2010
Nosso Caminho do Dever
Maio de 2010


Nosso Caminho do Dever

O dever não exige perfeição, mas demanda diligência. Não se trata simplesmente do que é legal, mas sim do que é virtuoso.

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Bishop Keith B. McMullin

Vivemos num mundo conturbado. Há discórdia e catástrofes em todo lugar. Às vezes, parece que a própria humanidade está ameaçada.

Prenunciando os dias de hoje, o Senhor disse: “Os céus tremerão, assim como a Terra; e haverá grandes tribulações entre os filhos dos homens, mas meu povo eu preservarei”.1 Devemos sentir-nos reconfortados com essa promessa.

Embora as catástrofes despedacem completamente “o próprio teor de [nossos] caminhos”2, elas não precisam necessariamente deixar nossa vida em frangalhos para sempre. Elas podem atingir-nos para que nos lembremos3 de “despertar em [nós] o senso de [nosso] dever para com Deus”4 e manter-nos no caminho de nossos deveres.5

Na Holanda, durante a Segunda Guerra Mundial, a família Casper ten Boom usou a casa como esconderijo para pessoas perseguidas pelos nazistas. Essa foi sua maneira de viver a fé cristã. Quatro membros da família perderam a vida por oferecer esse refúgio. Corrie ten Boom e sua irmã, Betsie, passaram meses de horror no infame campo de concentração de Ravensbrück. Betsie morreu nesse lugar, mas Corrie sobreviveu.

Em Ravensbrück, Corrie e Betsie aprenderam que Deus nos ajuda a perdoar. Depois da guerra, Corrie tomou a resolução de compartilhar essa mensagem. Certa ocasião, ela havia acabado de falar a um grupo de pessoas, na Alemanha, que sofriam devido à devastação da guerra. Sua mensagem fora “Deus perdoa”. Foi nesse momento que a fidelidade de Corrie ten Boom trouxe à luz sua bênção.

Um homem se aproximou. Ela o reconheceu como um dos guardas mais cruéis daquele campo. “Você mencionou Ravensbrück em seu discurso”, disse ele. “Eu era guarda lá. Mas depois daquela época, tornei-me cristão.” Ele explicou-lhe que havia buscado o perdão de Deus pelas coisas horríveis que havia feito. Estendeu a mão e perguntou a ela: “Você me perdoa?”

Corrie ten Boom disse, depois:

“Não deve ter durado mais do que alguns segundos — ele parado ali, a mão estendida — mas, para mim, foram horas, durante as quais eu me debatia com a coisa mais difícil que já tivera de fazer.

(…) A mensagem de que Deus perdoa tem uma (…) condição: precisamos perdoar aqueles que nos prejudicaram.

(…) Orei em silêncio: ‘Ajude-me! Eu consigo erguer a mão. Posso fazer até aí. O sentimento fica por Sua conta’.

Inexpressiva e mecanicamente, apertei bruscamente a mão que estava estendida em minha direção. Ao fazer isso, algo incrível aconteceu. A corrente começou em meu ombro, correu pelo braço e jorrou sobre as duas mãos unidas. Em seguida, esse calor reconfortante pareceu fluir por meu corpo inteiro, levando lágrimas aos olhos.

‘Eu o perdoo, irmão’, exclamei, ‘de todo o coração’.

Por um longo momento apertamos a mão um do outro: o ex-guarda e a ex-prisioneira. Jamais senti o amor de Deus tão intensamente quanto naquela ocasião”.6

Para aqueles que evitam o mal e levam uma vida digna, que se esforçam por um dia melhor e cumprem os mandamentos de Deus, as coisas podem melhorar cada vez mais, mesmo diante da tragédia. O Salvador mostrou-nos o que devemos fazer. Do Getsêmani, da cruz e do sepulcro, Ele Se ergueu triunfante, trazendo vida e esperança a todos nós. Hoje, Ele nos exorta: “Vem, e segue-me”.7

O Presidente Thomas S. Monson aconselhou-nos: “Para que andemos com a cabeça erguida, devemos fazer nossa contribuição à vida. Para que cumpramos nosso destino e voltemos a viver com nosso Pai Celestial, devemos cumprir Seus mandamentos e seguir o exemplo de vida do Salvador. Ao fazer isso, não só atingiremos nossa meta de vida eterna, mas também deixaremos o mundo mais rico e melhor do que teria sido se não tivéssemos vivido e cumprido nosso dever.”8

Na Bíblia Sagrada encontramos estas palavras inspiradoras: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem”.9

Mas o Que É Isso a Que Chamamos Dever?

O dever ao qual me refiro é o que se espera que façamos e sejamos. É o imperativo moral que faz brotar de pessoas e de comunidades tudo o que seja justo, verdadeiro e honrado. O dever não exige perfeição, mas demanda diligência. Não se trata simplesmente do que é legal, mas sim do que é virtuoso. Não está reservado ao poderoso ou a quem está no alto escalão; pelo contrário, repousa no alicerce da responsabilidade, da integridade e da coragem pessoal. Cumprir o dever é uma manifestação de fé.

O Presidente Monson disse, a esse respeito: “Amo e tenho carinho pela nobre palavra dever”.10 Para os membros da Igreja de Jesus Cristo, o caminho do nosso dever é cumprir nossos convênios diariamente.

Nosso Dever Diz Respeito a Quem e a Quê?

Primeiro, nosso dever diz respeito a Deus, nosso Pai Eterno. Ele é o Autor do plano de salvação, o criador do céu e da Terra, o criador de Adão e Eva.11 Ele é a fonte da verdade12, a personificação do amor13 e a razão da Redenção por meio de Cristo.14

O Presidente Joseph F. Smith disse: “Tudo o que temos provém de [Deus]. (…) Por nós mesmos, não seríamos mais do que uma porção de barro inerte. A vida, a inteligência, a sabedoria, o juízo, o poder de raciocínio, todos são dons de Deus aos filhos dos homens. Ele nos dá força física e também poder mental. (…) Devemos honrar a Deus com nossa inteligência, com nossa força, nosso entendimento, nossa sabedoria e com todo o poder que possuímos. Devemos buscar fazer o bem no mundo. Esse é o nosso dever”.15

Ninguém pode cumprir seu dever para com Deus, o Pai, sem fazer o mesmo para com o Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo. Para reverenciar um, é preciso ter reverência pelo outro, pois o Pai indicou que é somente em nome de Cristo e pelo nome de Cristo que se pode cumprir completamente esse zeloso encargo.16 Ele é nosso Exemplo, nosso Redentor e nosso Rei.

Quando os homens, mulheres, meninos e meninas cumprem seu dever para com Deus, sentem-se impelidos a cumprir seu dever uns para com os outros, para com sua família, para com seu país e para com todas as coisas sob seus cuidados. Seu dever diz respeito a magnificar seus talentos e a ser pessoas boas e cumpridoras da lei. Tornam-se humildes, submissos e fáceis de conviver. A temperança conquista a indulgência; a obediência guia sua diligência. A paz se derrama sobre eles. Cidadãos tornam-se leais; comunidades tornam-se benevolentes e vizinhos tornam-se amigos. O Deus dos céus Se agrada; a Terra fica em paz, e este mundo se torna um lugar melhor.17

Como Identificar o Caminho do Nosso Dever em Meio à Crise?

Nós oramos! Esse é o meio mais seguro de saber; é a linha direta de conexão com o céu. O Apóstolo Pedro disse: “Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas orações”.18

A oração humilde, sincera e inspirada torna disponível a cada um de nós a orientação divina de que necessitamos tão desesperadamente. Brigham Young aconselhou-nos: “Há ocasiões em que os homens ficam sem saber o que fazer, cheios de problemas e preocupações (…); mas nossa consciência nos ensina que temos a obrigação de orar”.19

Jesus ensinou:

“Deveis vigiar e orar sempre para não cairdes em tentação (…).

Portanto deveis sempre orar ao Pai em meu nome. (…)

Orai ao Pai no seio de vossa família, sempre em meu nome, a fim de que vossas mulheres e vossos filhos sejam abençoados”.20

Para serem eficazes, as orações devem ser feitas em harmonia com o plano dos céus. A oração com fé produz fruto quando existe essa harmonia, e essa harmonia existe quando as orações são inspiradas pelo Espírito Santo. O Espírito indica o que devemos pedir.21 Sem ter essa orientação inspiradora, somos inclinados a pedir mal22 para que seja feita a nossa vontade e não a vontade do Senhor.23 Tal oração traz as bênçãos do céu porque nosso Pai “sabe o que [nos] é necessário, antes de [nós] lho [pedirmos]”24, e Ele atende a cada oração sincera. Por fim, são o Pai e o Filho que prometem: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á”.25

Presto-lhes meu testemunho de que o caminho do nosso dever está claramente marcado pela inabalável fé e crença em Deus, o Pai Eterno, e em Seu Filho, Jesus Cristo, e pelo poder da oração. Esse caminho deve ser percorrido por todos os filhos de Deus que O amam e desejam cumprir Seus mandamentos. Para os jovens, conduz à preparação e a realização pessoal; para os adultos, conduz à fé e à resolução renovada; para a geração mais antiga, conduz à perspectiva e à perseverança em retidão até o fim. Ele instrumenta todo viajante fiel com a força do Senhor, protege-o contra os males do dia e o investe com a sabedoria de que “de tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem”.26 Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Moisés 7:61; grifo do autor.

  2. Joseph F. Smith, Gospel Doctrine, 5a ed., 1939, p. 156.

  3. Ver Mosias 1:17.

  4. Alma 7:22.

  5. Ver Helamã 15:5.

  6. Corrie ten Boom, Tramp for the Lord, 1974, pp. 54–55.

  7. Lucas 18:22.

  8. Thomas S. Monson, transcrito com permissão.

  9. Eclesiastes 12:13; grifo do autor.

  10. Thomas S. Monson, “Duty Calls”, Ensign, maio de 1996, p. 43.

  11. Ver Doutrina e Convênios 20:17–19.

  12. Ver Doutrina e Convênios 93:36.

  13. Ver I João 4:8.

  14. Ver João 3:16; Helamã 5:10–11.

  15. Joseph F. Smith, Conference Report, outubro de 1899, p. 70; grifo do autor.

  16. Ver Morôni 10:32–33; Doutrina e Convênios 59:5.

  17. Ver Alma 7:23, 27.

  18. I Pedro 3:12.

  19. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Brigham Young, 1977, p. 45.

  20. 3 Néfi 18:18–19, 21.

  21. Ver Doutrina e Convênios 50:29–30.

  22. Ver Tiago 4:3.

  23. Ver Mateus 6:10.

  24. Mateus 6:8.

  25. Mateus 7:7; ver também JST — Matthew 7:12–13, no apêndice da Bíblia.

  26. Eclesiastes 12:13; grifo do autor.