2015
Esqueça
Junho 2015


Até Voltarmos a Nos Encontrar

Esqueça

Extraído de “O Bálsamo de Gileade”, A Liahona, janeiro de 1988, p. 14.

O mundo de meu amigo desabou. Havia perdido a esposa.

Imagem
illustration of young man at door with approaching elderly man

Ilustração: Paul Mann

Se estiver sofrendo com preocupações, pesar, vergonha, ciúme, desapontamento, inveja, autorrecriminação ou autojustificação, pondere esta lição que me foi ensinada há muitos anos por um patriarca. Ele era um dos homens mais santos que conheci. (…)

Tinha sido criado numa pequena comunidade, com o intenso desejo de tornar-se alguém na vida. Lutou muito para conseguir instrução.

Casou-se com sua amada e, na época, as coisas iam bem. Tinha um bom emprego, com ótimas perspectivas para o futuro. Estavam profundamente apaixonados, e logo ela ficou grávida de seu primeiro filho.

Na noite em que o bebê nasceu, houve complicações. O único médico disponível estava atendendo a um doente em algum lugar da zona rural. (…)

Por fim, o médico foi localizado. Naquela emergência, ele agiu rapidamente e, pouco depois, o bebê nasceu, e a crise estava aparentemente terminada.

Mas, alguns dias depois, a jovem mãe morreu da mesma infecção que o médico tratara em outra casa naquela noite.

O mundo de John desabou. Nada mais estava certo, tudo errado. Havia perdido a esposa. Não tinha como cuidar do bebê e do trabalho.

À medida que as semanas se passaram, sua dor aumentou. “Aquele médico não devia ter permissão de clinicar”, dizia. “Foi ele quem infectou minha mulher. Se tivesse tomado mais cuidado, ela ainda estaria viva.”

Ele não conseguia pensar em mais nada e, em sua amargura, tornou-se vingativo. (…)

Certa noite, alguém bateu a sua porta. Uma menina disse simplesmente: “Meu pai quer que você venha a nossa casa. Ele gostaria de conversar com você”.

“O pai” era o presidente da estaca. (…)

Aquele pastor espiritual vinha vigiando seu rebanho e tinha algo a dizer-lhe.

O conselho daquele sábio líder foi simplesmente: “John, esqueça. Nada do que você faça vai trazê-la de volta. Tudo o que você fizer só vai piorar a situação. John, esqueça”.

Ele se debateu em agonia para conseguir dominar-se. Por fim, decidiu que devia obedecer, apesar dos pesares.

A obediência é um poderoso medicamento espiritual. Ela pode servir como cura para quase tudo.

Decidiu acatar o conselho daquele sábio líder espiritual. Ele esqueceria.

Ele me contou: “Foi só quando fiquei velho que finalmente consegui entender a vida daquele pobre médico do interior: sobrecarregado de trabalho, mal pago, correndo sem recursos de um paciente a outro, com poucos medicamentos, sem hospital, com poucos instrumentos, lutando para salvar vidas e tendo sucesso na maioria dos casos.

Ele tinha chegado a um momento de crise, quando duas vidas estavam em risco, e agiu sem demora.

Eu já era um velho”, repetiu, “quando finalmente compreendi! Teria arruinado a minha vida e a de outros”, disse ele.

Ele agradeceu de joelhos muitas vezes ao Senhor por aquele sábio líder do sacerdócio que lhe aconselhara simplesmente: “John, esqueça”.