1990–1999
“Escolhei Hoje”
April 1990


“Escolhei Hoje”

“O Senhor nos prometeu que, se escolhermos o seu caminho, seremos abençoados imensuravelmente, além de nossa compreensão.”

Depois da ressurreição de Cristo, os doze apóstolos pregaram o evangelho na cidade de Jerusalém. Sua mensagem tocou o coração de muitas pessoas e, depois de testificarem a veracidade da Ressurreição, foi-lhes perguntado: “Que faremos,… irmãos?” (Atos 2:37.)

A partir daí, a mesma pergunta tem sido feita pelas pessoas em todo o mundo, por gente como eu e vós. Diariamente somos confrontados com decisões concernentes ao bem-estar físico, emocional e espiritual daqueles que nos cercam. Nossas decisões se fundamentam no entendimento daquilo que é bom e certo para nós, e tentamos evitar armadilhas e erros. Esperamos pela felicidade e desejamos conforto.

Essa esperança e o desejo de uma vida mais feliz e significativa me levam a avaliar mais cuidadosamente, em minha própria vida, as decisões diárias. E nunca sinto tanta necessidade de algum princípio que me sirva de guia como quando chego a uma encruzilhada, pois sem alguma orientação, considero-me incapaz de prosseguir consistentemente em meu curso.

Uma coisa, porém, é conhecer o caminho a seguir, e outra tomar esse caminho. Alguns se esforçam por descobrir diretrizes e algum tipo de alicerce sobre o qual possam edificar; outros já arquitetaram o plano perfeito, mas nunca encontram a motivação, o tempo ou a coragem de executá-lo. De uma forma ou outra, vemo-nos aturdidos com a falta de entendimento de que obtemos a verdadeira felicidade quando pomos em prática nossos planos, crenças e esperanças.

Creio que o alicerce de nossas decisões e a luz que as ilumina é o Evangelho de Jesus Cristo e sua mensagem para o mundo. Os ensinamentos de Cristo devem estar arraigados em nosso desejo de escolher o certo e de encontrar a felicidade. Sua vida justa deve ser refletida em nossas próprias ações. O Salvador não só ensina amor, ele é amor. Não só ensinou a importância da fé, do arrependimento, do batismo e do dom do Espírito Santo; ele viveu de acordo com tais princípios. Sua vida refletia o evangelho que pregava. Havia e continua a haver harmonia total entre seus pensamentos e suas ações.

Creio que se desejamos ser verdadeiros cristãos, nossa vida deve fundamentar-se em princípios reais, e nossas ações devem refletir isto. Mas não creio que possamos escolher os princípios que nos são mais convenientes. Hoje, entretanto, quero mencionar aqueles que falam de perto ao meu coração e que me ajudaram na busca do caminho cristão.

Quando um homem perguntou a Cristo o que deveria fazer para herdar a vida eterna, o Mestre respondeu: “Amarás ao Senhor teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Lucas 10:27.) O amor é a essência do evangelho e a luz que ilumina a vida cristã. Ele nos ensina a olhar para cima, e também à nossa volta. Nosso coração, poder e mente devem ser dedicados ao Senhor e ao próximo — homens, mulheres e crianças. O que isto realmente significa? Significa que seguiremos a admoestação da escritura: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.” (João 14:15.) Significa que seguiremos o exemplo do bom samaritano, que se mostrou completamente livre de preconceitos e desculpas e, portanto, amava verdadeiramente ao próximo. Ele andou a segunda milha e deu o que tinha, apesar de todos os contratempos. Sua vida estava direcionada no sentido de servir.

Como contraste, temos a observação do Apóstolo Tiago, de que “o homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos”. (Tiago 1:8.) Um antigo ditado suíço descreve tal indecisão nas seguintes palavras:

Com um pé dentro

E outro fora,

O homem não fica

Fora nem dentro,

Redondo ou quadrado:

É mais pobre que o indigente,

Pois nunca sabe

Por onde começa

Nem para onde vai,

E está sempre amarrado.

Com um pé dentro,

Com um pé fora,

Você não pode ficar dentro,

Você não pode ficar fora —

Nem quente nem frio,

Nem quadrado nem redondo,

Mais pobre que o pobre

e sempre limitado.

Pois tal homem

jamais saberá

onde começar

ou aonde ir.

O rumo cristão não apresenta meios termos.

O Senhor nos prometeu que, se escolhermos o seu caminho, seremos abençoados imensuravelmente, além de nossa compreensão.

A vida cristã exige decisão e dedicação. É uma dedicação livre de fanatismo, mas cheia de compreensão e amor. É uma dedicação que envolve a humanidade toda, sem deixar de conservar os olhos fitos no Senhor. E é uma dedicação que produz alegria, mas raramente é isenta de dificuldades, desapontamentos e desconforto.

Nem sempre é fácil tomar a decisão correta, e alguns há que se batem a vida toda para encontrar o rumo certo. Lembremo-nos de que não nos compete julgar as pessoas confusas ou sem forças para mudar. Eles necessitam é de compreensão e apoio.

Quando Jesus se aproximou da Judéia, um jovem lhe perguntou: “Tudo isso tenho guardado… que me falta ainda?” (Mateus 19:20.) A resposta dada por Cristo foi simples, mas poderosa: “Vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.” (Mateus 19:21.)

Cristo se dirige a nós todos, não só ao jovem rico que se retirou triste. Ele ordena que demos nossos bens, sejam quais forem. Para alguns são posses materiais, para outros tempo ou talento. Para quem possui riquezas, não quer dizer que não pode gozar das comodidades da vida pelas quais trabalhou. Significa que deve usá-las para fazer o bem e compartilhar o que possui com os necessitados. Nosso coração deve estar voltado para a ajuda aos necessitados.

Não é só o dinheiro que alivia o fardo de nosso próximo; também, muitos vivem numa época e lugar onde sobra pouco para dar. O mundo tem necessidade de tempo, e se tivermos uma só hora de sobra, somos ricos. Toma tempo ouvir e confortar, ensinar e incentivar, alimentar e vestir. Possuímos o dom de aliviar as dores alheias e fazer algo em beneficio de alguém.

Os necessitados estão à nossa volta. Freqüentemente, porém, ficamos cegos ante tais necessidades ou tememos as pessoas em cuja companhia não nos sentimos à vontade. Sim, admiramos pessoas e organizações pelos numerosos serviços que prestam; e, é claro que nos regozijamos com as enormes mudanças sociais pelas quais passaram muitos países, ultimamente. Mas nossa admiração e interesse não são o suficiente. As pessoas, nossos compatriotas ou não, precisam de ajuda. Temos que nos decidir a servir agora, mesmo que isso signifique deixar temporariamente o conforto de nosso lar.

Na maioria das vezes não temos que ir muito longe; dentro de nossas comunidades há pessoas de todas as idades, sem um lar, gravemente enfermas e solitárias. Não podemos esperar um mundo melhor, sociedades e governos mais perfeitos, se não estivermos dispostos a fazer nossa parte.

Precisamos olhar à nossa volta, e se não conseguirmos ver pobreza, doença e desespero em nossa vizinhança e ala, temos que olhar melhor. Lembrai-vos de que não podemos ter medo de ir além de nosso círculo social e cultural. Temos que nos libertar dos preconceitos, sejam religiosos, raciais ou sociais, expandindo os limites de nosso trabalho. O serviço em benefício do próximo nunca deve ser discriminador e quase nunca é fácil. Não se misturou o próprio Cristo com aqueles considerados indignos pelos fariseus hipócritas? E não foram essas as pessoas que mais necessitavam dele?

Compreendo que as necessidades deste mundo podem deixar-nos aturdidos, e as injustiças da vida e as enfermidades da sociedade chocar-nos a ponto de nos deixar paralisados; mas acredito que nenhuma boa causa seja vã, e que se tocarmos uma só vida, o mundo será um lugar melhor. Escolhei como servir hoje, e fazei-o sabiamente. Preparai-vos para ser de ajuda aos outros. São muitas as boas causas, dentro e fora da Igreja. Há necessidade de voluntários que compartilhem seu tempo e talentos com aqueles menos afortunados.

Amar e cuidar dos outros é uma decisão. É a resposta para a exortação do Senhor: “Vinde, segui-me.” É a resposta que os apóstolos deram para aqueles que perguntaram: “O que faremos?” Dizer “não posso” é uma decisão negativa. É uma decisão que nos roubará a própria felicidade que procuramos. E, mais do que tudo, é uma decisão contrária à vida cristã.

Eu vos testifico que só podemos estar a serviço de nosso Deus quando estamos a serviço de nosso próximo. (Vide Mosiah 2:17.) Espero que tenhamos a sabedoria e determinação para decidir hoje a quem desejamos servir. E oro para que tomemos a mesma decisão do Profeta Josué: “Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Josué 24:15.) Em nome de Jesus Cristo, amém.