2003
Três Escolhas
Novembro de 2003


Três Escolhas

Gostaria hoje de oferecer-lhes o meu próprio programa de desenvolvimento pessoal. Ele consiste de três passos que me foram úteis.

Recentemente, percebi que existe um grande número de programas de desenvolvimento pessoal à nossa disposição. Deve haver uma imensa procura por esses produtos, porque é difícil ligarmos a televisão ou o rádio e não ver nem ouvir propagandas de produtos que prometem de tudo, desde perder peso até fazer o cabelo crescer bem saudável e vistoso. Às vezes me pergunto se as pessoas que fazem esses produtos me conhecem pessoalmente.

Gostaria hoje de oferecer-lhes o meu próprio programa de desenvolvimento pessoal. Ele consiste de três passos que me foram úteis; tenho certeza de que os ajudarão também. E o mais importante, esse programa de autodesenvolvimento é gratuito. Vocês não precisarão usar seu cartão de crédito. Não aparecerá na tela brilhando um número de telefone para ligação gratuita, dando-lhes cinco minutos para aproveitarem essa oportunidade única na vida.

Talvez a melhor maneira de ensinar esses princípios seja por meio de uma parábola.

Era uma vez um homem chamado João que, embora ainda relativamente jovem, já havia enfrentado muito sofrimento e tristeza. Sem teto e viciado em álcool e outras drogas, João estava terrivelmente doente e cansado de viver. Quanto mais se afundava na doença e no desespero, mais percebia que se não mudasse — e rápido — era bem possível que acabasse morrendo miserável, inútil e solitário.

Talvez por ter ido algumas vezes à Primária quando pequeno, João acabou indo até uma capela próxima e pediu para falar com o bispo.

“Estraguei minha vida”, disse João, em meio a soluços amargurados, que brotavam do fundo de sua alma sofrida. Falou sobre os erros que cometera e sobre o caminho de autodestruição e miséria pelo qual enveredara.

Enquanto ouvia atentamente à triste história do João, o bispo podia perceber que o homem queria arrepender-se e mudar de vida. Mas podia também sentir que João tinha pouca confiança em sua capacidade de mudar.

O bispo pensou um pouco a respeito do que dizer. Finalmente disse: “João, fiz três escolhas em minha vida que considero valiosas. Elas também podem ser úteis para você”.

“Por favor, diga-me quais são”, implorou João. “Farei qualquer coisa. Quero simplesmente começar de novo. Quero voltar ao passado.”

O bispo sorriu e disse: “A primeira coisa que você precisa compreender é que não há como voltar para o passado e começar de onde você estava. Mas nem tudo está perdido. Você pode começar de onde se encontra agora. Decida-se começar a arrepender-se já”.

Até certo ponto, somos todos como João. Todos cometemos erros. Mas não importa o quanto queiramos voltar para o passado e recomeçar, não podemos fazê-lo. Podemos, contudo, começar de onde estamos hoje.

No Livro de Mórmon, lemos a respeito de Alma, o filho. Ele era filho de um grande profeta, mas rebelou-se contra o pai e procurou fazer o mal. Depois da aparição de um anjo que deixou-o sem forças e sem fala, Alma arrependeu-se e trabalhou pelo resto da vida para reparar o mal que fizera. Como resultado, ele abençoou e enriqueceu a vida de milhares de pessoas. Alma não admitiu que estivesse condenado por causa dos erros cometidos no passado. Ele compreendia que não poderia apagar o passado; mas também compreendia que tinha o poder de arrepender-se e começar mais uma vez, de onde estava.

Como começamos a nos arrepender?

Primeiro, admitindo nossos erros e decidindo arrepender-nos. Comprometendo-nos hoje, hoje mesmo, a ser melhores e viver com dignidade, a ser compassivos e mais semelhantes ao Salvador.

Nosso destino e condição final depende de nossas decisões diárias.

O grande profeta Josué do Velho Testamento sabia disso quando disse: “Escolhei hoje a quem sirvais;(…) porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor”.1

Josué sabia como era importante tomar a decisão de ser mais justo sem demora. Nós também devemos decidir agora. Nossa vida será cheia de remorso e desespero? Ou nos arrependeremos e faremos o esforço de fazer com que nossos dias sejam dignos e significativos?

A alegria ou o desespero de amanhã tem suas raízes nas decisões que tomarmos hoje. Talvez algumas pessoas pensem: “Sei que preciso mudar algumas coisas em minha vida. Mais tarde, talvez, mas não agora”.

Aqueles que estão no limiar da vida sempre esperando pelo momento certo de mudar são como o homem que está à margem do rio esperando que as águas passem, para que ele atravesse em terra seca.

Hoje é o dia da decisão.

Quando João ouviu as palavras do bispo, prometeu que faria o que o bispo dissera. Por causa de seus vícios, João sabia que precisava arrepender-se e cuidar da saúde. Então internou-se em uma clínica onde passou por um longo processo de recuperação. Ele começou a ingerir alimentos nutritivos. Passou a caminhar e a fazer outros exercícios.

As semanas se passaram. João conseguiu livrar-se de seus vícios. Viu que sua saúde estava melhorando e estava ficando mais forte. Mas ainda não estava satisfeito: Havia tantas coisas em sua vida que precisavam melhorar, que sentiu-se oprimido e desanimado.

Portanto, marcou outra entrevista com o bispo.

Foi então que o bispo contou-lhe qual era a segunda escolha: “João”, disse-lhe o bispo, “é bem provável que você tenha muita dificuldade, se achar que pode tornar-se perfeito em tudo de repente. O que você precisa aprender a fazer é escolher suas prioridades. Precisa colocar as coisas em ordem de importância”.

Na maioria das vezes, o crescimento acontece lentamente, um passo por vez. Sabemos disso no que se refere a aprender a tocar um instrumento musical, ou quando queremos tornar-nos um atleta bem-sucedido ou piloto de avião. Contudo, dificilmente conseguimos perdoar-nos por não fazermos o progresso esperado em todas as áreas de nossa própria vida.

Os grandes escultores e artistas passam incontáveis horas aperfeiçoando seus talentos. Eles não pegam o cinzel ou o pincel e a paleta e esperam a perfeição logo de início. Sabem que cometerão muitos erros durante seu aprendizado, mas começam pelas coisas básicas, as coisas fundamentais em primeiro lugar.

O mesmo se dá em nossa vida.

Tornamo-nos mestres de nossa própria vida da mesma forma: concentrando-nos primeiro nas coisas mais importantes. Temos uma boa idéia de quais são as decisões mais importantes que temos de tomar, as decisões que melhorarão nossa vida e nos trarão mais felicidade e paz. É por aí que devemos começar. É nesse ponto que devemos concentrar nossos maiores esforços.

Todas as noites, antes de me deitar, pego um cartãozinho e faço uma lista das coisas que preciso fazer no dia seguinte, de acordo com a prioridade.

Quando chego ao escritório, pela manhã, verifico o cartão e concentro todos os meus esforços no primeiro item da lista. Quando termino aquele item, passo para o segundo, e assim por diante. Alguns dias termino todos os itens da lista. Outros, deixo algumas tarefas incompletas. Todavia, não fico desanimado porque estou concentrando minhas energias nas coisas que mais importam.

João começou a compreender que não poderia mudar todas as coisas erradas em sua vida de uma hora para outra, mas podia escolher suas prioridades. Podia concentrar nas coisas que mais importavam, e com o tempo, sua vida começaria a melhorar.

Com a ajuda do presidente do quórum de élderes, João encontrou um lugar modesto para morar. Ele sabia que precisaria de uma forma de ganhar seu sustento, e quando sua saúde e atitude melhoraram, ele encontrou um emprego de meio-período.

Todas as noites antes de deitar-se, João fazia uma lista das coisas mais importantes que teria de fazer no dia seguinte.

Por fim, João começou a ter uma renda regular. Mudou-se para um lugar melhor e comprou um carro. Embora se sentisse muito melhor a respeito de sua vida, ainda achava que lhe faltava algo.

Por isso, João procurou o bispo pela terceira vez.

“A razão de você sentir-se vazio”, disse o bispo, “é porque você não fez a terceira escolha”.

João perguntou qual era a escolha.

“Não é suficiente fazer escolhas e tomar decisões e trabalhar nelas todos os dias”, disse o bispo. “Muitas pessoas passaram a vida toda fazendo um trabalho produtivo e realizaram muitas coisas. Mas ainda assim sentiram-se vazias. No final da vida, lamentaram dizendo que sua vida tivera pouco significado.”

Era exatamente isso que João estava sentindo.

O bispo prosseguiu, dizendo: “Não é suficiente fazer coisas. Precisamos fazer as coisas certas, as coisas que nosso Pai Celestial deseja que façamos”.

“Como posso saber quais são as coisas certas?” perguntou João.

O bispo sorriu, pegou as escrituras da mesa. A capa de couro dos livros estava gasta e amassada. “Seu corte dourado praticamente não mais existia. “Por meio das escrituras e das palavras dos profetas modernos”, respondeu o bispo. “Essas são as ‘coisas certas’. Algumas pessoas acham que os mandamentos de nosso Pai Celestial nos restringem e são severos. Ao contrário, eles são um manual para a felicidade. Todos os aspectos do Evangelho de Jesus Cristo, os princípios, doutrinas e mandamentos, fazem parte do plano que o Pai Celestial traçou para ajudar-nos a alcançar a paz e a felicidade.”

O bispo abriu o Livro de Mórmon e leu as palavras do rei Benjamim: “(…) [Considereis] o estado abençoado e feliz daqueles que guardam os mandamentos de Deus. Pois eis que são abençoados em todas as coisas, tanto materiais como espirituais; e se eles se conservarem fiéis até o fim, serão recebidos no céu, para que assim possam habitar com Deus em um estado de felicidade sem fim (…)”.2

Enquanto o bispo falava, João refletiu sobre sua vida. As coisas que tinha adquirido não lhe trouxeram felicidade. Talvez o que o bispo dizia estava certo. Talvez a felicidade viesse de se viver em harmonia com os mandamentos do Pai Celestial.

“Lembre-se das palavras do Salvador”, disse o bispo, como se soubesse o que João estava pensando: “Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?”3

Naquela mesma noite, João fez o compromisso de abrir a palavra de Deus e aprender por si mesmo os mandamentos e as doutrinas de seu Pai Celestial. Não mais opôs-se às palavras do Senhor, mas aceitou-as e deu valor a elas. Ao fazê-lo, o vazio em sua alma começou a diminuir, e em seu lugar, ele começou gradualmente a descobrir uma alegria e paz que excediam todo entendimento.

As coisas que o bispo dissera a João tinham realmente transformado sua vida. Embora já tivesse se sentido quebrantado, angustiado e próximo da morte; naquele momento, ele se sentia vivo, vibrante e cheio de alegria.

Irmãos e irmãs, nosso amoroso Pai Celestial deu-nos as escrituras para que aprendamos a distinguir o caminho para a paz e a felicidade. Temos atualmente um grande motivo para regozijar-nos, porque Seu Filho fala a todos nós!

O Senhor não está sentado lá nos céus, silencioso e isolado atrás de muralhas impenetráveis. Sob a direção de nosso Pai Celestial, o Senhor dirige Seus servos ungidos. Neste exato momento, nosso profeta, o Presidente Gordon B. Hinckley dirige o santo trabalho do Senhor aqui na Terra.

Além disso, a luz de Cristo, guia todos os mortais ao nosso Pai Celestial e às Suas verdades. Ela ensina-nos a amarmos o Senhor e a amarmos nosso próximo, pois “o Espírito de Cristo é concedido a todos os homens, para que eles possam distinguir o bem do mal”.4

Temos poucas desculpas para não escolhermos o caminho do Senhor. Vocês acham que no Dia do Juízo, nosso Salvador Se importará com a riqueza que acumulamos ou os elogios que recebemos? Ele deseja que nos acheguemos a Ele, que aprendamos Dele e descubramos o puro amor de Cristo, que advém de seguirmos Sua palavra e obedecermos Seus mandamentos.

É desse modo que removeremos o vazio de nossa vida e que encheremos a alma com uma alegria indescritível.

Posso recapitular essas três escolhas para que vocês reflitam a respeito delas? Sem dúvida vocês mesmos fizeram escolhas que vêm seguindo com sucesso durante sua vida.

Em primeiro lugar, decidam iniciar agora mesmo o processo de arrependimento. Não deixem para depois. Assistam as reuniões e sirvam com alegria na Igreja. Aprendam os princípios do evangelho e vivam de acordo com eles. Comecem agora mesmo a trilhar o caminho que os levará ao templo.

Em segundo lugar, escolham suas prioridades. A família deve vir em primeiro lugar. Realizem reuniões de noite familiar de qualidade. Façam com que o tempo que vocês passam com a família seja condizente com a importância que ela tem para vocês. Amem e cuidem dos membros da família e nunca deixem sua vida atarefada e suas frustrações afastá-los deles. Esforcem-se todos os dias para ser mais obedientes aos mandamentos do Senhor.

Em terceiro lugar, escolham o certo. Estudem as escrituras e as palavras de nosso profeta atual, o Presidente Gordon B. Hinckley. Apliquem esses ensinamentos sagrados em sua vida. Estendam a mão aos aflitos, aos solitários, aos enfermos e aos necessitados. Façam o que puderem para aliviar o sofrimento e ajudar outras pessoas a tornarem-se auto-suficientes. À medida em que fizerem essas coisas, o Senhor ficará satisfeito com vocês.

Irmãos e irmãs, sei que nosso Pai Celestial e Seu Filho Amado vivem. Testifico a vocês que Joseph Smith foi chamado para organizar a Igreja do Senhor na dispensação da plenitude dos tempos. Como testemunha especial do nome de Jesus Cristo, sei que o Salvador deu a vida por nós. Por meio de Sua Expiação, toda a humanidade pode arrepender-se e ser purificada do pecado. Podemos voltar ao nosso Pai Celestial e reconhecer o valor do infinito sacrifício de nosso Salvador. Disso testifico em nome do Senhor Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Josué 24:15.

  2. Mosias 2:41.

  3. Marcos 8:36.

  4. Morôni 7:16.