Jesus Cristo
Capítulo 5: Predito o Advento Terreno de Cristo


Capítulo 5

Predito o Advento Terreno de Cristo

A vinda de Cristo à Terra, para habitar na carne, não foi um acontecimento inesperado ou não divulgado. Durante séculos antes da grande ocorrência, os judeus declararam esperar pelo advento de seu Rei; e, nas cerimônias oficiais de adoração, como nas devoções particulares, a vinda do Messias prometido era motivo de súplica de Israel a Jeová. E verdade que havia diversidade nas opiniões e exposições dos rabinos, quanto à época e maneira de Sua aparição; mas a certeza do fato estava fundamentalmente estabelecida nas crenças e esperanças da nação hebraica.

Os registros conhecidos como os livros do Velho Testamento, juntamente com outros escritos uma vez considerados autênticos, mas excluídos de compilações posteriores como não estritamente canônicos, eram correntes entre os hebreus muito antes do nascimento de Cristo, como também no Seu tempo. Essas Escrituras tiveram seu início na proclamação da leí através de Moisés,a que as escreveu e as entregou à custódia oficial dos sacerdotes, com a ordem expressa de que fossem lidas nas assembléias do povo, em épocas determinadas. Com o passar dos séculos, foram adicionados a esses primeiros escritos os pronunciamentos de profetas divinamente comissionados, os registros de historiadores escolhidos e os cantos de poetas inspirados; de modo que, ao tempo do ministério de nosso Senhor, os judeus possuíam um acúmulo de escritos aceitos e reverenciados por eles, como autorizados.b Esses registros são ricos em predições e promessas a respeito do advento terreno do Messias, como o são outras Escrituras às quais não teve acesso a Israel antiga.

Adão, o patriarca da raça, regozijou-se com a certeza do ministério do Salvador, pela aceitação de que ele, o transgressor, poderia ser redimido. Uma breve referência do plano de salvação, cujo autor é Jesus Cristo, aparece na promessa feita por Deus após a queda — que, embora o demônio, representado no Éden pela serpente, tivesse poder para ferir o calcanhar da posteridade de Adão, através da semente da mulher viria o poder para esmagar a cabeça do adversário.c É significativo que esta certeza da vitória eventual sobre o pecado e seu efeito inevitável, a morte, ambos introduzidos na Terra por Satanás, o arquiinimigo da humanidade, deveria ser realizada através da semente da mulher; a promessa não foi feita especificamente ao homem, nem ao casal. O único exemplo de semente de mulher dissociado de paternidade mortal é o nascimento de Jesus, o Cristo, que era filho terreno de uma mãe mortal, gerado por um Pai imortal. Ele é o Unigênito do Pai Eterno na carne e nasceu de mulher.

Através de Escrituras outras, que não aquelas contidas no Velho Testamento, aprendemos mais plenamente sobre as revelações de Deus a Adão, concernentes à vinda do Redentor. Como resultado natural e inevitável de sua desobediência, Adão perdera o grande privilégio de que uma vez gozara — o de manter relações diretas e pessoais com seu Deus; não obstante, após a queda, foi visitado por um anjo do Senhor, que lhe revelou o plano de redenção: “E, após muitos dias, um anjo do Senhor apareceu a Adão, dizendo: Por que ofereces sacrifícios ao Senhor? E Adão respondeu-lhe: Eu não sei, exceto que o Senhor me mandou. Então o anjo falou, dizendo: Isto é” à semelhança do sacrifício do Unigênito do Pai, que é cheio de graça e verdade. Portanto, farás tudo o que fizeres em nome do Filho e arrepender-te-ás e invocarás a Deus em nome do Filho para todo o sempre. E, naquele dia, desceu sobre Adão o Espírito Santo, que presta testemunho do Pai e do Filho, dizendo: Sou o Unigênito do Pai desde o princípio, agora e para sempre, para que assim como caíste, sejas redimido, e toda a humanidade, sim, tantos quantos o desejarem.”d

A revelação do Senhor, fazendo com que Adão conhecesse o plano pelo qual o Filho de Deus deveria nascer na carne no meridiano dos tempos e tornar-Se o Redentor do mundo, foi atestada por Enoque, filho de Jarede e pai de Matusalém. Pelas palavras de Enoque, sabemos que lhe foi revelado, assim como a seu grande progenitor, Adão, o próprio nome pelo qual o Salvador seria conhecido entre os homens —” que é Jesus Cristo, o único nome que será dado debaixo do céu, mediante o qual virá a salvação aos filhos dos homens.”e O convênio de Deus com Abraão, reiterado e confirmado a Isaque e, posteriormente, a Jacó — de que, por sua posteridade, todas as nações da Terra seriam abençoadas — pressagiou o nascimento do Redentor através dessa linhagem escolhida.f Seu cumprimento é a herança abençoada de todas as eras.

Ao pronunciar sua bênção patriarcal sobre a cabeça de Judá, Jacó profetizou: “O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos.”g Que Siló significa o Cristo é evidenciado pelo cumprimento das condições mencionadas na predição, quanto ao estado da nação judaica na época do nascimento de nosso Senhor.h

Moisés proclamou a vinda de um grande Profeta em Israel, cujo ministério será de tal importância, que todos os homens que não o aceitassem estariam sob condenação; e Escrituras posteriores demonstram conclusivamente que esta predição se referia a Jesus Cristo. Assim falou o Senhor a Moisés: “O Senhor vosso Deus levantará para vós, dentre vossos irmãos, um profeta semelhante a mim; ouvi-lo-eis em todas as coisas que ele vos disser. E acontecerá que toda alma que não quiser ouvir esse profeta será afastada do meio do povo.”i O sistema de sacrifício expressamente prescrito pelo código mosaico era, essencialmente, um protótipo do sacrifício mortal, que sofreria o Salvador no Calvário. O sangue de incontáveis vítimas sacrificadas nos altares pelos sacerdotes de Israel, no transcorrer dos rituais, correu através dos séculos, de Moisés a Cristo, como um rio profético, à semelhança do sangue do Filho de Deus que seria derramado em sacrifício expiatório para a redenção da raça. Contudo, como já demonstrado, a instituição do sacrifício de sangue, como símbolo da morte futura de Jesus Cristo, data do início da história humana; desde o tempo em que o sacrifício de animais, por derramamento de sangue, era exigido de Adão, a quem foi expressamente definido o significado da ordenança, à “semelhança do sacrifício do Unigênito do Pai.”j

O cordeiro pascal, morto por todas as famílias israelitas, por ocasião da festa anual da Páscoa, era um símbolo específico do Cordeiro de Deus que, no devido tempo, seria sacrificado pelos pecados do mundo. A crucifixão de Cristo deu-se na época da Páscoa; e a consumação do sacrifício supremo, do qual os cordeiros pascais haviam sido apenas pequenos protótipos, levou o apóstolo Paulo a afirmar posteriormente: “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. ”a

Jó, em dias de extrema aflição, regozijou-se em seu testemunho com a vinda do Messias e declarou com convicção profética: “Eu sei que meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra.”k Os cânticos de Davi, o salmista, referem-se freqüentemente à vida terrena de Cristo, da qual muitas circunstâncias são descritas em detalhe, circunstâncias essas corroboradas, posteriormente, por Escrituras do Novo Testamento.l

Isaías, cuja função profética foi honrada pelo testemunho pessoal de Cristo e dos apóstolos, manifestou em numerosas passagens sua convicção com referência ao grande evento da vinda do Salvador e Seu ministério na Terra. Com a energia da revelação direta, falou sobre a divina maternidade da Virgem, da qual nasceria Emanuel e sua predição foi reiterada pelo anjo do Senhor, mais de sete séculos depois.m Olhando através dos tempos, o profeta viu o cumprimento dos propósitos divinos, como se já se tivessem realizado, e cantou em triunfo: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz. Do incremento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar em juízo e em justiça, desde agora para sempre.”n

Imediatamente antes do seu cumprimento, a promessa abençoada foi repetida por Gabriel, enviado da presença de Deus à Virgem escolhida de Nazaré.o Como dado a conhecer ao profeta e como ele o proclamou, o Senhor esperado era o Ramo vivo que brotaria da raiz imperecível, simbolizada pela família de Jessé;p a Pedra fundamental que asseguraria a estabilidade de Sião;q o Pastor da Casa de Israel;r a Luz do mundo,s tanto para os gentios como para os judeus; o Líder e Comandante de seu povo.t A mesma voz inspirada profetizou sobre o precursor que clamaria no deserto: “Preparai o caminho do Senhor: endireitai no ermo vereda a nosso Deus.”u

Foi permitido a Isaías ler os pergaminhos do futuro, referentes a muitas condições características da vida humilde e morte expiatória do Messias. Nele, o Profeta viu Aquele que seria desprezado e rejeitado pelos homens, um Homem cheio de tristezas, familiarizado com o pesar; Aquele que seria ferido e oprimido pelas transgressões da raça, sobre quem cairia a iniqüidade de todos nós — um Sacrifício paciente e voluntário, silencioso na aflição, como um cordeiro levado ao matadouro. A morte do Senhor entre ímpios e Seu sepultamento no túmulo do homem rico foram igualmente anunciados com segurança profética.b

Jeremias ouviu a palavra do Senhor em termos claros, declarando o advento do Rei, por quem seria assegurada a salvação de Judá e Israel;v o Príncipe da Casa de Davi, através de quem a promessa divina ao filho de Jessé seria realizada.w Sob o mesmo espírito, profetizaram Ezequiel,x Oséiasy e Miquéias.z Zacarias interrompeu profecias fatais, para expressar alegre canto de gratidão e louvor, ao presenciar em visão a entrada singela, mas triunfal, do Rei na cidade de Davi.a E, então, o profeta lamentou o pesar dessa nação torturada pelo remorso, pela qual, como fora profetizado, o Salvador da humanidade seria transpassado até a morte;b e mostrou que, quando subjugado pela contrição, seu próprio povo perguntaria: “Que feridas são essas nas tuas mãos?” e o Senhor responderia: “São as feridas com que fui ferido em casa dos meus amigos”.c O preço exato a ser pago pela traição que levaria Cristo à morte, foi predito como em parábola.d

Qualquer dúvida quanto ao fato de que essas predições do Velho Testamento se referiam a Jesus Cristo, e somente a Ele, é eliminada pela confirmação do Senhor ressuscitado. Aos apóstolos reunidos, Ele disse: “São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na leí de Moisés, e nos profetas, e nos Salmos concernente a mim. Então ele abriu-lhes o entendimento, para que pudessem compreender as escritura e disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos.”e

João Batista, cujo ministério precedeu o de Cristo, proclamou a vinda de Um mais poderoso do que ele, Um que batizaria com o Espírito Santo e especificamente identificou Jesus de Nazaré como sendo Aquele, o Filho de Deus, o Cordeiro, que tomaria sobre Si o fardo dos pecados do mundo.f

As predições citadas até agora, relacionadas à vida, ministério e morte do Senhor Jesus, são afirmações de profetas que, com exceção de Adão e Enoque, viveram e morreram no hemisfério oriental. Todos, exceto João Batista, pertencem ao registro do Velho Testamento, e João, contemporâneo de Cristo na mortalidade, figura nos primeiros capítulos dos Evangelhos. É importante saber que as Escrituras do hemisfério ocidental são igualmente explícitas, na declaração da grande verdade de que o Filho de Deus nasceria na carne. O Livro de Mórmon contém a história de uma colônia de israelitas, da tribo de José, que deixou Jerusalém 600 A.C., durante o reinado de Zedequias, rei de Judá, na véspera da tomada da Judéia por Nabucodonosor quando teve início o cativeiro babilônico. Esta colônia foi guiada, por orientação divina, ao continente americano, transformando-se em um povo poderoso; dividido em conseqüência de conflitos internos, formou duas nações contrárias, conhecidas respectivamente como Nefitas e Lamanitas. Os primeiros cultivaram as artes da diligência e do refinamento e preservaram um registro contendo história e Escrituras, enquanto os últimos se degeneraram e envileceram. Os nefitas foram extintos cerca de 400 A.D., mas os lamanitas ainda vivem, sendo conhecidos como os índios americanos.g

Os anais nefitas, desde o começo até o tempo do nascimento do Senhor, contêm inúmeras predições e promessas do Cristo, e esta crônica é seguida por um registro da visita do Salvador ressuscitado aos nefitas, e o estabelecimento de Sua Igreja entre eles. A Leí, o líder da colônia, o Senhor revelou o tempo, lugar e circunstâncias do então futuro advento do Cristo, juntamente com muitos fatos importantes de Seu ministério e o trabalho preparatório de João, o Precursor. Esta revelação foi dada enquanto o grupo atravessava o deserto da Arábia, antes de cruzar as grandes águas. A profecia é escrita por Néfi, um dos filhos de leí, e seu sucessor no chamado profético: “Sim, aproximadamente seiscentos anos depois de meu pai ter deixado Jerusalém, o Senhor enviaria um profeta entre os judeus” — um Messias, ou, em outras palavras, um Salvador do mundo. E ele também falou, referindo-se aos profetas, do grande número deles que havia testemunhado estas coisas concernentes ao Messias de que ele havia falado, ou esse Salvador do mundo. Porque a humanidade estava em decadência e perdida, e assim continuaria, se não confiasse nesse Redentor. E falou também sobre um profeta que viria antes do Messias, a fim de preparar o caminho do Senhor. Ele iria no deserto, clamar: Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas, pois que há entre vós Um que não conheceis e ele é mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das alparcas. E muito falou meu pai a respeito disto: “E disse meu pai que ele batizaria em Betabara, além do Jordão; e também disse que ele batizaria com água; que ele batizaria o Messias com água. E depois de haver batizado o Messias com água, ele reconheceria e testificaria haver batizado o Cordeiro de Deus que iria tirar os pecados do mundo. E aconteceu que após ter dito essas palavras, meu pai falou a meus irmãos sobre o evangelho que seria pregado aos judeus e também sobre a queda dos judeus na incredulidade. E depois de haverem matado o Messias que haveria de vir e depois de haver sido morto, ele ressuscitaria dentre os mortos e manifestar-se-ia aos gentios pelo Espírito Santo.”h

Em uma época posterior, Néfi escreve, não como escriba de seu pai, mas como profeta e revelador, transmitindo a palavra de Deus a ele dada diretamente. Foi-lhe permitido ver em visão e declarar a seu povo as circunstâncias do nascimento do Messias, seu batismo por João e a ministração do Espírito Santo com o correspondente sinal da pomba; contemplou o Salvador andando como um Mestre de retidão entre o povo, curando os aflitos e repreendendo os espíritos do mal; viu e registrou as terríveis cenas do Calvário; contemplou e profetizou sobre a chamada dos Doze escolhidos, os apóstolos do Cordeiro, assim designados por Aquele que concedeu a visão. Fala, também, sobre a iniqüidade dos judeus, que foram vistos contendendo com os apóstolos; e assim conclui a maravilhosa profecia: “E disse-me o anjo do Senhor: Assim será a destruição de todas as nações, tribos, línguas e povos, que combaterem os doze apóstolos do Cordeiro.”i Logo após a rebelião, pela qual foi estabelecida a diferença entre Nefitas e Lamanitas, Jacó, irmão de Néfi, continuou profetizando a vinda do Messias, declarando, especificamente, que Ele ministraria em Jerusalém, e ratificando a necessidade de Sua morte expiatória, como o meio estabelecido para a redenção humana.j O profeta Abinádi, quando, destemidamente”, denunciou o pecado do iníquo rei Noé, pregou sobre o Cristo que haveria de virk; e o digno Benjamim, que era profeta e rei, proclamou também a grande verdade a seu povo, cerca de 125 A.C. O mesmo ensinou Almal em inspirada admoestação a seu filho Coriânton; e também Amulequem em sua contenda com Zeezrom. O mesmo proclamou o profeta lamanita, Samuel, apenas cinco anos antes do acontecimento; e ainda mais, especificou os sinais pelos quais o nascimento de Jesus na Judéia seria dado a conhecer ao povo do mundo ocidental. “Eis que ele lhes disse: Eis que vos dou um sinal; pois mais cinco anos se hão de passar e eis que então o Filho de Deus virá para redimir todos os que crerem em seu nome. E eis que isto vos darei por sinal, na ocasião de sua vinda: Eis que haverá grandes luzes no céu, de modo que na noite anterior a sua vinda não haverá escuridão, tanto que aos homens parecerá ser dia. Portanto haverá um dia e uma noite e um dia, como se fosse um só dia e não houvesse noite; e isso vos será por sinal; pois vereis o nascer e também o pôr-do-sol; portanto, saber-se-á com certeza que se terão passado dois dias e uma noite, muito embora não haja escuridão durante a noite. E essa noite precederá o seu nascimento. E eis que uma nova estrela aparecerá, uma que nunca vistes antes; e isto também vos será por sinal. E eis que isso não é tudo; haverá muitos sinais e maravilhas no céu.”n

Portanto, as Escrituras de ambos os hemisférios e de todas as épocas anteriores ao meridiano dos tempos prestaram solene testemunho quanto à certeza do advento do Messias; assim, os santos profetas da antigüidade transmitiram a palavra de revelação, predizendo a vinda do Rei e Senhor do mundo, através de quem, somente, é provida salvação e garantida a redenção da morte. É característico dos profetas enviados por Deus possuir e proclamar uma convicção pessoal do Cristo, “porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.”o Nenhuma só palavra inspirada de profecia, relativa ao grande evento, foi invalidada. O cumprimento literal das predições confirma, plenamente, terem elas tido origem na revelação divina, constituindo prova conclusiva da divindade Daquele cuja vinda foi tão abundantemente profetizada.

Notas do Capítulo 5

  1. A antigüidade do sacrifício como protótipo da morte expiatória de Cristo. — Embora o registro bíblico revele, explicitamente, oferecimento de sacrifícios, muito antes do êxodo de Israel do Egito — i.e., por Abel e por Caim (Gên. 4:3, 4): por Noé após o dilúvio (Gên. 8:20): por Abraão (Gên. 22:2, 13) por Jacó (Gên. 31:54: 46:1) — não comenta a origem divina do sacrifício como requisito propiciatório, prefigurando a morte expiatória de Jesus Cristo. A dificuldade em determinar o tempo e circunstâncias, sob os quais a oferta de sacrifícios simbólicos se originou entre os homens, é reconhecida por todos os estudiosos, exceto por aqueles que admitem a validade da revelação moderna. Muitos eruditos da Bíblia têm declarado a necessidade de se presumir que, nos primeiros tempos, Deus tenha instruído o homem sobre o assunto. Sobre isso, diz o escritor do artigo “Sacrifício” no Bible Dictionary de Cassell: “A idéia de sacrifício é preeminente em todas as Escrituras e uma das mais antigas e mais amplamente reconhecidas nos ritos religiosos de todo o mundo. Há também, uma semelhança marcante nas manifestações e aplicações da idéia. Destes e de outros relatos, tem-se concluído acertadamente que o sacrifício constituía um elemento dos primeiros cultos do homem; e que sua universalidade não é meramente argumento indireto para a unidade da raça humana, mas uma ilustração e confirmação das primeiras páginas inspiradas da história do mundo. A noção de sacrifício dificilmente poderá ser encarada como produto de uma natureza humana sem assistência, devendo, portanto, ser traçada até uma fonte superior e considerada como revelação divina ao homem primitivo”.

    O Dictionary ofthe Bible de Smith apresenta o seguinte: “Ao traçar a história do sacrifício, desde o seu início até o seu perfeito desenvolvimento no ritual mosaico, deparamos imediatamente com a antiga dúvida quanto à sua origem, se surgiu ele de um instinto natural do homem, sancionado e orientado por Deus, ou se foi objeto de alguma revelação específica dos primeiros tempos. Não pode haver dúvida de que o sacrifício foi sancionado pela leí de Deus, como referência típica e especial à expiação de Cristo: sua prevalência universal, independente dos raciocínios naturais do homem quanto a sua relação com Deus e freqüentemente em oposição a eles, demonstra datar o sacrifício dos primeiros tempos, estando profundamente enraizado nos instintos da humanidade. Se foi inicialmente imposto por um mandamento externo ou se se baseou no sentimento do pecado e da perda da comunhão com Deus, que se acha gravado pela Sua mão no coração do homem — é uma dúvida histórica, talvez insolúvel.”

    A dificuldade se desvanece e a “dúvida histórica” quanto à origem do sacrifício é definitivamente resolvida pelas revelações de Deus na presente dispensação, pelas quais partes do registro de Moisés — não contidas na Bíblia — foram restituídas ao homem. A Escritura citada no texto (pp. 43 e 44 do original inglês) torna claro o fato de que a oferta de sacrifício foi requerida de Adão, depois de sua transgressão, e que o significado do requisito divinamente estabelecido foi explicado em sua plenitude ao patriarca da raça. O derramamento do sangue de animais em sacrifício a Deus, como protótipo “do sacrifício do Unigênito do Pai”, data do tempo imediatamente seguinte à queda. Sua origem é baseada em uma revelação específica a Adão. Ver P.G.V., Moisés 5:5–8.

  2. A profecia de Jacó concernente a “Siló”. —— A predição do patriarca Jacó — de que o cetro não seria afastado de Judá antes da vinda de Siló — tem causado muita disputa entre os estudiosos da Bíblia. Alguns insistem que Siló é o nome de um lugar e não de uma pessoa. Que havia um lugar conhecido por esse nome não há dúvida (ver Jos. 18:1; 19:51; 21:2; 22:9; I Sam. 1:3; Jer. 7:12); mas o nome, que aparece em Gên. 49:10 é claramente o de uma pessoa. Deve-se saber que o uso da palavra na versão autorizada da Bíblia é considerado correto por muitas autoridades bíblicas eminentes. Assim, no Commentary ofthe Bible de Dummelow, lemos: “Este versículo foi sempre considerado, tanto pelos judeus como pelos cristãos, como uma notável profecia da vinda do Messias… Na Escritura acima citada, o versículo inteiro prediz que Judá manteria a autoridade até o advento do digno legislador, o Messias, a quem todos os povos se uniriam. E, falando de maneira geral, pode-se dizer que os últimos traços do poder legislativo judeu (como investido sobre o Sinédrio) não desapareceram até a vinda de Cristo e a destruição de Jerusalém, quando seu reino foi estabelecido entre os homens.”

    Adam Clark, em seu exaustivo Bible Commentary, analisa, brevemente, as objeções levantadas contra a veracidade dessa passagem, como sendo referente ao advento do Messias e rejeita todas, considerando-as sem fundamento. Sua conclusão a respeito do significado dessa passagem é assim expressa: Judá continuará como tribo distinta até que venha o Messias; e assim aconteceu; e depois de Sua vinda foi confundida com as outras, de maneira que toda a distinção foi perdida.”

    O Prof. Douglas, citado no Dicionário de Smith declara “que algo do cetro de Judá ainda permaneceu, uma vez que um eclipse total não constitui prova de que o dia está no fim — e que o cumprimento da profecia não começou até o tempo de Davi, consumando-se em Cristo, de acordo com Lucas 1:32, 33.”

    O significado aceito da palavra, por derivação é “pacífico”, o que é aplicável aos atributos de Cristo, que em Isaías 9:6 é designado como o Príncipe da Paz.

    Eusébio, que viveu entre 260 e 339 A.D. e é conhecido na história eclesiástica como Bispo de Cesaréia, escreveu: “No tempo em que Herodes era rei, o primeiro estrangeiro a reinar sobre o povo judeu, cumpriu-se a profecia registrada por Moisés: “O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló, e a ele se congregarão os povos.” (A passagem citada baseia-se no texto de Gênesis 49:10 da Septuaginta.)

    Alguns críticos asseguram que Jacó, ao usar a palavra “Siló” não a empregou, absolutamente, como nome ou substantivo próprio. O autor do artigo “Siló” no Bible Dictionary de Cassei, diz: “Há mais evidências em favor da interpretação messiânica, mas as opiniões são muito divididas com referência ao emprego da palavra “Siló” como nome próprio… Não obstante todas as objeções em contrário, somos de opinião que a palavra é considerda acertadameme, como nome próprio e que a versão inglesa representa o verdadeiro sentido da passagem. Recomendamos àqueles que desejam aprofundar-se nessa questão, que não pode ser bem discutida sem a crítica hebraica, as excelentes notas sobre Gên. 49:10, encontradas em “Commentary on the Pentateuch” de Keil e Delitzsch. Ali o texto é traduzido da seguinte maneira: “O cetro não se arredará de Judá, nem o cajado do legislador de entre seus pés, até que venha Siló, e a obediência voluntária das nações lhe seja prestada.”

    “Não obstante a pouca importância dada à interpretação Messiânica por alguns escritores, até daqueles de quem menos esperávamos tal atitude, vemos esta explicação cada vez mais confirmada em lugar de desmentida, pelos fatos da história. O texto não significa que Judá, em tempo algum, deveria ficar sem um legislador próprio, mas que o poder real não cessaria em Judá até que viesse Siló. As objeções baseadas no cativeiro babilônico, e em interrupções semelhantes não têm fundamento, pois o que é salientado é o fim completo e definitivo, t isso somente aconteceu depois da vinda de Cristo.” Ver ainda The Book of Prophecy de G. Smith, LLD., p. 320 e também o Compendium of the Doctrines of the Gospel, de Franklin D. Richards e James A. Little, item “A Primeira Vinda de Cristo”.

  3. Nefitas e Lamanitas — Os progenitores da nação nefita partiram de Jerusalém em 600 A.C., guiados por leí, profeta judeu da tribo de Manassés. Sua família, na época da partida de Jerusalém consistia na esposa, Saria, e os filhos Lamã, Lemuel, Sam e Néfi; numa etapa posterior da história, algumas filhas são mencionadas, mas não se sabe se haviam nascido antes do êxodo da família. Além dos seus, a colônia de leí incluía Zorã e Ismael, este último um israelita da tribo de Efraim. Ismael, com sua família, juntou-se a leí no deserto; e seus descendentes foram contados entre a nação da qual estamos falando. O grupo viajou em direção sudeste, mantendo-se perto das margens do Mar Vermelho; depois, mudando o curso para o leste, atravessou a península da Arábia, e lá, nas praias do Mar da Arábia, construiu e abasteceu um barco no qual se lançou às águas, confiando na proteção divina. A viagem levou-os na direção leste através do Oceano Índico, seguindo pelo Pacífico Sul em direção às costas ocidentais da América do Sul, onde desembarcaram (590 A. C.)… O povo se estabeleceu na que, para eles, era a terra prometida; nasceram-lhes muitos filhos e, no curso de poucas gerações, numerosa posteridade habitava a terra. Após a morte de leí, verificou-se uma divisão. Uns aceitaram Néfi como líder, que havia sido devidamente designado para o ofício profético, enquanto os demais proclamaram chefe a Lamã, o mais velho dos filhos de leí. A partir dai, estes povos divididos foram conhecidos como nefitas e lamanitas, respectivamente. Havia ocasiões em que se observaram relações amistosas entre eles, mas geralmente estavam em disputa, e os lamanitas manifestavam ódio e hostilidade implacáveis a seus irmãos nefitas. Os nefitas progrediram nas artes da civilização, construindo grandes cidades e estabelecendo comunidades muito prósperas. Entretanto, caíam freqüentemente em transgressão, e o Senhor, para castigá-los, permitia que seus inimigos triunfassem sobre eles. Estenderam-se em direção ao norte, ocupando a região setentrional da América do Sul: cruzaram, então, o istmo, espalhando seus domínios pelo sul, centro e leste do que são hoje os Estados Unidos da América. Os lamanitas, aumentando em número, sofreram um anátema: sua pele tornou-se escura e seu espírito coberto de trevas, esqueceram-se do Deus de seus pais, tornaram-se nômades e degeneraram até o estado decaído em que os índios americanos — seus descendentes diretos — foram encontrados por aqueles que redescobriram o continente ocidental, em época posterior. Ver Regras de Fé, do autor, Cap. 14.

  4. A primeira dispensação do Evangelho. — O Evangelho de Jesus Cristo foi revelado a Adao. Fé em Deus, o Pai Eterno, e em Seu Filho, o Salvador de Adão e de toda sua descendência, arrependimento dos pecados, batismo por imersão e dom do Espírito Santo, como concessão divina, foram proclamados no começo da história humana como os fundamentos da salvação. A seguinte Escritura atesta este fato: “E assim o Evangelho começou a ser pregado desde o princípio, sendo anunciado por santos anjos, enviados da presença de Deus, e por sua própria voz e pelo dom do Espírito Santo (Moisés 5:58). O profeta Enoque assim testificou: “Mas Deus fez saber a nossos pais que todos os homens devem arrepender-se. E ele chamou nosso pai Adão com sua própria voz, dizendo: Eu sou Deus; eu fiz o mundo e os homens antes que existissem na carne. E ele também lhe disse: Se te voltares para mim e deres ouvidos a minha voz e creres e te arrependeres de todas as tuas transgressões e fores batizado, sim, na água, em nome de meu Filho Unigênito, que é cheio de graça e verdade, que é Jesus Cristo, o único nome que será dado debaixo do céu mediante o qual virá a salvação aos filhos dos homens, receberás o dom do Espírito Santo, pedindo todas as coisas em seu nome; e tudo o que pedires te será dado. (Moisés 6:50–52; ler também 53–61.) “E eis que agora te digo; Este é o plano de salvação para todos os homens, por meio do sangue do meu Unigênito, que virá no meridiano dos tempos”. (62). “E quando o Senhor falou com Adão, nosso pai, que Adão clamou ao Senhor e foi arrebatado pelo Espírito do Senhor e foi levado para a água e foi mergulhado na água e foi tirado da água. E assim ele foi batizado, e o Espírito de Deus desceu sobre ele, e assim ele nasceu do Espírito e foi vivificado no homem interior. E ele ouviu uma voz do céu dizendo: Foste batizado com fogo e com o Espírito Santo. Este é o testemunho do Pai e do Filho, de agora em diante e para sempre”. (64–66.) Comparar também com Doutrina Convênios 29:42.