Ensinamentos dos Presidentes
Perdoar aos Outros de Todo o Coração


Capítulo 9

Perdoar aos Outros de Todo o Coração

O Senhor deu-nos o mandamento de perdoar aos outros a fim de sermos perdoados de nossos próprios pecados e sermos abençoados com paz e alegria.

Da Vida de Spencer W. Kimball

Quando o Presidente Spencer W. Kimball ensinava sobre a busca do perdão, também ressaltava o princípio essencial que é perdoar aos outros. Ao exortar a todos a esforçarem-se para desenvolver o espírito de perdão, ele relatou a seguinte experiência:

“Eu estava tendo dificuldades com um problema comunitário numa ala pequena (…), no qual dois homens de destaque, líderes do povo, estavam envolvidos numa desavença longa e contínua. Um desentendimento entre eles fizera com que se distanciassem com grande hostilidade. Com o passar dos dias, semanas e meses, a ruptura aprofundou-se. Os familiares de ambos os homens começaram a tomar partido na disputa e por fim quase todos os membros da ala estavam envolvidos. Foram espalhados boatos, expressas diferenças e os mexericos alastraram-se insidiosamente até fazer a pequena comunidade ficar dividida por um fosso profundo. Fui designado para resolver a questão. (…) Cheguei à comunidade dominada pelo conflito por volta das 18h, de um domingo à noite, e fui imediatamente reunir-me com os principais litigantes.

“Como foi difícil! Como suplicamos, advertimos, imploramos e exortamos! Nada parecia tocá-los. Cada um dos antagonistas estava convicto de ter razão e justificava que era impossível fazê-lo mudar de opinião.

As horas passavam — já era mais de meia-noite e o desespero parecia dominar o ambiente; a atmosfera ainda era de má vontade e amargura. A resistência e a teimosia não cediam um único centímetro. Então, aconteceu. Abri a esmo Doutrina e Convênios de novo e deparei-me com uma passagem. Eu já a lera muitas vezes nos últimos anos, mas antes ela não tinha nenhum significado especial para mim. Contudo, naquela noite era a resposta necessária. Era um apelo, uma súplica e uma ameaça e parecia vir diretamente do Senhor. Li [a seção 64] a partir do sétimo versículo, mas os participantes da reunião não cederam nada até eu chegar ao versículo 9. Então, vi-os retrair-se, surpresos, meditativos. Será que estava certo? O Senhor estava dizendo a nós — todos nós: ‘Portanto digo-vos que vos deveis perdoar uns aos outros’.

Era uma obrigação. Eles já tinham ouvido esse mandamento antes. Eles tinham-no repetido no Pai Nosso. Mas agora: ‘(…) pois aquele que não perdoa a seu irmão suas ofensas está em condenação diante do Senhor. (…)’

No coração deles, deveriam estar pensando: ‘Talvez eu perdoe se ele se arrepender e pedir perdão, mas é ele que precisa dar o primeiro passo’. Então, o impacto da última frase pareceu tê-los golpeado: ‘pois nele permanece o pecado maior’.

O quê? Quer dizer que preciso perdoar mesmo que meu inimigo permaneça frio, indiferente e cruel? Não resta dúvida.

Um erro comum é achar que o ofensor deve desculpar-se e humilhar-se até o pó antes de receber o perdão. É claro que a pessoa que fez o mal deve reparar totalmente o erro, mas a pessoa ofendida deve perdoar ao agressor seja qual for a atitude dele. Às vezes as pessoas ficam satisfeitas ao verem a outra de joelhos e rastejando-se, mas essa não é a maneira do evangelho.

Chocados, os dois homens recostaram-se no assento, refletiram por alguns instantes e depois começaram a ceder. Essa escritura que veio coroar todas as outras lidas, levou-os a ajoelharem-se. Às 2h da manhã, dois adversários ferrenhos estavam apertando as mãos, sorrindo, perdoando e pedindo perdão. Dois homens estavam abraçando-se com sentimento. Foi um momento sagrado. Velhos desentendimentos foram perdoados e esquecidos, e inimigos voltaram a tornar-se amigos. Nunca mais se fez um comentário sequer sobre as diferenças. Os erros foram enterrados, sua lembrança foi definitivamente apagada e a paz foi restaurada.”1

No decorrer de seu ministério, o Presidente Kimball exortou os membros da Igreja a perdoar: “Se houver desentendimentos, resolvam-nos, perdoem e esqueçam, não deixem que velhas desavenças manchem sua alma e a afetem, destruindo seu amor e sua vida. Ponham sua casa em ordem. Amem uns aos outros e amem seus vizinhos, amigos e pessoas a sua volta, à medida que o Senhor lhes conceder poder para isso”.2

Ensinamentos de Spencer W. Kimball

Devemos perdoar para ser perdoados.

Como o perdão é um requisito indispensável para alcançarmos a vida eterna, o homem naturalmente pensa: Qual é a melhor maneira de conseguir esse perdão? Um entre muitos fatores básicos sobressai como imprescindível: é preciso perdoar para ser perdoado.3

“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai Celestial vos perdoará a vós:

Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas” (Mateus 6:14–15).

É algo difícil? Certamente. O Senhor nunca prometeu um caminho fácil, um evangelho simples, padrões baixos ou normas cômodas. O preço é elevado, mas o que alcançamos de bom vale todo o esforço. O próprio Senhor deu a outra face; Ele permitiu que O esbofeteassem e espancassem sem Se opor; sofreu toda sorte de tratamento indigno e ainda assim não emitiu uma única palavra de condenação. E a pergunta que fez a todos nós foi: “Portanto, que tipo de homens devereis ser? Em verdade vos digo que devereis ser como eu sou” (3 Néfi 27:27).4

Nosso perdão às pessoas deve ser sincero e completo.

O mandamento de perdoar e a condenação recebida pelos que não o fizerem não poderiam ser expressos de modo mais simples do que na seguinte revelação moderna concedida ao Profeta Joseph Smith:

“Meus discípulos, nos dias antigos, procuraram pretextos uns contra os outros e em seu coração não se perdoaram; e por esse mal foram afligidos e severamente repreendidos.

Portanto digo-vos que vos deveis perdoar uns aos outros; pois aquele que não perdoa a seu irmão suas ofensas está em condenação diante do Senhor; pois nele permanece o pecado maior.

Eu, o Senhor, perdoarei a quem desejo perdoar, mas de vós é exigido que perdoeis a todos os homens” (D&C 64:8–10).

Essa lição permanece válida para nós hoje em dia. Muitas pessoas, ao reconciliarem-se com outras, dizem que perdoam, mas continuam com má vontade, a suspeitar das outras, a desconfiar de sua sinceridade. Isso constitui pecado, pois quando houve reconciliação e quando a pessoa afirma ter-se arrependido, todos os envolvidos devem perdoar e esquecer, refazer os laços que tinham sido rompidos e restaurar a harmonia existente anteriormente.

Os discípulos da Antigüidade disseram em voz alta palavras de perdão e fizeram os ajustes superficiais necessários, mas “em seu coração não se perdoaram”. Isso não era perdão, mas uma forma de hipocrisia, engano e subterfúgio. Conforme aprendemos no modelo de oração deixado por Cristo, deve ser um ato que vem do coração e que purifica a mente. [Ver Mateus 6:12; ver também os versículos 14–15.] Perdoar significa esquecer. Uma mulher passara pelo processo de reconciliação num ramo e tomara providências exteriores, fizera declarações verbais para mostrá-lo e pronunciara palavras de perdão. Então, com um olhar de rancor, observou: “Vou perdoar a ela, mas tenho uma memória de elefante. Nunca vou esquecer”. Sua pretensa reconciliação não teve valor algum e foi vazia. Ela ainda guardava ressentimento. Suas palavras de amizade eram superficiais e fugidias, os laços refeitos eram frágeis e quebradiços e ela mesma continuou a sofrer, por não ter paz de espírito. Pior ainda, ela permanecia “em condenação diante do Senhor” e nela permanecia um pecado ainda maior do que o praticado pela pessoa que ela afirmava tê-la prejudicado.

Essa mulher hostil mal percebia que não tinha perdoado em absoluto, mas apenas dado alguns passos externos, sem pôr o coração. Ela estava agindo sem alcançar resultado algum. Na passagem citada acima, o trecho “em seu coração” tem um significado profundo. Deve haver uma purificação de sentimentos e pensamentos e a amargura precisa passar. Meras palavras não têm valor algum.

“Pois eis que se um homem, sendo mau, oferece uma dádiva, ele o faz de má vontade; portanto será considerado como se tivesse retido a dádiva; conseqüentemente é considerado mau perante Deus” (Morôni 7:8).

Henry Ward Beecher expressou essa idéia da seguinte forma: “Posso perdoar mas não posso esquecer é outra maneira de dizer que não posso perdoar”.

Digo também que, a menos que uma pessoa perdoe a seu irmão por seus erros, de todo o coração, não é digna de tomar o sacramento.5

Devemos deixar o julgamento para o Senhor.

Para agirmos de maneira correta, devemos perdoar e fazê-lo quer o antagonista se arrependa ou não ou a despeito do grau de sinceridade de sua transformação ou do fato de pedir ou não perdão. Devemos seguir o exemplo e ensinamento do Mestre, que declarou: “(…) devíeis dizer em vosso coração: Que julgue Deus entre mim e ti e te recompense de acordo com teus feitos” (D&C 64:11). Todavia, os homens tendem a não querer reservar o julgamento para o Senhor, temendo que talvez Ele seja misericordioso demais e menos severo do que deveria ser nesse caso.6

Algumas pessoas não só não conseguem ou não querem perdoar e esquecer as transgressões alheias, mas vão ao outro extremo e procuram vingar-se do suposto transgressor. Recebi muitas cartas e telefonemas de pessoas que estão determinadas a fazer justiça com as próprias mãos e assegurar-se de que o transgressor seja punido. “Esse homem deve ser excomungado”, afirmou uma irmã, “e nunca vou descansar até que ele tenha sido devidamente punido.” Outra pessoa disse: “Não vou ter sossego enquanto esse indivíduo ainda for membro da Igreja”. Já outra declarou: “Nunca pisarei na capela enquanto essa pessoa tiver permissão de entrar. Quero que ela seja julgada e perca o direito de ser membro da Igreja”. Um homem chegou a fazer várias viagens a Salt Lake City e escrever várias cartas longas para protestar contra o bispo e o presidente de estaca que não tomaram ações disciplinares contra uma pessoa que, alegava ele, estava violando as leis da Igreja.

Para as pessoas que desejam fazer justiça com as próprias mãos, lemos mais uma vez a declaração inequívoca do Senhor: “(…) nele permanece o pecado maior“ (D&C 64:9). A revelação contínua ensina: “E devíeis dizer em vosso coração: Que julgue Deus entre mim e ti e te recompense de acordo com teus feitos” (D&C 64:11). Ao informar, devidamente, transgressões conhecidas às autoridades eclesiásticas competentes da Igreja, a pessoa deve parar de preocupar-se com o caso e deixar a responsabilidade para os líderes da Igreja. Se esses líderes tolerarem o pecado em seu rebanho, é uma enorme responsabilidade e eles prestarão contas disso.7

O Senhor nos julgará com as mesmas medidas que usarmos para julgar. Se formos impiedosos, não devemos esperar nada além de impiedade. Se formos misericordiosos com aqueles que nos fizeram mal, Ele será misericordioso para conosco em nossos erros. Se não formos capazes de perdoar, Ele nos deixará entregues a nossos próprios pecados.

Embora as escrituras sejam claras ao declararem que o homem será julgado com as mesmas medidas que usar para julgar seu próximo, a emissão de julgamentos formais não é para os membros da Igreja em geral, mas está reservado para as autoridades competentes da Igreja e do Estado. Em última análise, é o Senhor que julgará. (…)

O Senhor pode julgar os homens por seus pensamentos bem como por suas palavras e atos, pois conhece até mesmo as intenções de seu coração; contudo, o mesmo não se dá com os seres humanos. Ouvimos o que as pessoas dizem, vemos o que fazem, mas como não sabemos o que pensam ou desejam, com freqüência fazemos julgamentos errôneos caso tentemos determinar o significado e os motivos por detrás de seus atos e façamos nossa própria interpretação.8

Embora pareça difícil, podemos perdoar.

No tocante ao espírito de perdão, um bom irmão perguntou-me: “Isso é o que se espera que façamos, mas como é possível? Não precisaríamos ser super-homens?”

“Sim”, respondi, “mas recebemos o mandamento de ser super-homens. O Senhor instou-nos: ‘Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus’ (Mateus 5:48). Somos deuses em embrião, e o Senhor exige de nós a perfeição”.

“Sim, Cristo perdoou àqueles que Lhe fizeram mal, mas Ele era mais do que humano”, retorquiu ele.

E minha resposta foi: “Mas há muitos humanos que acham possível praticar esse ato divino”.

Parece que há muitos que, assim como esse bom irmão, crêem na teoria cômoda de que o espírito que perdoa (…) limita-se de certa forma a personagens fictícios ou das escrituras e que nem devemos esperar que exista nas pessoas reais do mundo de hoje. Não é o caso.9

Conheci uma jovem mãe cujo marido falecera. A família estava numa situação financeira difícil e a apólice de seguro era de apenas 2.000 dólares, mas foi como uma dádiva dos céus. A seguradora prontamente enviou o cheque desse valor assim que recebeu o atestado de óbito. A jovem viúva concluiu que deveria economizar para emergências e assim depositou a quantia no banco. Outras pessoas tinham ciência disso, e um parente convenceu-a a emprestar-lhe os 2.000 dólares por uma alta taxa de juros.

Passaram-se os anos, e ela não recebera nem o valor principal nem os juros. Ela percebeu que o devedor a evitava e fazia promessas evasivas quando ela lhe perguntava sobre a dívida. Agora ela precisava do dinheiro e não tinha acesso a ele.

“Como o odeio!”, disse-me ela, com raiva e amargura na voz e um olhar de ódio. Era inadmissível que um homem saudável desfalcasse uma jovem viúva com uma família para sustentar! “Como o detesto!”, repetiu ela inúmeras vezes. Então, contei-lhe [uma] história em que um homem perdoou ao assassino de seu pai. Ela ouviu com atenção. Vi que ficou impressionada. No fim, ela tinha lágrimas nos olhos e sussurrou: “Obrigada. Agradeço sinceramente. Sem dúvidas, eu também preciso perdoar a meu inimigo. Agora vou purificar meu coração de toda amargura. Não tenho esperança de recuperar o dinheiro um dia, mas deixo o ofensor nas mãos do Senhor”.

Semanas depois, ela viu-me de novo e comentou que as últimas semanas tinham sido as mais felizes de sua vida. Ela sentia uma grande e renovada paz e conseguia orar pelo ofensor e perdoar-lhe, embora não tivesse recebido um único dólar de volta.10

Quando perdoamos aos outros, liberamo-nos do ódio e da amargura.

Por que o Senhor pede que amemos nossos inimigos e paguemos o mal com o bem? Para que nos beneficiemos com isso. O fato de odiarmos as pessoas que nos fizeram mal, principalmente se estiverem longe ou não tiverem contato conosco, não lhes faz dano algum, mas o ódio e o rancor corroem nosso coração incapaz de perdoar. (…)

Talvez Pedro tivesse conhecido pessoas que continuavam a prejudicá-lo e disse:

“Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? (…)

E o Senhor respondeu:

“Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete” (Mateus 18:21–22). (…)

(…) Quando as pessoas se arrependem e pedem perdão de joelhos, a maioria de nós é capaz de perdoar, mas o Senhor exige que lhes perdoemos mesmo que não se arrependam nem nos peçam perdão. (…)

Então, deve ficar claro para nós que precisamos perdoar sem retaliação nem vingança, pois o Senhor fará para nós o que for necessário. (…) O rancor faz mal aos que o guardam; ele endurece, reduz e corrói.11

Algo que acontece com freqüência é o fato de se cometerem ofensas sem consciência disso. Algo que alguém disse ou fez é mal interpretado ou mal compreendido. A pessoa ofendida guarda no coração a ofensa, acrescentando-lhe outras coisas que alimentem ainda mais o ressentimento e justifiquem suas conclusões. Talvez essa seja uma das razões pelas quais o Senhor exige que seja a pessoa ofendida que dê os primeiros passos na direção da paz.

“E se teu irmão ou tua irmã te ofender, aparta-te com ele ou ela a sós; e se ele ou ela confessar, reconciliar-vos-eis” (D&C 42:88). (…)

Seguimos esse mandamento ou nos entregamos a nosso rancor, esperando que nosso agressor tome consciência disso e se ajoelhe diante de nós, tomado de remorso?12

Pode ser que fiquemos com raiva de nossos pais, de um professor ou do bispo e nos isolemos, encolhendo-nos e reduzindo-nos sob o veneno e peçonha do rancor e do ódio. Enquanto isso, a pessoa odiada continua sua vida normalmente, mal se dando conta do sofrimento da que odeia, que se engana e prejudica a si mesma. (…)

(…) Parar de ir à Igreja apenas para vingar-se dos líderes ou para dar vazão a mágoas é iludir a nós mesmos.13

Em meio aos sons conflituosos do ódio, rancor e vingança expressos com tanta freqüência hoje em dia, os doces acordes do perdão constituem um bálsamo curativo. E os principais efeitos são exercidos sobre o que perdoa.14

Ao perdoarmos aos outros, somos abençoados com alegria e paz.

Inspirado pelo Senhor Jesus Cristo, Paulo deu-nos a solução para os problemas da vida que exigem compreensão e perdão. “Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Efésios 4:32). Se esse espírito de perdão benigno e misericordioso de uns para com os outros estivesse presente em todos os lares, o egoísmo, a desconfiança e o rancor que dividem tantos lares e famílias desapareceriam e os homens viveriam em paz.15

O perdão é o ingrediente miraculoso que garante a harmonia e o amor no lar ou na ala. Sem ele, há contendas. Sem compreensão e perdão, existe dissensão, o que gera falta de harmonia e em seguida deslealdade nos lares, ramos e alas. Por outro lado, o perdão harmoniza-se com o espírito do evangelho, com o Espírito de Cristo. Esse é o Espírito do qual todos devemos estar imbuídos caso desejemos receber o perdão de nossos próprios pecados e comparecer sem mácula perante Deus.16

Com muita freqüência, o orgulho constitui um obstáculo em nosso caminho e torna-se uma pedra de tropeço. No entanto, cada um de nós precisa fazer a si mesmo a seguinte pergunta: “Meu orgulho é mais importante que minha paz?”

Com demasiada freqüência, pessoas que fizeram diversas coisas maravilhosas na vida e deram excelentes contribuições permitem que o orgulho lhes prive das ricas recompensas que do contrário mereceriam. Devemos sempre usar o saco e as cinzas de um coração disposto a perdoar e de um espírito contrito e precisamos estar sempre dispostos a exercer uma humildade genuína, como fez o publicano [ver Lucas 18:9–14] e pedir ao Senhor que nos ajude a perdoar.17

Ao longo de toda a mortalidade, vivemos e trabalhamos com pessoas imperfeitas; e fatalmente haverá mal-entendido, ofensas e mágoas. Mesmo as melhores das intenções podem ser mal interpretadas. É gratificante ver muitos que, com sua nobreza de caráter, corrigiram sua forma de pensar, engoliram seu orgulho e perdoaram o que a seu ver foram deslizes alheios. Inúmeros outros que trilharam caminhos permeados de críticas, solidão e amargura, em total infelicidade, finalmente aceitaram ser corrigidos, reconheceram seus erros, purificaram seu coração do rancor e voltaram a sentir paz, a paz almejada que faz tanta falta quando está ausente. E as frustrações ligadas às críticas, rancor e as conseqüentes divisões entre as pessoas cederam lugar a calor humano, luz e paz.18

É um objetivo que pode ser alcançado. O homem pode conquistar a si mesmo. Pode sobrepujar tudo. Pode perdoar a todos que o tenham ofendido e receber paz nesta vida e vida eterna no mundo vindouro.19

Se buscássemos a paz, tomando a iniciativa de resolver as diferenças — se perdoássemos e esquecêssemos de todo o coração — se purificássemos nossa alma do pecado, rancor e culpa antes de atirarmos pedras ou acusarmos outras pessoas — se perdoássemos todas as ofensas reais ou imaginárias antes de pedirmos perdão de nossos próprios pecados — se saldássemos nossas próprias dívidas, pequenas ou grandes, antes de pressionarmos nossos devedores — se tirássemos as traves que bloqueiam nossa própria visão antes de apontarmos o cisco nos olhos alheios — que mundo glorioso teríamos! O divórcio se reduziria a índices mínimos; os tribunais estariam livres de fatos tristes, tão comuns hoje em dia; a vida familiar seria celestial; a edificação do reino seguiria avante em ritmo acelerado; e a paz que excede todo o entendimento [ver Filipenses 4:7] traria a todos nós alegria e felicidade que mal “subiram ao coração do homem”. [Ver I Coríntios 2:9.]20

Que o Senhor abençoe a todos nós a fim de levarmos continuamente no coração o verdadeiro espírito de arrependimento e perdão até que nos aperfeiçoemos, com o olhar fixo nas glórias da exaltação que aguardam os mais fiéis.21

Sugestões para Estudo e Ensino

Tenha em mente as idéias a seguir ao estudar o capítulo ou ao preparar-se para ensinar. Há auxílios adicionais nas páginas v–ix.

  • Leia a história das páginas 100–102. Por que às vezes as pessoas têm dificuldade para perdoar umas às outras? O que significam para você as palavras: “Nele permanece o pecado maior” (D&C 64:9).

  • Leia Mateus 6:14–15, uma passagem citada pelo Presidente Kimball na página 103. Em sua opinião, por que devemos perdoar às pessoas a fim de recebermos o perdão do Senhor?

  • Quais são algumas atitudes e gestos que indicam que nosso perdão a alguém é sincero e completo? (Ver as páginas 103–106.) Por que o perdão precisa ser “um ato que vem do coração”?

  • Leia a seção que começa na página 106. Que ensinamentos do evangelho podem ajudar-nos a estar dispostos a reservar o julgamento para o Senhor?

  • Ao ler a história sobre a jovem mãe na página 108, procure identificar o que inicialmente a impedia de perdoar e o que lhe permitiu enfim perdoar. Como podemos superar os obstáculos que interferem em nossos desejos e empenho para perdoar ao próximo?

  • Quais são algumas conseqüências da recusa do perdão? (Ver as páginas 109–110.) Que bênçãos você já recebeu ao perdoar ao próximo? Reflita sobre como você pode aplicar o espírito de perdão em seus relacionamentos.

Escrituras Relacionadas: Mateus 5:43–48; Lucas 6:36–38; Colossenses 3:12–15; D&C 82:23.

Notas

  1. The Miracle of Forgiveness (1969), pp. 281–282.

  2. The Teachings of Spencer W. Kimball, ed. Edward L. Kimball (1982), p. 243.

  3. The Miracle of Forgiveness, p. 261.

  4. Conference Report, outubro de 1977, p. 71; ou Ensign, novembro de 1977, p. 48.

  5. The Miracle of Forgiveness, pp. 262–264.

  6. The Miracle of Forgiveness, p. 283.

  7. The Miracle of Forgiveness, p. 264.

  8. The Miracle of Forgiveness, pp. 267, 268.

  9. The Miracle of Forgiveness, pp. 286–287.

  10. Conference Report, outubro de 1977, pp. 68–69; ou Ensign, novembro de 1977, p. 46. Ver também The Miracle of Forgiveness, pp. 293–294.

  11. Faith Precedes Miracles (1972), pp. 191–192.

  12. Faith Precedes Miracles, pp. 194–195.

  13. “On Cheating Yourself”, New Era, abril de 1972, pp. 33–34.

  14. The Miracle of Forgiveness, p. 266.

  15. The Miracle of Forgiveness, p. 298.

  16. The Miracle of Forgiveness, p. 275.

  17. The Miracle of Forgiveness, p. 297.

  18. Conference Report, Apr. 1955, p. 98.

  19. The Miracle of Forgiveness, p. 300.

  20. Faith Precedes the Miracle, pp. 195–196.

  21. Conference Report, outubro de 1949, p. 134.