2010–2019
Agora É o Momento
Outubro de 2018


Agora É o Momento

Se existe algo na vossa vida que merece reflexão, agora é o momento.

Há alguns anos, enquanto me preparava para uma viagem de negócios, comecei a sentir uma dor no peito. Um pouco preocupada, a minha esposa decidiu acompanhar-me. No primeira parte do nosso voo, a dor intensificou-se ao ponto de sentir dificuldades respiratórias. Quando aterrámos, deixámos o aeroporto e fomos ao hospital local onde, depois de vários exames, o médico que nos atendeu, declarou que era seguro prosseguir viagem.

Voltámos ao aeroporto e embarcámos num voo até ao nosso destino final. Quando estávamos a aterrar, o piloto falou pelo intercomunicador e solicitou que me identificasse. A hospedeira aproximou-se e explicou que acabara de receber um telefonema de emergência e comunicou-me que uma ambulância estava à minha espera no aeroporto para nos levar ao hospital.

Entrámos na ambulância e fomos levados, rapidamente, às urgências locais. Lá, fomos atendidos por dois médicos ansiosos que explicaram que o diagnóstico estava errado e, na verdade, o que eu tinha era uma grave embolia pulmonar, ou um coágulo de sangue no pulmão, o que exigia atenção médica imediata. Os médicos informaram-nos que muitos pacientes não sobrevivem a estas situações, Sabendo que estávamos longe de casa e sem a certeza de estar preparados para estes eventos que poderiam mudar a nossa existência, os médicos disseram que se havia algo na nossa vida que merecia reflexão, aquele era o momento.

Lembro-me bem que, quase instantaneamente, naquele momento de ansiedade, toda a minha perspetiva mudou. O que parecia ser tão importante alguns momentos antes, agora não tinha tanta importância. A minha mente distanciou-se dos confortos e cuidados desta vida e voltou-se para uma perspetiva eterna — Pensamentos sobre a família, os filhos, a minha esposa e, por fim, uma avaliação da minha própria vida.

Como é que nos estávamos a sair como família e como indivíduos? Estaríamos nós a viver as nossas vidas em harmonia com os convénios que fizéramos e com as expectativas do Senhor ou, teríamos, talvez sem intenção, permitido que as solicitações do mundo nos distraíssem das coisas mais importantes?

Convido-os a refletir sobre a importante lição que aprendi com esta experiência: A desligar das coisas do mundo e a avaliar a vossa vida. Ou, segundo o médico, se existe algo na vossa vida que merece reflexão, agora é o momento.

Avaliar a Nossa Vida

Vivemos num mundo sobrecarregado de informação, dominado por crescentes distrações que criam obstáculos cada vez maiores, impedindo-nos de nos desligarmos da agitação desta vida e de nos concentrarmos nas coisas de valor eterno. A nossa vida diária é bombardeada com notícias apelativas, que chegam até nós através de tecnologias que estão sempre a mudar.

A menos que reservemos tempo para refletir, podemos não perceber o impacto deste ambiente tão agitado na nossa vida diária e nas escolhas que fazemos. A nossa vida pode ser consumida com explosões de informações embaladas em memes, vídeos e notícias ofuscantes. Embora sejam interessantes e nos entretenham, a maioria destas coisas tem pouco ou nada a ver com o nosso progresso eterno e, mesmo assim, moldam o modo como vemos a nossa experiência mortal.

Estas distrações mundanas podem ser comparadas àquelas do sonho de Leí. Ao seguirmos pelo caminho do convénio, agarrados firmemente à barra de ferro, ouvimos e vemos pessoas com atitude “de escárnio e [que apontam] o dedo” do grande e espaçoso edifício (1 Néfi 8:27). Podemos não o fazer de um modo consciente ou intencional, mas às vezes paramos e desviamos o nosso olhar para ver toda aquela agitação. Alguns podem até largar a barra de ferro e aproximar-se para ver melhor. Outros podem perder-se completamente “por causa dos que [zombam] deles” (1 Néfi 8:28).

O Salvador alertou-nos: “Acautelai-vos, não aconteça que o vosso coração se sobrecarregue (…) [com os] cuidados desta vida” (Lucas 21:34). Revelações modernas relembram-nos que muitos são chamados, mas poucos são escolhidos. Eles não são escolhidos “porque seu coração está (…) fixo nas coisas deste mundo e aspiram (…) às honras dos homens” (Doutrina e Convénios 121:35; ver também o versículo 34). Avaliar a nossa vida dá-nos uma oportunidade de nos desligarmos do mundo, refletir onde estamos no caminho do convénio e, se necessário, fazer ajustes para assegurar que vamos manter-nos firmemente agarrados à barra de ferro e sempre a olhar adiante.

Recentemente, num devocional mundial para os jovens, o Presidente Russell M. Nelson convidou os jovens a desligarem-se do mundo e a afastarem-se dos meios de comunicação social por meio de um jejum de sete dias. E ontem à noite, ele voltou a fazer um convite semelhante às irmãs na sessão das Mulheres desta conferência. Então pediu à juventude que notasse quaisquer diferenças a nível dos seus sentimentos e pensamentos. Depois convidou-os a fazer “uma profunda avaliação da sua vida com o Senhor… de forma a garantirem que os seus pés estão firmemente plantados no caminho do convénio”. Ele incentivou-os a identificar aspetos das suas vidas que precisassem de mudar, “hoje é a altura ideal para mudar”.1

Ao avaliar os aspetos, das nossas vidas, que precisam de ser mudados, podemos fazer, a nós mesmos, uma pergunta prática: Como é que nos elevamos acima das distrações deste mundo e permanecemos centrados na visão da eternidade diante de nós?

Num discurso da conferência de 2007 intitulado “Bom, Muito bom, Excelente”, o Presidente Dallin H. Oaks ensinou como estabelecer prioridades nas escolhas de muitas tarefas contraditórias deste mundo. Ele aconselhou: “Temos de renunciar a algumas coisas boas em prol de outras muito boas ou excelentes, pois elas desenvolvem a fé no Senhor Jesus Cristo e fortalecem a família”.2

Permitam-me sugerir que as melhores coisas desta vida estão centradas em Jesus Cristo e na compreensão das verdades eternas de quem Ele é de quem nós somos no nosso relacionamento com Ele.

Buscar a Verdade

Ao procurar conhecer o Salvador, não devemos ignorar a verdade fundamental de quem somos e porque estamos aqui. Amuleque lembrou-nos que “esta vida é o tempo para (…) [nos prepararmos] para o encontro com Deus”, tempo que “nos é dado a fim de nos prepararmos para a eternidade” (Alma 34:32–33). Como o conhecido axioma nos relembra: “Não somos seres humanos a passar por uma experiência espiritual. Somos seres espirituais a passar por uma experiência humana”.3

Entender as nossas origens divinas é essencial para o nosso progresso eterno e pode libertar-nos das distrações desta vida. O Salvador ensinou:

“Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos;

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:31).

O Presidente Joseph F. Smith proclamou: “A maior realização que a humanidade pode alcançar neste mundo é conhecer a verdade divina de um modo tão completo e perfeito, que o exemplo ou o comportamento de nenhuma criatura viva do mundo possa desviá-la do conhecimento que adquiriu.”4

No mundo de hoje, o debate sobre a verdade atingiu um tom febril, com todos os lados reivindicando a verdade como se fosse um conceito relativo, aberto à interpretação individual. O jovem Joseph Smith percebeu que “tão grandes eram a confusão e a contenda” na vida dele que “era impossível chegar a qualquer conclusão definitiva acerca de quem estava certo e de quem estava errado” (Joseph Smith—História 1:8). Foi “em meio a essa guerra de palavras e divergência de opiniões” que ele procurou a orientação divina em busca da verdade (Joseph Smith—História 1:10).

Na conferência de abril, o Presidente Nelson ensinou: “Se quisermos ter a esperança de filtrar as diversas opiniões e filosofias dos homens que atacam a verdade, precisamos aprender a receber revelação.”5 Devemos aprender a confiar no Espírito da Verdade, “que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece” (João 14:17).

Enquanto este mundo se move rapidamente para realidades alternativas, devemos lembrar-nos das palavras de Jacó, de que “o Espírito fala a verdade e não mente. Portanto, fala de coisas como realmente são e de coisas como realmente serão; assim, estas coisas nos são manifestadas claramente para a salvação da nossa alma” (Jacó 4:13).

Ao nos desligarmos do mundo e avaliarmos a nossa vida, agora é o momento de refletir sobre as mudanças que necessitamos fazer. Podemos ter grande esperança em saber que o nosso Exemplo, Jesus Cristo, nos mostrou qual o caminho a seguir. Antes da Sua morte e ressurreição, enquanto trabalhava para ajudar aqueles que O cercavam a compreender o Seu papel divino, lembrou-os “para que em Mim tenhais paz. No mundo tereis aflição, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo” (João 16:33). Dele eu presto testemunho, em nome de Jesus Cristo, Amém.

Notas

  1. Presidente Russell M. Nelson, “Juventude da promessa” (Devocional mundial para os jovens, 3 de junho de 2018), Hopeofisrel.lds.org

  2. Dallin H. Oaks, “Bom, Muito Bom, Excelente”, A Liahona, novembro de 2007, p. 107–108.

  3. Citação frequentemente atribuída a Pierre Teilhard de Chardin.

  4. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph F. Smith, 1998, p. 42.

  5. Russell M. Nelson, “Revelação para a Igreja, revelação para a nossa vida”, Liahona, maio de 2018, p. 96.