2005
Deixar de Amar (…) e Reconquistar Esse Amor
Janeiro de 2005


Deixar de Amar (…) e Reconquistar Esse Amor

A chave para consertar meu casamento foi aprender a ver meu marido como o Salvador o via.

De acordo com os padrões do mundo é fácil apaixonar-se. Infelizmente, deixar de amar alguém, pode ser igualmente fácil. Porém, apaixonar-se novamente pela mesma pessoa depois de tê-la esquecido, é extremamente difícil. As pessoas não voltam a amar; elas reconquistam o amor. E essa pode ser uma jornada longa e árdua, mas extremamente recompensadora. Sei disso por experiência própria.

“Pai Celestial, não sei o que fazer!” Saíra batendo a porta da casa, depois de uma discussão particularmente violenta com meu marido. Era novembro e fazia muito frio. Não estava com sapatos nem casaco, mas estava tão zangada que mal percebera. Nosso casamento não tinha problemas quanto a maus-tratos, mas parecia que brigávamos o tempo todo—ou pelo menos sempre que ele estava em casa, o que não acontecia com muita freqüência. Ele ficava até tarde no trabalho quase todos os dias e parecia que passava o resto de seu tempo no campo de golfe. Eu não podia culpá-lo. Era tão horrível para ele ficar em casa como o era para mim. Então lá estava eu, no frio, vestindo apenas uma camiseta e calças jeans, extravasando minha desgraça ao Pai Celestial. À medida que orava, percebi que não amava mais o meu marido. Nem sequer gostava dele.

Parecia que tinha duas opções: Eu poderia deixá-lo e pedir o divórcio ou, poderia ficar e continuar a sentir-me miserável. Nenhuma das opções pareciam muito convidativas. Se eu fosse embora, meu casamento fracassaria e perderia a esperança de ter uma família eterna. Eu obrigaria meus filhos a sofrer devido à minha decisão e eles passariam a infância vivendo apenas com um dos pais.

Por outro lado, se eu ficasse, estaria ignorando o fato de que o nosso casamento estava indo a pique de qualquer maneira. Eu não teria uma família eterna, porque certamente não estávamos rumando para o reino celestial. Estaria forçando meus filhos a viverem em um lar infeliz, porque a mãe e o pai não gostavam um do outro e mal podiam se olhar, sem ficarem ofendidos.

“Pai Celestial”, orei, “nenhuma opção é boa. Por favor, diz-me o que fazer.”

Foi quando um novo pensamento veio-me à mente. A escolha certa que eu havia ignorado. Eu poderia ficar, amar o Mark (o nome foi mudado) e ser feliz. Isso pareceu uma escolha muito melhor. Embora eu não tivesse a mínima idéia de como eu conseguiria isso, o pensamento de ver minha família feliz outra vez, fez com que eu sentisse que poderia dar meia volta e retornar para casa.

Durante as semanas seguintes tentei voltar a amar o Mark, mas só encontrei frustração. Todo meu esforço parecia dar em nada. Tentei ser mais amável para com ele. Mas quando lhe preparei um jantar delicioso que sabia iria gostar, ele chegou tarde. Quando lhe fazia pequenas coisas que, eu acreditava, demonstravam meu amor, ele não percebia, e isso me irritava ainda mais. Apesar de todo o meu empenho, ele não passava pela milagrosa transformação que eu esperava. Três semanas depois, estava ainda mais pronta a desistir do que nunca.

Voltei-me ao Pai Celestial em oração. Envergonho-me por dizer que não foi uma oração das mais humildes. “Não vai funcionar”, informei a Ele. “Mark é idiota demais. Não posso amá-lo se ele não se dispõe a me ajudar um pouco. Eu tentei, mas não adiantou!

Não podes ajudar-me?” Pedi. “Não podes fazer com que ele seja um pouco mais gentil? Não podes simplesmente dar um jeito nele?”

Quase que imediatamente ouvi a clara resposta: “Dê um jeito em si mesma!

“Eu não sou o problema”, pensei. Estava segura disso. Comecei a pensar em todos os defeitos terríveis que Mark tinha que não podiam ser ignorados e, definitivamente, lá residia o problema.

Ouvi, novamente, em minha mente conturbada: “Dê um jeito em si mesma”.

“Certo”, orei com mais humildade, naquele momento: “Mas eu não sei como. Por favor, guia-me. Por favor, diz-me o que fazer”.

Orava todos os dias, implorando para que o Senhor me guiasse. Ajoelhei-me em muitas longas orações, em que dizia a Ele o quanto isso era importante para mim, tentando convencê-Lo a me ajudar, mas nada parecia acontecer.

A inspiração finalmente chegou pelo nosso professor de Doutrina do Evangelho. Durante a aula lemos Morôni 7:47–48: “Mas a caridade é o puro amor de Cristo (…). Portanto, meus amados irmãos, rogai ao Pai, com toda a energia de vosso coração, que sejais cheios desse amor que ele concedeu a todos os que são verdadeiros seguidores de seu Filho, Jesus Cristo”.

Discutimos o que significa caridade. Ela é o amor que Jesus Cristo tem por todos nós. Aprendi que o Salvador sabe o que existe de bom em cada um. Ele consegue encontrar algo digno de amar em toda pessoa.

O professor voltou a citar-nos a escritura. “O versículo 48 diz que a caridade é um dom do Pai que é concedido a vocês. A caridade não é algo que vocês próprios desenvolvem. Ela precisa ser-lhes dada. Assim, existe um vizinho que os deixa irritados ou alguém de quem não gostam. Qual é o problema? O problema é que vocês não têm caridade, o puro amor de Cristo, por esse vizinho. Como podem obtê-lo? Precisam ‘orar ao Pai com toda a energia de vosso coração’ e pedir-Lhe que faça com que sintam caridade para com aquela pessoa. Precisam pedir para enxergar a pessoa através dos olhos do Salvador, para que possam vê-la como alguém bom e digno de amor.”

Essa era a minha resposta. Se eu pudesse ver o Mark da perspectiva do Salvador, eu não poderia deixar de amá-lo. Parecia algo tão fácil de se fazer, muito mais fácil do que qualquer coisa que tentara antes. Apenas pediria caridade, Deus a concederia para mim e isso resolveria meu problema. Mas eu deveria saber que o Pai Celestial exigiria pelo menos um pouco de esforço de minha parte.

Ajoelhei-me em oração naquela noite e pedi que sentisse caridade por meu marido. Pedi para sentir uma porção do amor que Jesus Cristo sentia pelo Mark, para ver as coisas boas que o Senhor via nele. Então veio-me, com clareza, à mente, que eu já sabia quais eram as coisas boas que havia no Mark e que eu deveria enumerá-las. Pensei longamente. Não me concentrava em coisas boas há muito tempo. Finalmente disse: “Ele estava bem arrumado hoje”. Lembrei-me de uma outra coisa: “Ele leva o lixo para fora quando eu peço”. Uma outra: “Ele trabalha arduamente”. Outra: “Ele cuida bem das crianças”. Outra. Não conseguia pensar em mais nada.

Na noite seguinte, antes de dormir, pedi por caridade e fui novamente inspirada a dizer coisas boas a respeito do Mark. Foi difícil. Eu não estava acostumada a concentrar-me no positivo. Estava acostumada a catalogar todos os seus defeitos para que eu pudesse corrigi-los.

Logo percebi que teria de mencionar coisas boas a respeito dele toda noite durante algum tempo e decidi que seria infinitamente mais fácil se eu prestasse atenção nelas durante o dia. No dia seguinte observei cuidadosamente e descobri 10 coisas boas a respeito dele—um novo recorde! Isso tornou-se a minha meta: 10 coisas boas antes de ir para a cama. Nos bons dias era fácil. Mas nos dias ruins, as três últimas giravam em torno de: “O cabelo dele parecia estar em ordem” ou “Gostei da calça jeans que ele vestiu”. Mas cumpri a meta todas as noites.

Depois de algum tempo comecei a forçar-me a mencionar 10 coisas positivas cada vez que tinha um pensamento negativo. Com essa vantagem, não me prendia aos defeitos do Mark com muita freqüência.

Lentamente algo maravilhoso estava acontecendo. Primeiro, comecei a ver que Mark não era aquele grande idiota que eu pensava ser. Ele tinha muitas características maravilhosas que eu negligenciara ou esquecera. Segundo, por eu ter deixado de censurá-lo, Mark começou a mudar muitos dos maus hábitos de que eu reclamava há tanto tempo. Tão logo parei de sentir que tinha de ser responsável por suas ações, ele começou a assumir a responsabilidade. Passei a apreciar o tempo que ficava com Mark e esse tempo aumentou, porque ele parou de trabalhar tantas horas.

Nosso relacionamento progredira muito, mas ainda havia um problema: não sentia amor pelo Mark. Simplesmente não sentia nada. Eu ansiava por aquele sentimento de ligação, aquele sentimento de que pertencíamos um ao outro. Vinha orando havia cinco meses agora, pedindo para sentir o amor que Cristo sentia por ele. Supliquei a Deus com mais intensidade ainda, para que fizesse com que eu o amasse. “Estou feliz com nosso progresso”, disse a Ele. “Nossa família está muito mais unida do que jamais esteve. Se isso é o melhor que posso ter, ficarei satisfeita. Mas se simplesmente pudesse amar o Mark, mesmo que só um pouco, essa seria a melhor bênção que eu poderia receber.”

Lembro-me vividamente do momento em que aquela bênção foi-me concedida. Estávamos envolvidos com alguns passatempos na casa de meus pais, certa noite. Eu olhei para o Mark, do outro lado da mesa e, repentinamente, do nada, o sentimento de amor mais forte, mais vibrante, mais intenso que jamais sentira, atingiu-me com uma energia quase que física. Meus olhos encheram-se de lágrimas, e senti-me dominada pela força de meus sentimentos. Lá, sentado à minha frente, estava o meu companheiro eterno, a quem eu amava mais do que meras palavras poderiam expressar. Seu valor infinito era tal que eu não conseguia acreditar que o negligenciara. Senti um pouco do que o Salvador sentia pelo meu Mark, e foi maravilhoso.

Já se passaram vários anos desde aquela noite especial, e a lembrança dela ainda traz lágrimas aos meus olhos. É assustador pensar que quase desisti, que quase perdi essa experiência.

Meu casamento vai muito bem agora — não é perfeito, mas é muito, muito bom. Recuso-me a deixar que o amor escorregue novamente. Faço um esforço consciente, a cada dia, para nutrir meu amor pelo Mark. E sinto uma profunda gratidão por um Pai Celestial paciente e amoroso, por ter-me ajudado a dar um jeito em mim mesma.