2012
Aconselhamento Mútuo no Casamento
Junho de 2012


Nosso Lar, Nossa Família

Aconselhamento Mútuo no Casamento

Trabalho como terapeuta de casais e famílias em Victoria, no Canadá, e aconselhei Bob e Mary (os nomes foram mudados), um casal que costumava brigar quando tentava tomar decisões em conjunto. Numa das sessões, Bob me disse: “Tento presidir e organizar as coisas, mas quando tenho alguma ideia quanto ao que precisamos fazer, ela não apoia o sacerdócio!”

Com base naquele comentário, pude perceber que ele não compreendia plenamente o significado de presidir. Quando um casal se une, a parceria é formada em termos de igualdade, na qual eles se esforçam por tomar decisões juntos em espírito de união.

Usei com aquele casal alguns princípios do aconselhamento mútuo que extraí do modelo dos conselhos do sacerdócio. Embora o funcionamento dos conselhos no lar seja diferente do existente nos conselhos na Igreja, muitos dos mesmos princípios se aplicam. Ao nos empenharmos para aplicar esses princípios em nosso lar, eles podem ajudar-nos a fortalecer nosso casamento de um modo agradável ao Senhor.

Princípio 1: Unanimidade ao Tomar Decisões

Nos Conselhos do Sacerdócio

As presidências, os conselhos e os bispados trabalham todos segundo os princípios do acordo unânime e harmonioso. O Élder M. Russell Ballard explicou que o Quórum dos Doze Apóstolos chega a uma decisão coesa antes de agir em relação a qualquer assunto: “Discutimos uma vasta gama de questões, da administração da Igreja às atualidades do mundo, e o fazemos de modo franco e aberto. Há questões que são discutidas durante semanas, meses e por vezes até anos antes que se chegue a uma decisão”.1 A união é tão importante que eles só seguem em frente quando há consenso.

O Senhor ensinou a Joseph Smith o mesmo princípio da união nos conselhos: “E toda decisão tomada por um desses quóruns deve sê-lo pelo voto unânime do mesmo; isto é, cada membro de cada quórum deve concordar com suas decisões, a fim de que estas tenham o mesmo poder ou validade entre si” (D&C 107:27).

O Élder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos, reforçou esse princípio quando ensinou: “Não podemos receber revelação se não estivermos unidos”.2 Quando estamos unidos em propósito e oração, convidamos a orientação e a inspiração do Espírito Santo.

No Lar

O princípio da união é verdadeiro para os conselhos do sacerdócio e também para os casamentos. As Autoridades Gerais ensinaram que o conselho familiar é o conselho mais básico da Igreja.3 Observem que eles não ensinaram que o marido ou que a mulher é o conselho mais básico. Esse conselho consiste nos dois juntos.

Não é incomum que os casais tenham dificuldade para chegar a uma decisão unânime, principalmente quando o assunto em questão é importante. Além disso, quando os cônjuges estão mais preocupados em ter razão do que em chegar a um consenso, “a comunicação com o Pai Celestial é rompida [e] a comunicação entre os cônjuges também se rompe. E o Pai Celestial não irá interferir. Ele, em geral, não Se intromete onde não é convidado”.4 De fato, o segredo é convidar o Pai Celestial para nossas conversas — em vez de excluí-Lo. Se humildemente trabalharmos em conjunto e ouvirmos uns aos outros, ganharemos a bênção essencial da orientação do Senhor.

É importante tomar decisões em conjunto sob a orientação do Espírito — principalmente se, pela lógica, a decisão não parecer a melhor escolha. O Presidente George Q. Cannon (1827–1901), primeiro conselheiro na Primeira Presidência, explicou que o Senhor apoiará o conselho de líderes unidos, aperfeiçoará os planos imperfeitos deles e “os complementará com Sua sabedoria e Seu poder e os tornará eficazes”.5 Essa promessa está ao alcance de todos os conselhos, inclusive os casais.

No entanto, a tomada de decisões nem sempre tem de seguir um processo formal. O Élder Ballard ensina que “quando marido e mulher conversam entre si, eles estão realizando um conselho de família”.6

Além disso, assim como o Senhor não nos compele em tudo, os cônjuges não precisam convocar conselhos para cada decisão. Os cônjuges devem confiar um no outro na tomada de decisões cotidianas que tenham poucas consequências eternas. Juntos, com a orientação do Senhor, das escrituras e das palavras do profeta, eles determinam as decisões que exigem diálogo.

Princípio 2: Participação Plena

Nos Conselhos do Sacerdócio

Na reunião mundial de treinamento de liderança de novembro de 2010, Julie B. Beck, presidente geral da Sociedade de Socorro, usou a seguinte escritura: “Dentre vós designai um professor e não falem todos ao mesmo tempo; mas cada um fale a seu tempo e todos ouçam suas palavras, para que quando todos houverem falado, todos sejam edificados por todos, para que todos tenham privilégios iguais” (D&C 88:122). Após as palavras dela, o Élder Walter F. González, da Presidência dos Setenta, observou que a participação promove a inspiração.7 Quando todos têm oportunidades iguais para contribuir, as ideias de cada pessoa se unem e ganham mais força.

No Lar

O princípio da participação nos ensina a importância de contar com a colaboração de ambos os cônjuges no processo de tomada de decisões. Não basta que um deles tome todas as decisões, e o outro apenas concorde. Os casais alcançam maior sucesso quando ambos os cônjuges buscam inspiração e, em seguida, ouvem os pensamentos e sentimentos um do outro.

O Presidente Howard W. Hunter (1907–1995) disse: “Um homem que possui o sacerdócio aceita sua esposa como parceira na liderança do lar e da família, com pleno conhecimento e plena participação em todas as decisões relativas a eles. (…) Na concepção do Senhor, a esposa deve ser uma adjutora — isto é, uma companheira em pé de igualdade e necessária numa parceria plena”.8 Fomos feitos para ajudar-nos mutuamente. Quando convidamos e aceitamos a participação de nosso cônjuge, podemos desfrutar de um dos grandes benefícios do casamento.

Princípio 3: Presidir em Retidão

Nos Conselhos do Sacerdócio

É vital que compreendamos o significado correto de presidir para realizar um conselho do sacerdócio bem-sucedido. Aqueles que presidem e cuidam da Igreja (ver Alma 6:1) são responsáveis por garantir que a união, a participação igualitária e outros princípios que regem os conselhos sejam respeitados. O Élder Ballard ressalta que “os portadores do sacerdócio nunca devem esquecer que não têm o direito de exercer a autoridade do sacerdócio como se fosse um chicote ameaçador. (…) O sacerdócio é para o serviço, não para a servidão; para a compaixão, não para a coação; para cuidar, não para controlar. Quem discorda está agindo fora dos parâmetros da autoridade do sacerdócio”.9

No Lar

O dever patriarcal do marido como aquele que preside no lar não é dominar os outros, mas garantir que o casamento e a família prosperem. O Presidente David O. McKay (1873–1970) explicou que um dia todo homem terá uma entrevista pessoal do sacerdócio com o Salvador: “Primeiro, Ele pedirá uma prestação de contas sobre o relacionamento dele com a esposa e perguntará: ‘Você se empenhou ao máximo para fazê-la feliz e assegurar que suas necessidades individuais fossem supridas?”10

O marido é responsável pelo crescimento e pela felicidade em seu casamento, mas tal responsabilidade não lhe dá autoridade sobre a esposa. Ambos estão no comando do casamento. Nos conselhos matrimoniais realizados em retidão, ambos os cônjuges partilham virtudes que, quando aplicadas, ajudam os dois a concentrarem-se nas necessidades um do outro.

Podemos estudar algumas dessas virtudes em Doutrina e Convênios 121:41: “Nenhum poder ou influência pode ou deve ser mantido em virtude do sacerdócio, a não ser com persuasão, com longanimidade, com brandura e mansidão e com amor não fingido”.

Não podemos usar o sacerdócio para reivindicar poder e influência. Portanto, não podemos utilizar meios injustos para estabelecer dominação no casamento. O verdadeiro poder só vem quando trabalhamos juntos em retidão e assim fazemos jus às bênçãos do Senhor.

Edificar um Casamento Eterno

Os casais que têm problemas devido a comportamentos controladores ou a divergências sobre como lidar com o tempo, o dinheiro, os filhos, os sogros ou qualquer outra coisa devem pensar em reavaliar os princípios que escolheram como alicerce de seu casamento. Será que podem melhorar seu casamento estabelecendo um padrão no qual se aconselham mutuamente com amor não fingido?

Os princípios da união, da participação e do presidir em retidão nos permitem chegar a um consenso adequado com nosso cônjuge e propiciar a presença do Espírito em nossa vida. A aplicação das virtudes do amor e da bondade aplacará muitos desentendimentos, proporcionará maior satisfação no casamento e construirá um relacionamento que pode durar por toda a eternidade.

Notas

  1. M. Russell Ballard, Counseling with Our Councils: Learning to Minister Together in the Church and in the Family, 1997, pp. 18–19.

  2. David A. Bednar, em “Debate sobre os Princípios do Evangelho”, Reunião Mundial de Treinamento de Liderança de 2010, lds.org/broadcasts/archive/worldwide-leadership-training/2010/11.

  3. Ver Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Spencer W. Kimball, 2006, p. 235.

  4. M. Russell Ballard, “Conselhos de Família: Uma Conversa com o Élder e a Irmã Ballard”, A Liahona, junho de 2003, p. 17.

  5. Gospel Truth: Discourses and Writings of George Q. Cannon, sel. Jerreld L. Newquist, 1957, p. 163.

  6. M. Russell Ballard, “Conselhos de Família”, A Liahona, junho de 2003, p. 12.

  7. Ver “Debate sobre os Princípios do Evangelho”, Reunião Mundial de Treinamento de Liderança de 2010.

  8. Howard W. Hunter, “Being a Righteous Husband and Father”, Ensign, novembro de 1994, pp. 50–51.

  9. M. Russell Ballard, “Força em Conselho”, A Liahona, janeiro de 1994, p. 82.

  10. David O. McKay, citado por Robert D. Hales, “Understandings of the Heart” (discurso devocional na Universidade Brigham Young, 15 de março de 1988, p. 8), speeches.byu.edu.

Assim como os conselhos do sacerdócio empenham-se para alcançar união em suas decisões, a união no casamento é essencial.

Nos conselhos matrimoniais realizados em retidão, ambos os cônjuges tentam — por meio do respeito, da bondade e da participação plena — fortalecer a relação e buscar união.

Ilustrações fotográficas: Robert Casey, exceto quando indicado em contrário; à direita: ilustração fotográfica de Craig Dimond