Jesus Cristo
Capítulo 40: A Longa noite da Apostasia


Capítulo 40

A Longa noite da Apostasia

Por mais de dezessete séculos no hemisfério oriental, e acima de mil e quatrocentos anos no ocidental, parece ter havido silêncio entre os céus e a terra.a Não temos qualquer registro autêntico de revelação direta de Deus ao homem durante esse longo intervalo. Como já demonstramos, o período do ministério apostólico no continente oriental terminou provavelmente antes do alvorecer do segundo século da Era Cristã. O passamento dos apóstolos foi acompanhado do rápido desenvolvimento de uma apostasia universal, como tinha sido previsto e profetizado.b

Causas externas tanto quanto internas cooperaram para que se manifestasse essa grande apostasia. Dentre as forças desintegradoras agindo de fora para dentro, a mais eficiente foi a constante perseguição a que foram submetidos os santos, em decorrência da oposição judaica, bem como da pagã. Inúmeros dos que haviam professado a fé, e muitos dos que tinham sido oficiais no ministério, desertaram da Igreja, enquanto uns poucos eram estimulados a maior zelo sob o açoite da perseguição. O efeito geral da oposição vinda de fora — de causas externas do declínio da fé e obras, consideradas como um todo — era a defecção individual, resultando numa extensa apostasia dos que saíam da Igreja. Mas incomparavelmente mais sério era o resultado da dissensão interna, do cisma e do rompimento, pelos quais ocorreu uma absoluta apostasia da Igreja dos caminhos e da palavra de Deus.

O judaísmo foi o mais antigo opressor do cristianismo, e tornouse o instigador e cúmplice das sucessivas atrocidades inerentes à perseguição pagã. A hostilidade aberta e vigorosa das forças romanas contra a Igreja Cristã tornou-se generalizada durante o reinado de Nero (começando ao redor de A.D. 64), e prosseguiu, com pausas ocasionais de uns poucos meses ou mesmo de anos, de uma só vez, até o final do reinado de Diocleciano (cerca de A.D. 305). As crueldades desumanas e o selvagem barbarismo a que foram sujeitos os que ousaram professar o nome de Cristo, durante os séculos da dominação dos pagãos, são pontos conhecidos da história.c Quando Constantino, o Grande, subiu ao trono, no primeiro quadrante do século quarto, uma transformação radical teve início na atitude do estado em relação à Igreja. O imperador imediatamente fez, do chamado cristianismo da época, a religião de seu reino; e a zelosa devoção à Igreja tornou-se a mais segura recomendação para o imperial favor. A Igreja, porém, já era, em grande parte, uma instituição apóstata e até mesmo nos traços mais gerais, da organização e serviço, apresentava apenas remota semelhança com a Igreja de Jesus Cristo, fundada pelo Salvador e edificada pela instrumentalidade dos apóstolos. Quaisquer vestígios de genuíno cristianismo que tivessem sobrevivido na Igreja até ali, foram sepultados e ocultos da vista humana pelos abusos que acompanharam a promoção da ordem eclesiástica ao favor secular, pelo decreto de Constantino. O imperador, embora não batizado, fez-se a si próprio cabeça da Igreja, e os ofícios sacerdotais passaram a ser mais disputados que os postos militares, ou as vantagens estatais. O espírito de apostasia, pelo qual a Igreja havia sido impregnada antes de Constantino haver lançado sobre ela o manto da proteção imperial, adornandoa com a insígnia do estado, foi então estimulando a crescente atividade, à medida que o fermento da cultura do próprio Satanás florescia, sob condições das mais favoráveis para aquele desenvolvimento semelhante ao dos fungos.

O bispo de Roma já havia conseguido supremacia em relação a seus companheiros de episcopado, mas quando o imperador fez de Bizâncio a sua capital, e trocou o nome da cidade em honra de si mesmo, para Constantinopla, o bispo daquela cidade pleiteou igualdade com o pontífice romano. A pretensão foi contestada, a dissensão que se seguiu dividiu a Igreja, e o rompimento tem persistido até o dia de hoje, como se pode ver pela distinção existente entre as Igrejas Católica Romana e Católica Grega.

O pontífice romano exercia autoridade secular ao mesmo tempo que espiritual, e no século onze aplicou a si mesmo o título de Papa, significando Pai, com o sentido de governante paternal em todas as coisas. Durante os séculos treze e quatorze, a autoridade temporal do papa era superior à dos reis e imperadores, e a Igreja romana tornou-se o despótico potentado das nações, e um autocrata acima de todos os estados seculares. Ainda assim, essa Igreja, tresandando o mau cheiro da ambição mundana e da cobiça de dominação, audaciosamente declarava ser a Igreja estabelecida por Aquele que afirmou: “Meu reino não é deste mundo.” As arrogantes pretensões da Igreja de Roma não eram menos extravagantes na administração espiritual do que na secular. Em seu controle sobre o destino espiritual das almas dos homens, proclamado em alta voz, ela de maneira blasfema fazia crer que perdoava ou retinha os pecados dos indivíduos, e infringia ou suspendia penalidades, tanto na terra quanto além túmulo. Ela vendia permissão para cometer pecado e negociava, por dinheiro, cartas de indulgente perdão por faltas já cometidas. O papa da Igreja, proclamando-se a si mesmo vigário de Deus, sentou-se em posição de julgamento como o próprio Deus; e por essa blasfêmia, cumpriu a profecia de Paulo que se seguiu à advertência em relação às terríveis condições que antecederão a segunda vinda de Cristo: “Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.”d

Em sua irrestrita entrega à liberdade de assumir indevida autoridade, a Igreja de Roma não hesitou em transgredir a lei de Deus, mudar as ordenanças essenciais à salvação, e quebrar de maneira cruel o eterno convênio, desse modo contaminando a terra, exatamente como Isaías havia predito.e Ela alterou a ordenança do batismo, destruindo seu simbolismo e associando-lhe imitações de ritos pagãos; corrompeu o sacramento da Ceia do Senhor e conspurcoulhe a doutrina com a extravagância da transubstanciaçãoa pretendeu aplicar os méritos dos justos para o perdão do pecador, no dogma antiescriturístico e inteiramentef repelente da supererrogaçao; promoveu a idolatria das maneiras mais sedutoras e perniciosas; condenou o estudo das sagradas escrituras pelo povo em geral; impôs um estado antinatural de celibato ao clero; deleitou-se em união profana com as teorias e sofismas dos homens, e de tal maneira adulterou as doutrinas singelas do evangelho de Cristo, que chegou a criar um credo pejado de superstição e heresia; promulgou doutrinas tão pervertidas a respeito do corpo humano, que fez o tabernáculo de carne, divinamente formado, parecer algo conveniente apenas para ser torturado e menosprezado; proclamou como ato virtuoso, merecedor de rica recompensa, o mentir e enganar, se com isso os seus próprios interesses fossem promovidos; e tão completamente se afastou do plano original da organização da Igreja, que de si mesma fez um espetáculo de pomposa ostentação, elaborada pelo capricho do homem.f

As mais importantes das causas internas, pelas quais a apostasia da Igreja Primitiva foi realizada, podem ser resumidas da seguinte forma: (1) A corrupção das doutrinas simples do evangelho de Cristo pela mistura com os chamados sistemas filosóficos. (2) Acréscimos não autorizados aos ritos prescritos da Igreja e a introdução de alterações vitais nas ordenanças mais importantes. (3) Mudanças não autorizadas na organização e no governo da Igreja.g

Sob a tirânica repressão que acompanhou o domínio usurpado e injusto da Igreja de Roma, a civilização foi retardada e, durante séculos, praticamente paralisada em seu curso. Esse período de regressão é conhecido na história como Idade Média. O século quinze testemunhou o movimento conhecido como Renascença ou Restauração do Conhecimento; houve um despertamento geral e significativamente rápido entre os homens, e um esforço deliberado para sacudir o estupor de indolência e ignorância manifestou-se por todo o mundo civilizado. Pelos historiadores e filósofos, o reavivamento foi considerado como uma instigação inconsciente e espontânea do “espírito do tempo”; tratava-se, contudo, de um desenvolvimento predeterminado na mente de Deus, para iluminar a obscurecida mente dos homens, preparando-os para a restauração do evangelho de Jesus Cristo, que estava designada a realizar-se alguns séculos mais tarde.h

Com a renovação da atividade intelectual e do esforço para o aperfeiçoamento material, surgiram como acompanhamento lógico e inevitável, o protesto e a revolta contra a tirania eclesiástica da época. Os albigenses na França tinham-se levantado em insurreição contra o despotismo eclesiástico durante o século treze; e no quatorze, João Wickliffe, da Universidade de Oxford, havia corajosamente denunciado a corrupção da Igreja e do clero romanos, e particularmente as restrições impostas pela hierarquia papal ao estudo popular das Escrituras. Wickliffe deu ao mundo uma versão da Santa Bíblia em inglês. A igreja papal procurou reprimir e punir pela força tais manifestações de crença independente. Os albigenses tinham sido sujeitos a crueldades desumanas e a morticínio irrestrito. Wickliffe foi objeto de severa e persistente perseguição; e embora tivesse morrido em seu leito, a vingança da Igreja romana permaneceu insaciada, enquanto não fez exumar e queimar o seu corpo, espalhando as cinzas aos quatro ventos. João Huss e Jerônimo de Praga tornaram-se preeminentes no continente europeu, na agitação contra o despotismo papal, e ambos tombaram como mártires da causa. Embora a Igreja se houvesse tornado apóstata até o âmago, não faltaram homens corajosos de coração e retos de espírito, prontos a dar a vida pelo avanço da emancipação espiritual.

Uma revolta notável contra o papado ocorreu no século dezesseis, conhecida pelo nome de Reforma. O movimento foi iniciado em 1517 por Martinho Lutero, um monge alemão, e espalhou-se tão rapidamente, que logo envolveu todo o domínio do papado. Protestos formais contra o despotismo da Igreja papal foram formulados pelos representantes de certos príncipes alemães e por outros delegados a uma dieta, ou concílio geral, realizado em Spira, em A.D. 1529, e os reformadores passaram a ser conhecidos como Protestantes desde esse tempo. Uma Igreja independente foi proposta por João, Eleitor da Saxônia, para o que foi preparada, a instâncias suas, uma constituição por Lutero e seu companheiro Melanchton. Os protestantes discordavam entre si. Faltando-lhes divina autoridade para serem guiados nos assuntos de organização e doutrina da Igreja, seguiam os multiformes caminhos dos homens, e eram desunidos internamente, ao mesmo tempo que eram atacados externamente. A Igreja romana, enfrentada por oponentes determinados, não hesitou ante nenhum extremo de crueldade. O tribunal da Inquisição, que fora estabelecido na última parte do século quinze sob o título, infamemente sacrílego, de “Santo Ofício”, tornou-se intoxicado com o sadismo da crueldade bárbara no século da Reforma, infligindo indescritíveis torturas a pessoas secretamente acusadas de heresia.

Nos primeiros tempos da Reforma instigada por Lutero, Henrique VIII, rei da Inglaterra, declarou-se defensor do papa, e foi recompensado pela atribuição papal do elevado título de “Defensor da Fé”. Dentro de poucos anos, esse mesmo soberano britânico foi excomungado da igreja romana, por sua impaciente desconsideração quanto à autoridade do papa em relação ao desejo de Henrique de divorciar-se da rainha Catarina, a fim de que pudesse casar-se com uma de suas damas. O parlamento britânico, em 1534, aprovou o Ato de Supremacia, pelo qual a nação foi declarada livre de toda subordinação à autoridade papal. Por um ato do Parlamento, o rei foi feito cabeça da Igreja dentro dos limites de seus próprios domínios. Assim nasceu a Igreja Anglicana, resultado direto dos amores licenciosos de um rei infame e debochado. Com blasfema indiferença pela falta de comissionamento divino, sem qualquer semelhança de sucessão sacerdotal, um soberano adúltero criou uma Igreja, proveu-a de um “sacerdócio” dele próprio, e a si mesmo se proclamou administrador supremo em todos os assuntos espirituais.

O estudante de história está familiarizado com o conflito entre Catolicismo e Protestantismo na Grã-Bretanha. Basta-nos assinalar áqui que o ódio mútuo das duas seitas contendoras, o zelo de seus respectivos membros, o seu professado amor a Deus e devoção ao serviço de Cristo, eram demonstrados principalmente pela espada, o machado e a fogueira. Deleitando-se com a sensação de, pelo menos, uma emancipação parcial da tirania do sacerdotalismo, homens e nações transformaram em deboche sua recém-adquirida liberdade de pensamento, palavra e ação, numa orgia de execrável excesso. A era impropriamente chamada de Idade da Razão, e as abominações ateísticas que culminaram com a Revolução Francesa, permaneceram como indelével testemunho do que pode tornar-se o homem, quando se gloria na negação de Deus.

Seria motivo de espanto que, a partir do século dezesseis, as Igrejas de humana invenção se tivessem multiplicado com fenomenal rapidez? Igrejas e organizações eclesiásticas, professando o cristianismo como credo, vieram a ser contadas por centenas. De todos os quadrantes se ouve nesses dias, “Eis aqui o Cristo” ou “Ei-lo ali”. Há seitas cujos nomes se referem às circunstâncias de sua origem, como a Igreja Anglicana; outras recebem o nome de seus famosos fundadores ou inspiradores, como a luterana, calvinista, wesleyana; algumas sao conhecidas pelas peculiaridades de sua doutrina ou de seu plano de administração, como a metodista, batista, congregacional; entretanto, até a terceira década do século dezenove não havia Igreja na Terra apresentando-se, em nome ou título, como Igreja de Jesus Cristo. A única organização chamada Igreja, existente por aquele tempo, e que se aventurava a pretender autoridade através de sucessão, era a Católica, que por séculos havia sido apóstata e inteiramente destituída de autoridade ou reconhecimento divino. Se a “Igreja mãe” não possui um sacerdócio válido, e é desprovida de poder espiritual, como podem suas filhas derivar dela o direito de oficiar nas coisas de Deus? Quem ousaria afirmar que o homem pode dar origem a um sacerdócio que Deus ficasse obrigado a honrar e reconhecer? Admitindo-se que os homens possam criar, como efetivamente o fazem, sociedades, associações, seitas, e até mesmo “igrejas”, se assim decidirem chamar suas organizações; e admitindo-se que possam prescrever regulamentos, formular leis, e estabelecer planos de operação, disciplina e governo, e que todas essas leis, regras e esquemas de administração tenham poder sobre os que se associam; admitindo-se todos esses direitos e poderes, de onde derivariam tais instituições humanas a autoridade do Santo Sacerdócio, sem o qual não pode haver Igreja de Cristo?i

A condição de apostasia da cristandade tem sido francamente admitida por muitos representantes eminentes e conscienciosos das várias Igrejas, e até pelas próprias Igrejas como instituições. A própria Igreja Anglicana reconhece o terrível fato em sua declaração oficial de degenerescência, conforme aparece na “Homília contra o perigo da idolatria”, nas seguintes palavras:

“De tal forma que o laicato e o clero, sábios e ignorantes, todas as idades, seitas, e graus de homens, mulheres e crianças de toda a cristandade (uma coisa horrível e a mais aflitiva em que se possa pensar) mergulharam de uma vez em abominável idolatria, vício dentre todos o mais detestado por Deus, e mais condenatório para o homem; e isso pelo espaço de oitocentos anos e até mais.”j

Que não se conclua, porém, que durante a noite da apostasia universal, longa e trevosa como foi, haja Deus Se esquecido do mundo. A humanidade não foi deixada inteiramente por sua própria conta. O Espírito de Deus esteve em ação, até onde a incredulidade dos homens o permitia. O apóstolo João e os Três Nefitask ministravam entre os homens, embora incógnitos. Contudo, por todos os séculos de escuridão espiritual, os homens viveram e morreram sem a administração de um apóstolo contemporâneo, ou de um profeta, élder, bispo, sacerdote, mestre ou diácono. Qualquer que fosse a aparência de religiosidade existente nas Igrejas de origem humana, era entretanto desprovida de poder divino. O tempo previsto pelo apóstolo inspirado havia chegado plenamente: a humanidade recusara-se a suportar a sã doutrina de maneira geral, mas, tendo comichão nos ouvidos, acumulava para si mesma mestres segundo suas próprias concupiscências, e havia realmente afastado seus ouvidos da verdade para andar atrás de fábulasl O primeiro quadrante do século dezenove testemunhou o cumprimento cumulativo das condições preditas pelo profeta Amos: “Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. E irão errantes de um mar até outro mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda a parte, buscando a palavra do Senhor, mas não a acharão.”m

Durante todo o período da apostasia, as janelas do céu tinham permanecido cerradas para o mundo, de maneira a impedir qualquer revelação direta de Deus, e particularmente qualquer ministração pessoal ou teofania do Cristo. A humanidade havia cessado de conhecer a Deus, e revestia as declarações dos profetas e apóstolos antigos, que haviam conhecido a Deus, com um manto de mistério e fantasia de tal forma, que o verdadeiro Deus vivente nao encontrava quem cresse em Sua existência, mas em Seu lugar, os membros das seitas tentavam criar um ser incompreensível, desprovido de “corpo, partes, ou paixões”, um autêntico nada imaterial.n

Tinha sido determinado, porém, nos conselhos celestiais, que depois de muitos séculos de tenebrosa ignorância, o mundo deveria ser novamente iluminado pela luz da verdade. Por meio da atuação do gênio da inteligência, que é o Espírito de Verdade, a alma da raça viera passando por uma preparação, semelhante à profunda aradura do campo, para o novo plantio do evangelho. O princípio da bússola dos marinheiros foi revelado pelo Espírito; a sua realização material foi inventada pelo homem, e com sua ajuda, os oceanos desconhecidos foram explorados. Aproximando-se o final do século quinze, Colombo foi orientado pela inspiração de Deus para a descoberta do Novo Mundo, onde habitava a degenerada posteridade de Lei, remanescentes de pele escura da casa de Israel — os índios americanos. No devido tempo, os navios Mayflower e Speedwell trouxeram ao hemisfério ocidental os Pais Peregrinos, como vanguarda de uma hoste que fugia do exílio e buscava um novo lar onde pudesse adorar de acordo com os ditames de sua consciência. A vinda de Colombo e a posterior imigração dos peregrinos puritanos já fora predita cerca de seiscentos anos antes de Cristo; suas missões respectivas tinham-lhes sido tão certamente atribuídas, quanto o tem sido o envio de qualquer profeta, com uma mensagem a transmitir ou uma obra a realizar.o A guerra entre as colônias americanas e a mãe-pátria, bem como o seu vitorioso término, pela liberdade da terra americana de uma vez por todas, da sujeição monárquica, fora predita como passos posteriores nos preparativos para a restauração do evangelho. Foi concedido tempo para o estabelecimento de um governo estável, para o surgimento de homens escolhidos e inspirados para elaborar e promulgar a Constituição dos Estados Unidos, que promete a todo homem completa liberdade política e religiosa. Não seria conveniente que a preciosa semente do evangelho restaurado fosse lançada em solo nao arado, endurecido pela violência, e pronto para produzir somente os espinhos da intolerância, e brotar as ervas daninhas da servidão mental e espiritual. O evangelho de Jesus Cristo é a corporificação da liberdade; é a verdade que tornará livre cada homem e cada nação que o aceitar e obedecer aos seus preceitos.

No tempo próprio, o Pai Eterno e Seu Filho Jesus Cristo apareceram ao homem na Terra, e inauguraram a Dispensação da Plenitude dos Tempos.

Notas do Capítulo 40

  1. Término das revelações no hemisfério ocidental. — “O hemisfério oriental havia perdido o conhecimento do Senhor, antes do mundo ocidental. Nas terras da América do Norte, quatrocentos anos depois do nascimento de nosso Salvador e Mestre havia pelo menos um homem que conhecia o Senhor Deus Todo-Poderoso como personagem distinta, um Ser capaz de comunicar-Se com o homem. Aquele homem era Morôni, o filho de Mórmon, cujo testemunho permanece agora e permanecerá pelos séculos vindouros.” — George Q. Cannon, Life of joseph Smith, p. 21. Ver Livro de Mórmon, Morôni 10:27–34.

  2. Resultados da grande apostasia divinamente controlados para eventualmente produzirem o bem. — O estudante atento não pode deixar de perceber, no progresso da grande apostasia e em seus resultados, a existência de um poder controlador atuando na direção do bem eventual, por mais misteriosos que fossem os seus métodos. As angustiosas perseguições a que os santos foram sujeitos nos primeiros séculos de nossa era, a angústia, a tortura, o derramamento de sangue sofridos em defesa do testamento de Cristo, o surgimento de uma igreja apóstata, fazendo definhar o intelecto e levando ao cativeiro as almas dos homens — todas essas terríveis condições haviam sido previstas pelo Senhor. Embora não possamos dizer ou acreditar que tais exibições de depravação humana e blasfêmia do coração estivessem de acordo com a vontade divina, Deus certamente queria permitir total desenvolvimento ao livre-arbítrio do homem, no exercício do qual alguns ganharam a coroa do martírio, e outros encheram a taça de sua iniqüidade até a borda. Não é menos marcante a permissão divina nas revoltas e rebeliões, nas revoluções e reformas que se desenvolveram em oposição à influência entenebrecedora da igreja apóstata. Wickliffe e Huss, Lutero e Melanchton, Zwínglio e Calvino, Henrique VIII e sua arrogante apropriação da autoridade sacerdotal, João Knox na Escócia, Roger Williams na América; esses e uma legião de outros construíram melhor do que imaginaram, porque seus esforços lançaram, em parte, os alicerces do edifício da liberdade religiosa e de consciência, como um preparativo para a restauração do evangelho, conforme havia sido divinamente predito. — A Grande Apostasia, 10:19, 20.

  3. Declaração de uma apostasia geral pela Igreja Anglicana. — O Book of Homilies do qual tiramos as citações apresentadas no texto, foi publicado pelos meados do século dezesseis. A proclamação oficial de uma apostasia universal foi tornada manifestamente popular, uma vez que as homílias haviam sido “designadas para serem lidas nas igrejas” em lugar dos sermões, em certas circunstâncias. Na declaração citada, a Igreja Anglicana solenemente afirma que um estado de apostasia, atingindo todas as idades, seitas e graus por toda a cristandade, havia dominado por oitocentos anos, antes do estabelecimento da igreja que o declarava. Verifica-se que essa afirmação permanece válida atualmente, como confissão e profissão da Igreja Anglicana, pelo fato de a homília “Contra os perigos da idolatria”, bem como algumas outras serem especificamente ratificadas e endossadas, e ao mesmo tempo prescritas para “serem lidas nas igrejas, pelos ministros, diligente e claramente, para que possam ser compreendidas pelo povo.” Ver “Artigos de Religião” xxxv, em edição atual do Book ofCommon Prayer pela Igreja Anglicana.

  4. O “Credo de Atanásio”. — No Concílio de Nicéia, convocado pelo imperador Constantino, em 325 A.D., foi adotada uma declaração formal de crença, concernente à Divindade. Mais tarde, foi publicada uma modificação, conhecida como “Credo de Atanásio”, e embora a autoria seja questionada, o credo tem seu lugar no ritual de algumas Igrejas protestantes. Nenhuma evidência mais conclusiva necessita ser acrescentada para mostrar que os homens haviam cessado de conhecer a Deus, além do credo atanasiano. Na forma como é confessado pela Igreja Anglicana no dia de hoje, e conforme está publicado no ritual oficial (Veja-se Prayer Book) “O Credo de Santo Atanásio” é o seguinte: “Adoramos um Deus em Trindade, e a Trindade em Unidade; nem confundindo as Pessoas, nem dividindo a Substância. Pois que há uma Pessoa do Pai, outra do Filho, e outra do Espírito Santo. Mas a Divindade do Pai, do Filho, e do Espírito Santo é toda uma: a Glória é igual, a Majestade co-eterna. Assim como o Pai é, assim é o Filho, e assim é o Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho é incriado, e o Espírito Santo é incriado. O Pai é incompreensível, o Filho é incompreensível, e o Espírito Santo é incompreensível. O Pai é eterno, o Filho é eterno; e o Espírito Santo é eterno. E contudo não são três eternos, mas um eterno. Como também não há três incompreensíveis, nem três incriados, mas um incriado e um incompreensível. Assim, de igual maneira, o Pai é Todo-Poderoso, o Filho é Todo-Poderoso, e o Espírito Santo é Todo-Poderoso. Entretanto, não há três Todo-Poderosos, mas um Todo-Poderoso. De maneira que o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus. E ainda assim não há três Deuses, mas um Deus. Da mesma forma o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor. Contudo, não há três Senhores, mas um Senhor.”

    Segue-se aí esta estranha confissão do que é, ao mesmo tempo, exigido pela “verdade cristã”, e proibido pela “religião católica”: “Porque assim como somos compelidos pela verdade cristã a aceitar que cada Pessoa por si mesma é Deus e Senhor, da mesma forma somos proibidos pela religião católica de dizer: Há três Deuses, ou três Senhores.”

  5. A missão de Colombo e seus resultados. — A Néfi, filho de Lei, foi mostrado o futuro do seu povo, inclusive a degenerescência de um de seus ramos, posteriormente conhecido como lamanitas, e em tempos modernos como índios americanos. A vinda de um homem dentre os gentios, através das águas profundas, foi revelada com tanta clareza que positivamente identifica tal homem com Colombo; e a vinda de outros gentios a esta terra, fugindo ao cativeiro, é igualmente explícita. A revelação foi registrada da seguinte maneira por Néfi, a quem foi dada: “E aconteceu que olhei e vi muitas águas; e elas separavam os gentios da semente de meus irmãos. E aconteceu que o anjo me disse: Eis que a ira de Deus está sobre a semente de teus irmãos. E olhei e vi entre os gentios um homem que estava separado da semente de meus irmãos pelas muitas águas; e vi que o Espírito de Deus desceu e inspirou o homem; e, indo esse homem pelas muitas águas, chegou até a semente de meus irmãos que estava na terra da promissão. E aconteceu que vi o Espírito de Deus inspirar outros gentios; e eles saíram do cativeiro, atravessando as muitas águas. (1 Néfi 13:10–13) O estabelecimento de uma grande nação gentia no continente americano, a subjugação dos lamanitas ou índios, a guerra entre a nação recém-organizada e a Grã-Bretanha, ou “sua mãe gentia”, e a vitoriosa conseqüência daquela luta pela independência, são expostas com igual clareza no mesmo capítulo.

  1. Nota 1, no final do capítulo.

  2. Nao poderemos apresentar nenhuma narrativa extensa da apostasia da Igreja Primitiva aqui; o leitor deve consultar as obras especiais que tratam desse importante assunto. Veja-se, do mesmo autor, “A Grande Apostasia”, considerada à luz da História escriturística e secular”, uma obra de 176 páginas.

  3. Ver “A Grande Apostasia”, cap. 4 e 5.

  4. II Tes. 2:3, 4.

  5. Isa. 24:5.

  6. A falsa doutrina da “transubstanciaçao” declara que o pão e o vinho administrados como emblemas da carne e do sangue de Cristo no sacramento da Ceia do Senhor, são transmudados pela consagração do sacerdote, na própria carne e sangue de Jesus Cristo. Ver “A Grande Apostasia”, 8:16–19. Quanto à “surpererrogação”, veja-se a página 570 deste.

  7. “A Grande Apostasia”, caps. 6, 7, 8.

  8. “A Grande Apostasia”, 6:14, 15; para um estudo amplo do assunto, vejamse os capítulos 6 a 9 inclusive.

  9. Nota 2, no final do capítulo.

  10. Este parágrafo é, em parte, uma paráfrase de “A Grande Apostasia”, 10:21, 22.

  11. Nota 3, no final do capítulo.

  12. Páginas 671 e 715.

  13. Veja-se II Tim. 4:1–4; também “A Grande Apostasia”, 2:30.

  14. Amos 8:11, 12.

  15. Ver o “Book of Common Prayer”, da Igreja Anglicana, e “Regras de Religião”, cap. 1, Nota 4, no final do capítulo.

  16. Ver Livro de Mórmon, I Né. 13:10–13. Nota 5, no final do capítulo.