2000–2009
Nossas Ações Determinam Nosso Caráter
October 2001


Nossas Ações Determinam Nosso Caráter

“Na maior parte das vezes, podemos determinar o tipo de experiência que teremos dependendo de nossa reação. ”

Há muitos anos, quando eu estava em férias com minha família, tive uma experiência que me ensinou uma grande lição. Num sábado, minha esposa e eu decidimos levar as crianças para um passeio e fazer algumas compras. Durante o trajeto, as crianças pegaram no sono e, não querendo acordá-las, disse que ficaria no carro enquanto minha esposa entrava na loja para fazer as compras.

Enquanto esperava, olhei para o carro estacionado em frente. Estava cheio de crianças e elas olhavam para mim. Meus olhos encontraram-se com os de um menininho de uns seis ou sete anos. Quando nossos olhos se encontraram, ele imediatamente mostrou a língua para mim.

Minha primeira reação foi mostrar a língua para ele também. Pensei: “O que foi que eu fiz para merecer isso?” Felizmente, antes de reagir, lembrei-me de um princípio ensinado na conferência geral da semana anterior pelo Élder Marvin J. Ashton. (Conference Report, outubro de 1970, pp. 36-38; ou Improvement Era, dezembro de 1970, pp. 59-60.) Ele ensinou como é importante agir, em vez de reagir aos eventos que nos cercam. Por isso, acenei para o menininho. Ele mostrou-me a língua novamente. Sorri, e acenei novamente. Dessa vez, ele acenou de volta.

Logo, o irmãozinho e a irmãzinha também acenaram, animados. Acenei de volta de diversas maneiras até que meu braço se cansou. Repousei o braço no volante e continuei a acenar de todas as maneiras que consegui inventar, desejando o tempo todo que os pais deles voltassem logo ou que minha esposa acabasse logo as compras.

Os pais deles finalmente voltaram e, quando foram embora, meus novos amiguinhos continuaram a acenar até que o carro desapareceu na distância.

Foi uma experiência simples, mas demonstrou que, na maior parte das vezes, podemos determinar o tipo de experiência que teremos dependendo de nossa reação. Fico grato por ter decidido agir, em vez de reagir, de maneira amigável ao comportamento infantil do meu amiguinho. Ao fazê-lo, evitei os sentimentos negativos que teria tido caso seguisse meu instinto natural.

Ao dar instruções aos nefitas, o Salvador ensinou: “Portanto tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles (…)”. (3 Néfi 14:12)

Imaginem o efeito que isso teria no mundo, se todos praticassem essa Regra de Ouro. Mas isso parece contrário à natureza humana. O rei Benjamim declarou que “o homem natural é inimigo de Deus” e continuará a sê-lo até que “ceda ao influxo do Santo Espírito e despoje-se do homem natural”, aprendendo a ser “submisso, manso, humilde, paciente [e] cheio de amor”. (Mosias 3:19)

No mundo agitado de hoje, parece haver maior tendência de as pessoas agirem de maneira agressiva para com as demais. Algumas ofendem-se rapidamente e reagem com rancor às afrontas reais ou imaginárias. Todos já experimentamos ou ouvimos falar de atitudes violentas ao volante ou outros exemplos de comportamento insensato e grosseiro.

Infelizmente, esse comportamento acaba chegando a nossa própria casa, gerando discórdias e tensões entre os familiares.

Pode p.uecer natural reagirmos a uma situação, agindo como outros agem para conosco. Mas isso não precisa acontecer desse modo. Ao refletir sobre suas terríveis experiências durante a guerra, Viktor Frankl lembra-se: “Nós, que estivemos em um campo de concentração, lem-bramo-nos de homens que andavam pelos barracões consolando os outros, dando-lhes seu último pedaço de pão. Eles podem ter sido poucos em números, mas constituem prova suficiente de que tudo pode ser tirado de um homem, exceto uma coisa, a última das liberdades humanas: a escolha de sua própria atitude em dadas circunstâncias, a escolha de seu próprio caminho”. (Man’s Search for Meaning [1985], p. 86; grifo do autor)

Trata-se de um comportamento nobre e constitui um alto nível de expectativa, mas Jesus não espera menos do que isso de nós. “Amai a vossos inimigos”, disse Ele, e “bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem (…)”. (Mateus 5:44)

Há um hino bem conhecido [em inglês] que reforça esses ensinamentos:

Controla os teus sentimentos, irmão;

Treina a tua alma acalorada e impulsiva.

Mas não sufoca as emoções que dela brotam,

Antes, deixa a voz da sabedoria assumir o controle.

(“School Thy Feelings”, Hymns, n° 336)

As decisões que tomamos e o modo como nos comportamos são os elementos que moldam nosso caráter. Charles A. Hall descreve bem esse processo nestas linhas: “Semeamos nossos pensamentos e colhemos nossas ações. Semeamos nossas ações e colhemos nossos hábitos. Semeamos nossos hábitos e colhemos nosso caráter. Semeamos nosso caráter e colhemos nosso destino”. (Citado em The Home Book of Quotations, comp. Burton Stevenson, 1934, p. 845.)

É no lar que nosso comportamento é mais significativo. É o lugar em que nossas ações têm o maior impacto, seja para o bem ou para o mal. Algumas vezes ficamos tão à vontade que nem mesmo controlamos nossas palavras. Esquecemos as mais simples cortesias. Se não tomarmos cuidado, podemos desenvolver o hábito de criticar uns aos outros, perdendo a paciência ou comportando-nos de maneira egoísta. Por nos amarem, nosso cônjuge e nossos filhos podem vir a perdoar-nos rapidamente mas, com freqüência, guardam em silêncio ferimentos invisíveis e mágoas que não mencionam.

Há muitos lares em que os filhos temem os pais, e a esposa teme o marido. Nossos líderes lembram-nos que “o pai deve presidir a família com amor e retidão” e advertem-nos que aqueles que “maltratam o cônjuge ou os filhos (…) deverão um dia responder perante Deus”. (“A Família: Proclamação ao Mundo”, A Liahona, junho de 1996, pp. 10–11.) O adversário sabe que, caso incentive uma atmosfera de contendas, conflitos e medos em casa, o Espírito Se magoa, e os laços que deveriam unir a família acabam por enfraquecer-se.

O próprio Senhor ressuscitado declarou: “Pois em verdade, em verdade vos digo que aquele que tem o espírito de discórdia não é meu, mas é do diabo, que é o pai da discórdia e leva a cólera ao coração dos homens, para contenderem uns com os outros”. (3 Néfi 11:29)

Quando estivermos com raiva ou sentirmos o espírito de contenda em nosso lar, devemos imediatamente reconhecer qual poder está no controle de nossa vida e o que Satanás está esforçando-se para conseguir. Salomão deu-nos esta sábia fórmula: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira”. (Provérbios 15:1)

Nosso lar deve, de forma ideal, ser um refúgio em que todos os familiares sintam-se seguros, amados e protegidos das duras críticas e contendas que tão comumente encontramos no mundo.

Cristo deu o exemplo perfeito ao manter o controle em todas as situações. Ao ser levado diante de Caifás e Pilatos, cuspiram-Lhe no rosto, esbofetearam-No e zombaram Dele. ( Mateus 26; Lucas 23) A grande ironia é que humilharam Seu Criador, que sofreu por amor a eles.

Diante desses maus-tratos injustos, Jesus manteve a serenidade, recusando-Se a agir de maneira grosseira. Mesmo na cruz, enquanto passava por uma agonia inimaginável, Sua súplica foi: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. (Lucas 23:34)

Ele espera o mesmo de nós. Àqueles que O seguiriam, disse Ele: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. (João 13:35)

Mostremos que somos discípulos fortalecendo nosso lar de modo amoroso e gentil. Lembremo-nos de que “a resposta branda desvia o furor” e tentemos, por intermédio de nossos relacionamentos e das coisas com as quais nos deparamos, moldar um tipo de caráter que seja aprovado pelo Salvador.

Jesus Cristo é o exemplo perfeito. Ele é nosso Salvador e Redentor. Dele testifico! Somos hoje guiados por um profeta vivo. Em nome de Jesus Cristo. Amém.