2012
Um Sussurro de Bondade
Julho de 2012


Um Sussurro de Bondade

“Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam” (Lucas 6:27).

“Carlos está aqui hoje”, disse a mãe de Tiago, apontando para um menino que estava no corredor, junto à sala da Primária.

Tiago resmungou. Carlos vestia calças jeans e uma camisa velha. Tiago sabia que seus pais jamais permitiriam que ele se vestisse assim para ir à Igreja, mas eles também jamais permitiriam que ele fizesse várias outras coisas que o Carlos fazia.

Na semana anterior, na escola, Carlos foi expulso da sala de aula por responder à professora. Ele sempre zombava da maneira como Tiago se vestia e implicava com ele por ser o mais baixinho da escola.

“E se ele gritar com a irmã Inês ou começar uma briga?” perguntou Tiago.

“Tenho certeza de que tudo ficará bem”, disse a mãe. “O Carlos nunca veio à Igreja e deve estar nervoso.”

Quando a aula começou, a irmã Inês perguntou quem tinha trazido as escrituras. Tiago levantou a mão com todo o restante da turma, mas Carlos fez que não com a cabeça. Ele parecia envergonhado, e isso surpreendeu Tiago. Carlos geralmente soltava uma piada quando não fazia a lição de casa. Quanto mais Tiago pensava naquilo, mais se perguntava como seria ir pela primeira vez a uma nova igreja.

A irmã Inês emprestou as escrituras dela para o Carlos usar. Quando foi a vez de Carlos ler uma escritura, Tiago começou a se preocupar. E se Carlos jogasse as escrituras no chão e se recusasse a ler?

Mas, Carlos não fez nada daquilo. Começou a ler as palavras da página e fez uma careta. Logo, ele percebeu que Carlos não sabia ler muito bem. Tiago nunca tinha notado isso antes na escola.

Tiago inclinou-se na direção do Carlos e sussurrou: “Em verdade”.

Carlos ficou surpreso, mas disse a palavra e continuou a ler o versículo. Quando tinha dificuldade para ler uma palavra, o Tiago o ajudava. No final de sua vez, Carlos olhou para o Tiago e acenou discretamente com a cabeça.

Tiago não tinha certeza se as coisas seriam diferentes na escola depois daquilo. O engraçado era que ele não se importava. Sentia-se bem por saber que tinha ajudado um menino que sempre implicava com ele, e ninguém podia roubar-lhe aquele sentimento.