2015
Porventura Não É Este o Jejum Que Escolhi?
Maio de 2015


“Porventura Não É Este o Jejum Que Escolhi?”

Sua oferta de jejum fará mais do que levar ajuda para alimentar e vestir outros. Vai curar e transformar corações.

Meus queridos irmãos e irmãs, para mim, é uma alegria estender o meu amor a vocês nesta conferência geral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Essa alegria provém do testemunho do Espírito de que o amor do Salvador se estende a cada um de vocês e a todos os filhos do Pai Celestial. Nosso Pai Celestial deseja abençoar Seus filhos, tanto espiritual como materialmente. Ele compreende cada uma de suas necessidades, dores e esperanças.

Quando oferecemos auxílio a alguém, o Salvador sente como se estivéssemos estendendo nossa ajuda para socorrê-Lo.

Ele nos disse que isso é verdade ao descrever o momento futuro pelo qual todos nós passaremos quando O virmos, depois que nossa vida neste mundo estiver concluída. A imagem desse dia se tornou mais vívida em minha mente nos dias em que orei e jejuei para saber o que dizer nesta manhã. O relato do Senhor a respeito dessa futura entrevista foi dado a Seus discípulos e descreve aquilo que desejamos, de todo o coração, ser verdade para nós também:

“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;

Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;

Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes me ver.

Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?

E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?

E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?

E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.1

Você e eu queremos receber essas acolhedoras boas-vindas do Salvador. Mas como podemos ser merecedores disso? Há mais filhos do Pai Celestial que estão famintos, desabrigados e solitários do que nossa possibilidade de socorrer. E, mais do que nunca, esses números crescem além de nosso alcance.

Assim, o Senhor deu a cada um de nós algo que podemos fazer. É um mandamento tão simples que uma criança consegue entender. É um mandamento com uma promessa maravilhosa para os necessitados e para nós.

É a lei do jejum. As palavras do livro de Isaías são uma descrição feita pelo Senhor sobre o mandamento e sobre a bênção disponível àqueles de nós em Sua Igreja:

“Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo?

Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?

Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda.

Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente;

E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia.

E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam”.2

Desse modo, o Senhor nos deu um mandamento simples com uma promessa maravilhosa. Na Igreja, hoje em dia, é dada a nós a oportunidade de jejuar uma vez por mês e de fazer uma oferta de jejum generosa, por meio de nosso bispo ou de nosso presidente de ramo, para o benefício dos pobres e dos necessitados. Parte de suas ofertas será usada para ajudar as pessoas ao seu redor, talvez alguém de sua própria família. Os servos do Senhor farão oração e jejum para saber, por revelação, a quem ajudar e qual ajuda prestar. A parte das ofertas que não for utilizada para ajudar as pessoas em sua unidade local da Igreja será disponibilizada para abençoar, no mundo todo, outros membros da Igreja que estejam necessitados.

Existem muitas bênçãos associadas ao mandamento de jejuar pelos pobres. O Presidente Spencer W. Kimball afirmou que falhar em seguir a lei do jejum é um pecado de omissão cuja pena é alta. Ele escreveu: “O Senhor faz ricas promessas aos que jejuam e ajudam os necessitados. (…) A inspiração e a orientação espiritual seguem a retidão e a proximidade ao Pai Celestial. Deixar de jejuar privar-nos-ia dessas bênçãos”.3

Recebi uma dessas bênçãos há poucas semanas. Já que a conferência geral acontece em um fim de semana em que normalmente teríamos a reunião de jejum e testemunho, jejuei e orei para saber como, ainda assim, poderia obedecer ao mandamento de cuidar dos necessitados.

Em um sábado, ainda jejuando, acordei às 6 horas e orei novamente. Senti que deveria ler o noticiário mundial. Lá, eu li a seguinte reportagem:

“O Ciclone Tropical Pam destruiu muitas casas ao atingir diretamente Porto Vila, a capital de Vanuatu. Matou pelo menos seis pessoas em Vanuatu, de acordo com o primeiro relatório confirmado sobre a tempestade, que foi uma das mais devastadoras a atingir o solo.

Quase todas as árvores se inclinavam com o vento enquanto o ciclone assolava toda a nação da ilha do Pacífico”.4

A equipe de avaliação de emergências da organização Visão Mundial planejou avaliar os danos após o término da tempestade. 

Eles aconselharam os moradores locais a buscar abrigo em edifícios resistentes como universidades e escolas.

E então eles disseram: “‘Os edifícios mais resistentes que eles têm são igrejas feitas de concreto’, disse Inga Mepham, da organização internacional CARE. (…) ‘Algumas igrejas não têm essa estrutura. É difícil encontrar uma estrutura que achamos ser capaz de resistir a uma tempestade categoria 5’”.5

Ao ler isso, lembrei-me de ter visitado pequenas casas em Vanuatu. Eu pude visualizar em minha mente as pessoas se reunindo nas casas que estavam sendo destruídas pelos ventos. E então, lembrei-me das boas-vindas acolhedoras que recebi das pessoas de Vanuatu. Pensei nessas pessoas e em seus vizinhos correndo para se proteger dentro de nossa capela feita de concreto.

Em seguida, imaginei o bispo e a presidente da Sociedade de Socorro andando entre essas pessoas, dando-lhes consolo, cobertores, alimentos para comer e água para beber. Pude imaginar as crianças, amedrontadas, reunindo-se para permanecerem juntas.

Embora os servos do Senhor estivessem tão longe da casa onde li a reportagem, eu sabia o que o Senhor faria por intermédio deles. Sei como eles foram capazes de socorrer os filhos do Pai Celestial; foi por meio das ofertas de jejum doadas pelos discípulos do Senhor, discípulos esses que estavam fisicamente longe daquelas pessoas, mas perto do Senhor.

Sendo assim, não esperei pelo domingo. Levei uma oferta de jejum a meu bispo naquela manhã. Sei que minha oferta poderá ser usada pelo bispo e pela presidente da Sociedade de Socorro para ajudar alguém no meu bairro. O uso de minha pequena oferta de jejum talvez não venha a ser necessário perto de onde minha família e eu moramos, mas talvez o excedente local possa ir mais longe e chegar até mesmo em Vanuatu.

Outras tempestades e tragédias atingirão o mundo e afetarão pessoas amadas pelo Senhor e cujos sofrimentos Ele sente. Parte de nossa oferta de jejum deste mês será usada para ajudar alguém, em algum lugar, cujo alívio o Senhor sentirá como se fosse Seu.

Sua oferta de jejum fará mais do que levar ajuda para alimentar e vestir outros. Vai curar e transformar corações. O fruto de uma oferta sincera pode ser o desejo no coração daquele que a recebeu de estender a mão para outras pessoas que estejam precisando. Isso acontece em todo o mundo.

Aconteceu na vida da irmã Abie Turay, que mora em Serra Leoa. Uma guerra civil teve início em 1991. Essa guerra devastou o país durante anos. Serra Leoa já era, na época, um dos países mais pobres do mundo. “Durante a guerra, não era claro quem [controlava] o país — os bancos e gabinetes do governo (…) foram fechados e as forças policiais se tornaram ineficazes contra as forças rebeldes (…) e havia caos, morte e sofrimento. Dezenas de milhares de pessoas perderam a vida e mais de 2 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas para não serem mortas.”6

Mesmo nessa época, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias cresceu.

Um dos primeiros ramos foi organizado na cidade onde a irmã Turay morava. Seu marido foi o primeiro presidente de ramo. Durante a guerra civil, ele serviu como presidente de distrito.

“Hoje em dia, quando a irmã Turay recebe visitas em sua casa, ela gosta de lhes mostrar dois tesouros que guardou da guerra, uma camisa listrada de azul e branco que ela recebeu dentre outras roupas usadas [que foram doadas por membros da Igreja] e um cobertor já bem gasto cheio de buracos.”7

Ela disse: “Esta camisa é a primeira (…) roupa que [recebi]. (…) Eu costumava usá-la para trabalhar; ela era muito boa. [Eu me sentia muito bonita com ela.] Eu não tinha outras roupas.

Durante a guerra, este cobertor manteve a mim e a meus filhos aquecidos. Quando os rebeldes [vinham] para nos atacar, esta era a única coisa que [conseguia] levar [comigo] enquanto [fugíamos para nos esconder na mata]. Então levávamos o cobertor conosco. Ele nos mantinha aquecidos e protegidos dos pernilongos”.8

“A irmã Turay fala de sua gratidão por um presidente de missão que conseguiu chegar ao país que estava devastado pela guerra e trouxe consigo algum dinheiro no bolso.” Esse dinheiro, vindo de doações de ofertas de jejum de pessoas como vocês, permitiu que os santos comprassem alimentos que a maioria dos serra-leonenses não podia comprar.9

Ao falar sobre aqueles que foram generosos em doar-lhes o suficiente para que sobrevivessem, a irmã Turay diz: “Quando penso nas pessoas que nos ajudaram (…), sinto que foram enviadas por Deus, pois foram seres humanos comuns que fizeram esse ato de bondade para [nós]”.10

Um visitante dos Estados Unidos esteve com a irmã Turay pouco tempo atrás. No período em que permaneceu com ela, um conjunto de escrituras que ficava em cima da mesa chamou a atenção do hóspede. Ele percebeu que essas escrituras eram um tesouro; “tinham marcações bem feitas com anotações nas colunas. As páginas estavam gastas e algumas estavam rasgadas. A capa já estava descolando”.

Ele segurou as escrituras em suas mãos e virou gentilmente as páginas. Ao fazê-lo, encontrou a via amarela de uma papeleta de doação de dízimo. Em um país onde um dólar tinha grande valor, Abie Turay havia pago um dólar de dízimo, um dólar para o fundo missionário e um dólar como oferta de jejum para aqueles que, como ela afirmou, eram “verdadeiramente pobres”.

O visitante fechou as escrituras da irmã Turay e sentiu que, na presença daquela fiel mãe africana, ele estava em solo sagrado.11

Assim como corações podem mudar ao receber as bênçãos que advêm de nossa oferta de jejum, também mudam quando o jejum é realizado em benefício dos outros. Até mesmo uma criança pode sentir isso.

Muitas crianças e alguns adultos podem, por motivos pessoais, achar difícil jejuar por 24 horas. Pode ser, como escreveu Isaías, que o jejum pareça “afligir [sua] alma”. Os pais sábios reconhecem essa possibilidade e, assim, têm o cuidado de seguir o conselho do Presidente Joseph F. Smith: “É melhor ensinar-lhes o princípio e, quando tiverem idade suficiente para decidir com sabedoria, deixar que o sigam”.12

Vi a bênção desse conselho se tornar realidade recentemente. Um de meus netos sentia que fazer um jejum de 24 horas estava além de sua capacidade. Mas seus sábios pais ainda assim ensinaram-lhe o princípio. Um de seus amigos da escola perdeu, recentemente, um primo ainda novo, em um acidente. No dia de jejum, por volta da hora do dia em que sempre sentia que continuar jejuando era muito difícil, meu neto perguntou à sua mãe se, ao continuar o jejum, isso ajudaria seu amigo que estava triste a sentir-se melhor.

Sua pergunta foi a confirmação do conselho dado pelo Presidente Joseph F. Smith. Meu neto chegara a um momento de sua vida em que ele não apenas compreendia o princípio do jejum, mas também no qual esse princípio havia sido plantado em seu coração. Ele passou a sentir que seu jejum e suas orações levariam uma bênção de Deus a alguém que precisasse. Se ele viver o princípio do jejum com frequência suficiente, isso trará à vida dele os efeitos maravilhosos, como prometido pelo Senhor. Ele terá a bênção espiritual de ser capaz de receber inspiração e de ter maior capacidade de resistir às tentações.

Não sabemos todas as razões pelas quais Jesus Cristo foi ao deserto para jejuar e orar. Mas sabemos pelo menos um dos efeitos alcançados: o Salvador resistiu totalmente às tentações de Satanás de fazer mau uso de Seu poder divino.

O curto período no qual jejuamos todo mês e a pequena quantia que oferecemos para ser doada aos pobres talvez nos deem apenas uma pequena parte da mudança de natureza que nos levará a não mais desejar praticar o mal. Mas há uma grande promessa ao fazermos tudo o que pudermos, dentro de nossas possibilidades, para orar, jejuar e fazer doações aos necessitados:

“Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda.

Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui”.13

Oro para que reivindiquemos as grandes bênçãos para nós mesmos e para nossa família.

Presto meu testemunho de que Jesus é o Cristo, que, em Sua Igreja, somos convidados a ajudá-Lo a cuidar dos pobres à Sua maneira e que Ele promete que bênçãos eternas virão por meio de nossa ajuda a Ele. No sagrado nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Mateus 25:34–40.

  2. Isaías 58:6–11.

  3. Spencer W. Kimball, O Milagre do Perdão (1969), p. 98.

  4. Ver Steve Almasy, Ben Brumfield e Laura Smith-Spark, “Cleanup begins in Vanuatu after cyclone batters islands”, [Inicia-se a limpeza em Vanuatu depois de a Ilha Ser Atingida por Ciclone], 14 de março de 2015, edition.cnn.com.

  5. Ver Sean Morris, Steve Almasy e Laura Smith-Spark, “‘Unbelievable Destruction’ Reported in Tropical Cyclone Pam’s Wake” [‘Destruição Inacreditável’ É Relatada no Despertar do Ciclone Tropical Pam], 14 de março de 2015, edition.cnn.com.

  6. Peter F. Evans, “Sister Abie Turay’s Story” [A História da Irmã Turay], manuscrito não publicado.

  7. Peter F. Evans, “Sister Abie Turay’s Story” [A História da Irmã Turay].

  8. Abie Turay, citado em Peter F. Evans, “Sister Abie Turay’s Story” [A História da Irmã Turay].

  9. Peter F. Evans, “Sister Abie Turay’s Story” [A História da Irmã Turay].

  10. Abie Turay, citado em Peter F. Evans, “Sister Abie Turay’s Story” [A História da Irmã Turay].

  11. Peter F. Evans, “Sister Abie Turay’s Story” [A História da Irmã Turay]; um vídeo sobre a irmã Turay: “We Did Not Stand Alone” [Não Permanecemos Sós], encontra-se no endereço lds.org/media-library (não disponível em português).

  12. Joseph F. Smith, “Editor’s Table”, Improvement Era, dezembro de 1903, p. 149.

  13. Isaías 58:8–9.