fé” é uma questão de confiança. A pergunta é simples: Confiamos no Pai Celestial? Confiamos em nossos profetas?

Outra cilada do Adversário é fazer-nos acreditar que a sabedoria do mundo e o que ele tem a nos ensinar é a única fonte de conhecimento que devemos usar. O irmão do profeta Néfi, Jacó, compreendeu o plano do Adversário e alertou-nos quanto a isso:

“Oh! Quão astuto é o plano do maligno! Oh! A vaidade e a fraqueza e a insensatez dos homens! Quando são instruídos pensam que são sábios e não dão ouvidos aos conselhos de Deus, pondo-os de lado, supondo que sabem por si mesmos; portanto sua sabedoria é insensatez e não lhes traz proveito. E eles perecerão.” (2 Néfi 9:28)

Jacó não disse que não deveríamos nos instruir. Ele continua seu discurso, dizendo que é bom ser instruído quando ouvimos os conselhos de Deus.

Alguns acreditam que podemos escolher quais mandamentos de Deus seguir. Por conveniência, rotulam muitos mandamentos como insignificantes, coisas que podem ser ignoradas e que não oferecem ameaça à vida ou não são muito importantes. Por exemplo, orar, guardar o Dia Santificado, dizer aos filhos que os amamos, ler as escrituras, pagar dízimos e ofertas, ir às reuniões da Igreja, e assim por diante.

O Pai Celestial comunica-Se de modo muito claro com Seus filhos. Nos ensinamentos do evangelho não existe o sonido incerto do qual Paulo fala. (Ver I Coríntios 14:8.) Não há nenhuma pergunta a respeito do significado do que está sendo dito ou sobre os sussurros do Espírito. Não nos deixaram sozinhos. Temos as escrituras, os profetas, pais que nos amam e líderes.

Por que às vezes nos desviamos do caminho? Por que nos deixamos influenciar pelas trapaças do Adversário? A solução para essas ciladas é simples na teoria, mas às vezes difícil na prática. O Presidente Harold B. Lee, na conferência de outubro de 1970, falou sobre o Senhor, o Adversário e a solução para enfrentar o poder de suas armadilhas.

“Temos algumas provações difíceis para enfrentar antes que o Senhor complete sua obra nesta Igreja e no mundo nesta dispensação. (…) O poder de Satanás aumentará; vemos isso em toda a parte. (…)Devemos aprender a dar ouvidos às palavras e mandamentos que o Senhor dará por intermédio de Seu profeta. (…) Algumas coisas exigirão paciência e fé.” (Conference Report, outubro de 1970, p. 152)

O Presidente Lee acrescentou um alerta ao continuar seu discurso, dizendo que podemos às vezes não gostar do que dizem as autoridades da Igreja porque podem entrar em conflito com nosso ponto de vista ou interferir com alguma coisa em nossa vida social. Entretanto, se ouvirmos e fizermos essas coisas como se fossem ditas pelo próprio Senhor, não seremos enganados e receberemos grandes bênçãos.

Esse conceito traz-nos de volta à obediência. Devemos sempre ser obedientes. Faz parte do plano de felicidade eterna. Não conheço nenhuma doutrina mais crucial para o nosso bem-estar nesta vida e na próxima. Todas as escrituras ensinam obediência e nunca houve um apóstolo ou profeta que não tenha ensinado o princípio da obediência.

Às vezes é necessário ser obediente mesmo quando não entendemos a razão para a lei. É preciso ter fé para ser obediente. O Profeta Joseph Smith, ao ensinar sobre esse assunto, disse que tudo quanto Deus requer é justo, embora não possamos compreender porque razão Ele ordena isso ou aquilo, senão até depois de muito tempo. [Ver Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, sel. Joseph Fielding Smith (1976), p. 250]

Sou grato por termos usado coletes salva-vidas naquele dia no mar. Agradeço por ter conseguido evitar a tragédia que atingiu outras pessoas devido àquela onda repentina. Oro para que continuemos a usar nossos coletes salva-vidas da obediência a fim de evitarmos a tragédia que certamente cairá sobre nós se formos enganados e sucumbirmos às tentações do Adversário.

Presto testemunho que nosso Pai Celestial vive, que Ele nos ama e que, sendo obedientes e não questionando Seus mandamentos, poderemos novamente habitar com Ele e Seu Filho Jesus Cristo, nosso Salvador e Redentor. Em nome de Jesus Cristo. Amém.