1990–1999
“Sirvamos a Deus de Maneira Aceitável, com Reverência e Temor”
October 1990


“Sirvamos a Deus de Maneira Aceitável, com Reverência e Temor”

Ese o meu povo a mim construir uma casa em nome do Senhor, e não permitir que nela entre coisa alguma impura para profaná-la, a minha glória sobre ela descansará;

Sim, e a minha presença aí estará, pois entrarei nela, e todos os puros de coração que a ela vierem, verão a Deus.

Mas se ela for violada, eu não entrarei nela, e a minha glória aí não estará; pois eu não entrarei em templos impuros.” (D&C 97:15–17.)

Gostaria de falar-vos hoje sobre reverência. Embora creia que a reverência freqüentemente seja demonstrada por comportamento respeitoso, não são comportamentos que me preocupam agora. Quero falar da reverência como atitude, uma atitude do mais profundo respeito e veneração para com a Deidade. Naturalmente, comportamento reverente acompanha atitudes reverentes, mas é a atitude de reverência que precisamos cultivar entre nós. Comportamento reverente sem atitudes reverentes não tem sentido, porque sua finalidade é o louvor dos homens, não de Deus.

As escrituras nos lembram constantemente da bondade centralizada no coração. Aqueles que se preocupam com a aparência só para receber honra dos homens, mas têm coração impuro, são chamados de hipócritas. Não basta conduzir-se reverentemente; precisamos sentir, no coração, reverência pelo Pai Celestial e o Senhor Jesus Cristo. A reverência emana da admiração e do respeito pela Deidade. Os verdadeiramente reverentes são aqueles que pagaram o preço para conhecer a glória do Pai e do Filho. Como Paulo admoesta em Hebreus: “Sirvamos a Deus de maneira aceitável com reverência e temor.” (Hebreus 12:28.)

A história de Alma, o Filho, apresenta-nos uma maravilhosa ilustração da reverência que sentimos no coração, quando chegamos a conhecer a Deus. Quando jovem, escolhera ser pecaminoso e mundano. Ficou tão assombrado quando lhe apareceu um anjo que o chamou ao arrependimento, que ficou mudo e tão fraco que não podia mover-se. Após dois dias e duas noites, quando Alma recobrou as forças, levantou-se e começou a falar ao povo sobre como o Senhor o redimira. Alma nasceu de novo. Era uma nova criatura. Seu coração estava mudado.

No livro de Mosiah, Alma descreve essa maravilhosa transformação. Diz ele: “Minha alma foi redimida do fel da amargura e dos laços da iniqüidade. Achava-me no mais escuro abismo, mas vejo agora a maravilhosa luz de Deus. Torturava minha alma um tormento eterno; mas fui resgatado e minha alma não sofre mais.” (Mosiah 27:29.)

No versículo trinta e um, temos a evidência da profunda reverência de Alma por Deus: “Sim, todo joelho se dobrará e toda língua confessará diante dele. Sim, no último dia, quando todos os homens se hão de apresentar para ser julgados por ele, então confessarão que ele é Deus; e os que vivem no mundo, sem Deus, confessarão que o julgamento dum castigo eterno sobre eles é justo; e estremecerão e tremerão, e se encolherão sob seu olhar que a tudo penetra.”

A experiência de Alma permitira-lhe entender a glória de Deus e também o “temor divino”. Tinha o mais profundo respeito e veneração por Deus porque o vira assentado no trono celestial, em poder e majestade.

Há alguns anos, viajei com o Presidente da Igreja para uma série de conferências de área. Jamais esquecerei o contraste entre duas conferências que realizamos com poucos dias de intervalo. A primeira realizou-se numa grande arena e, do púlpito, notamos a contínua movimentação do povo. Vimos por toda parte pessoas inclinando-se e cochichando com familiares e amigos sentados perto delas. Concedendo aos membros o benefício da dúvida, atribuímos a generalizada falta de reverência à natureza do recinto.

Poucos dias depois, estando em outro país, para outra conferência de área numa arena semelhante à primeira, à nossa chegada a congregação silenciou imediatamente. Durante as duas horas de sessão geral, houve pouco movimento do povo. Todos ouviam atentamente. Houve grande atenção e respeito aos oradores, e quando o profeta falou, podia-se ouvir um alfinete cair.

Terminada a reunião, perguntei aos líderes do sacerdócio como haviam preparado o povo para a conferência. Disseram-me que simplesmente solicitaram aos portadores do sacerdócio que explicassem a seus familiares e às famílias que visitavam, como mestres familiares, que na conferência de área teriam o privilégio de ouvir o profeta e os apóstolos. Os líderes explicaram que a reverência do povo a Deus e seus servos era a base de sua conduta reverente na conferência.

Lembro-me de que o bispo me ensinou uma valiosa lição, quando era bem criança. O Presidente Heber J. Grant visitou nossa comunidade para a dedicação da nova capela. Nosso bispo ficou tão impressionado com a oração dedicatória, que na terça-feira seguinte compareceu à reunião da Primária. Queria ensinar-nos a respeitar o prédio dedicado como lugar de adoração.

Levou-nos a visitar toda a nova capela, mostrando os aspectos principais do prédio, a fim de incutir em nós que agora era uma casa dedicada ao Senhor. Indicou o fundo do saguão, onde haviam pintado o emblema da colméia acima das portas de saída. Explicou que a colméia era o símbolo da industriosidade para os pioneiros. “As abelhas estão sempre trabalhando para trazer mel e doçura para a colméia”, disse ele. A colméia pintada na parede devia ser um lembrete da importância da industriosidade constante, colhendo as boas coisas deste mundo e trazendo-as conosco para serem partilhadas no culto dominical.

Depois apontou para o grande quadro na frente do saguão, que ilustra a chegada dos pioneiros ao Vale do Lago Salgado. Falou-nos dos sacrifícios feitos por nós, vindo para cá e construindo as cidades e primeiras casa de culto, a fim de que pudéssemos participar do Espírito do Senhor e ser instruídos em seus caminhos.

O bispo apontou para duas outras pinturas, uma de cada lado do quadro dos pioneiros. A da direita mostrava o Profeta Joseph Smith, e a da esquerda o Profeta Brigham Young. Falou da reverência aos profetas e do acatamento a seus conselhos. Lembrou-nos da viagem do Presidente Grant e descreveu alguns dos sacrifícios que fizera para vir dedicar este prédio, entregando-o aos cuidados do Senhor.

Depois o bispo explicou o simbolismo da ilustração do ovo e do dardo, que se repetiam em torno de toda a capela. Disse por que fora escolhido — ovo significava nova vida, e o dardo o fim da vida. O ovo era um lembrete do nascimento mortal e do tempo que temos para instrução e treinamento nos caminhos do Senhor, e obediência e participação nas sagradas ordenanças que nos qualificam para voltar à sua presença. O dardo representava a transição para a imortalidade. Lembrava-nos que se nos provássemos dignos, seríamos abençoados com o maior dom de Deus, o da vida eterna.

Por fim, o bispo chamou-nos a atenção para a mesa do sacramento. Ensinou-nos o propósito do sacramento como renovação do convênio batismal e recordação do sacrifício expiatório de nosso Salvador. E terminou exortando-nos à reverência nessa casa, que fora dedicada ao Senhor.

Presenciar a dedicação da capela por um profeta de Deus e participar da visita liderada pelo bispo, impressionou-me fortemente. Entendi que, ao entrar na capela, estava entrando num lugar sagrado. Não me foi difícil ser reverente na capela por que, por toda parte, via lembretes do Senhor, de seus servos e seu plano eterno para mim. Esses lembretes reforçaram minha atitude e conduta reverentes.

Naturalmente, nossas capelas são construídas da mesma forma. Todas, porém, estão centralizadas na missão de nosso Salvador. São dedicadas com o propósito de adoração. Bem, o bispo hoje talvez possa instruir as crianças da Primária como meu bispo pôde fazê-lo, porque nossas capelas, agora, costumam estar ocupadas durante a Primária. Os pais talvez possam explicar a seus filhos que a capela é um lugar especial, dedicado ao Senhor, onde só atitudes e comportamentos reverentes são aceitáveis.

Se a reverência é uma atitude para com a Deidade, então é um sentimento particular, que temos no coração, não importando o que aconteça à nossa volta. E uma responsabilidade pessoal. Não podemos culpar outros por perturbar nossa atitude reverente.

Onde, então, nascem as atitudes reverentes? O lar é a chave para atitudes reverentes, como o é para qualquer outra virtude divina. E na oração pessoal e familiar que os pequeninos aprendem a inclinar a cabeça, cruzar os braços e fechar os olhos, enquanto falamos com o Pai Celeste. E a mãe providenciando, todos os dias, um período de calma na casa, em que apenas os pais e filhos estejam juntos, para reflexão e ensino, para estabelecer o exemplo de reverência no lar.

E na noite familiar, como parte da vida doméstica, que os filhos aprendem que há ocasiões especiais, na Igreja e em casa, em que aprendemos a respeito do Pai Celestial, e quando todos devem comportar-se da melhor maneira possível. O comportamento aprendido no lar determina o comportamento nas reuniões da Igreja. A criança que aprendeu a orar em casa sabe que deve ficar silenciosa durante as orações nas reuniões.

Certo domingo, minha neta Diana, de quatro anos, estava ao lado do pai na capela, reverente, gozando o conforto do braço do pai, aconchegando-a. Quando o bispo se levantou e anunciou o hino sacramental, Diana gentilmente ergueu o braço do pai dos ombros e colocou-o no colo. Sentou-se ereta e cruzou os braços. Olhou para o pai, incentivando-o a fazer o mesmo.

A mensagem de Diana ao pai era clara. Sugeria-lhe que voltasse sua atenção total e plenamente ao Salvador. Esta é a mensagem que toda atitude reverente transmite, e quando elas são freqüentes, sempre floresce a conduta reverente. Oro que, como Diana, nos empenhemos em desenvolver atitudes reverentes, a fim de que sirvamos a Deus reverentemente e com temor divino. (Vide Hebreus 12:28.)

Jamais depreciemos o valor do exemplo pessoal como testemunha viva do amor e respeito por aquele que chamamos de “Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (2 Néfi 19:6), é minha humilde oração em nome de Jesus Cristo, amém.