Amanhecer

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Imagem: Getty Images

A madrugada de inverno estava clara e fria nas horas antes do alvorecer enquanto eu iniciava as tarefas matinais em minha fazenda de gado leiteiro. Minha mente estava entorpecida enquanto refletia sobre os acontecimentos da semana anterior. A tragédia se abatera sobre nosso pequeno vale. Um antigo colega de escola, com seu filho pequeno, sua filha adolescente e três amigas dela haviam falecido em um terrível acidente de carro. Meus filhos eram amigos das meninas do acidente. Durante a semana, nossa família, assim como muitas outras, havia sofrido com as famílias envolvidas na tragédia. Já havíamos participado de três funerais naquela semana e hoje íamos assistir ao último deles, do pai e de seus dois filhos.

Estava debatendo-me com duas perguntas ao procurar entender o que havia acontecido.

Primeiramente, estava angustiado ao procurar entender por que esses jovens tinham sido levados antes de poderem desfrutar tanto do que a vida tinha para lhes oferecer. Eles não cresceriam, não serviriam missão, não teriam filhos nem experimentariam tantas outras alegrias da vida mortal.

Em segundo lugar, embora eu sentisse que éramos uma comunidade desejosa de oferecer o máximo de consolo para aquelas famílias, parecia que nada do que pudéssemos fazer ou qualquer esforço conseguiria abrandar sua tristeza.

Enquanto trabalhava, fui surpreendido por uma visita do sogro do meu amigo que havia falecido. Assim como eu, ele criava animais — um trabalho que nunca termina — e tinha a necessidade imediata de comprar um bezerro. Após concluir a transação, conversamos brevemente sobre como ele e sua família estavam indo. Manifestei-lhe meu desejo de poder fazer mais por eles. Sentia-me incapaz de aliviar sua dor. Fiquei então impressionado com sua calma e paz a despeito do que sua família estava passando.

Subitamente percebi que a resposta a uma de minhas perguntas estivera ali o tempo todo. Eu me preocupara em como oferecer consolo para meus amigos em sofrimento e me esquecera de que o verdadeiro consolo e paz vêm por meio do Espírito Santo. Aquelas famílias foram abençoadas com uma porção dobrada do consolo que somente o Pai Celestial pode conceder. Eu sabia que elas estavam recebendo o consolo do Senhor, conforme ensinado no Livro de Mórmon.

“Ele consolar-vos-á nas aflições e defenderá vossa causa (…).

Ó todos vós, que sois puros de coração, levantai a cabeça e recebei a agradável palavra de Deus e banqueteai-vos com seu amor; porque podereis fazê-lo para sempre, se vossa mente for firme” (Jacó 3:1–2).

Após nos despedirmos, sentei-me no estábulo e notei a lua cheia se pondo no céu do oeste. Foi uma bela visão. Então me virei e vi o nascer do sol no leste. Era como se todo o céu estivesse vivo e cheio de cores. O ocaso da lua tinha sido lindo; o nascer do sol era de tirar o fôlego. Ao me deter para ponderar sobre esse contraste, veio-me à mente que, por mais bela e feliz que pareça nossa vida, ela fica empalidecida em comparação com a beleza e felicidade que está a nossa frente se formos fiéis e obedientes. Compreendi então que aqueles que haviam falecido não haviam perdido absolutamente nada. Haviam sido valentes em sua vida na Terra e estavam agora entrando em experiências e alegrias muito maiores.

Mais tarde naquele dia, assisti ao último funeral com minha família. Reunimo-nos naquele dia em um tabernáculo lotado, com todos os lugares ocupados, com o apoio de uma comunidade inteira. Naquele dia e nos subsequentes, o povo em nosso vale sentiu uma paz especial. Os pais estiveram um pouco mais próximos dos filhos e compreendemos que nossa vida terrena é breve e que precisamos expressar com mais frequência nosso amor aos familiares e amigos. Relembrei-me do amor do Senhor por nós e da beleza do plano de salvação. Esta vida não é o fim; ainda existe muita beleza, felicidade e alegria por vir.