Pequenos milagres construídos sobre sonhos despedaçados

Há cinco anos atrás, embarquei numa jornada para a realização da minha pós-graduação em Agricultura, especializando em melhoramento génetico de plantas. Ofereceram-me uma bolsa de um proeminente Instituto de Pesquisa na África do Sul. Apesar do desafio de criar uma família, abracei esse sonho de muitas possibilidades. Desde pequena sempre fui atraída a atividades ao ar livre que tinham a ver com tocar o solo e plantar verduras. Tendo crescido em Moçambique, eu adorava acompanhar minha avó a trabalhar em sua pequena machamba nos arredores da Beira, onde ela plantava entre outras coisas, batata-doce e arroz. Eu estimo essas memórias e as mantenho muito perto do meu coração.

Quando embarquei na jornada para tornar-me uma melhoradora génetica de plantas, tinha a certeza que terminaria meus estudos e me graduaria no inverno de 2020. Eu tinha sonhos intermináveis de como a vida seria perfeita. Olhando para a demanda de habilidades tão escassas na indústria em anos anteriores, eu estava realmente animada com as novas possibilidades que se desenrolavam diante de mim. Tenho sido uma consultora freelance de línguas e mídia durante a maior parte da minha carreira profissional. Eu estava ansiosa para finalmente poder trabalhar em pesquisa e aplicar as habilidades que vinha adquirindo ao longo de muitos anos de estudo.

Com a rápida disseminação da pandemia COVID-19 na África do Sul, ficou evidente que, embora tivesse apresentado minha tese no final de 2019, não iria conseguir participar da graduação do inverno, como esperava. A coisa mais importante para mim não era a cerimónia de graduação, mas ser capaz de completar o degrau e conseguir um bom emprego. Eu sabia que levaria tempo para conseguir o tipo de trabalho que estava procurando — enviei uma carta de solicitação de emprego, depois duas — e eventualmente envie tantas que perdi a conta.

Essa experiência ensinou-me algumas lições valiosas: alguns de nossos planos na vida não se realizam exatamente como desejamos. Hoje, um ano depois, ainda procuro por esse emprego de sonho. Isso não é só para mim, mas minha família imediata e a sociedade em geral também têm altas expectativas para alguém com uma realização académica como esta.

Ao encontrar com uma amiga, ela perguntou-me como as coisas estavam indo na minha vida e se já tinha conseguido encontrar um emprego. Com muita facilidade, respondi que ainda não tinha sido bem-sucedida em encontrar um emprego. Falamos sobre várias coisas. Enquanto conduzia para casa, refletia sobre meu estilo de vida e meu estado mental durante a pandemia. Então, percebi como as mãos do Senhor abençoaram minha vida. Pensei nas muitas habilidades que fui capaz de ganhar e na quantidade de tempo precioso que tinha sido capaz de passar com minha família. Havia simplesmente muitos pequenos milagres para contar. Fui capaz de cuidar de minhas necessidades básicas. Peguei meu orçamento antes do COVID-19 e o reajustei. Com mais tempo em minhas mãos, fui atraída pela minha paixão de trabalhar na terra. Plantei uma horta, as crianças e eu aprendemos a cortar o gramado e podar as árvores — a lista é infinita. Hoje a nossa horta nos alimenta com a maioria de nossas verduras, tais como espinafre, alface e rúcula. Encontramos tempo significativo para brincar e trabalhar em família. Nós nos acostumamos a fazer caminhadas noturnas curtas em nosso bairro.

Ao refletir nas minhas experiências nos últimos nove meses — apesar de não ter as coisas com as quais sonhei — estou em geral contente. Vejo mais coisas boas em meu redor do que más. Eu ganhei uma compreensão mais profunda de confiar no tempo do Senhor. Ele sabe o que é melhor e tem planos melhores para mim e minha família. Conforme conto minhas bênçãos, percebo que o Senhor está no controle de muitos aspetos da minha vida. Ele me conhece individualmente e se importa comigo. Ele se importa com nossos desejos justos. Ele quer que confiemos Nele e que sejamos felizes. Eu vim a saber isso com todo o meu coração.