1990–1999
“O Lar em Primeiro Lugar”
April 1990


“O Lar em Primeiro Lugar”

“O Pai Celestial nos organizou em famílias, com o propósito de ajudar-nos a enfrentar as dificuldades e desafios da vida com sucesso… A família é nossa segurança, nossa rede de apoio, nosso santuário e nossa salvação”

Há algumas semanas, numa vizinhança não muito distante de onde eu moro, dúzias de alegres balões amarelos podiam ser vistos flutuando nos ramos das árvores e postes de luz alinhados ao longo da rua tortuosa, numa distância de três quarteirões. Era um belo quadro, naquele dia acinzentado de inverno. Enquanto percorríamos emocionados a rua amiga e colorida, sentimo-nos tomados de um certo sentimento de antecipação. A cada curva do caminho apareciam novamente os balões amarelos, balouçando em direção ao topo do monte, onde se podia ler a proclamação calorosa: SEJA BEM-VINDO, BRIGHAM! Poucos meses antes eu ouvira falar no trágico acidente que deixara paralisado este jovem de dezoito anos, Brigham Fordham. Foi só nessa ocasião que descobri que sua casa ficava ali e que ele estava chegando do hospital.

Notei a rampa que haviam construído em frente da casa do moço e pensei nas outras mudanças que deviam ter sido feitas para acomodar o novo tipo de vida que ele teria que levar dali em diante. Também haverá mudanças na família de Brigham, pensei. A vida será diferente para todos os Fordham — diferente e difícil.

Assim como os balões amarelos acenavam alegremente para Brigham e para todos os que tiveram oportunidade de passar pela rua, o lar que o esperava também lhe acenava com promessas de amor, carinho e apoio.

O Pai Celestial nos organizou em famílias, com o propósito de ajudarmos a enfrentar as dificuldades e desafios da vida com sucesso. O lar existe também para abençoar-nos com as alegrias e privilégios da associação familiar. A família é nossa segurança, nossa rede de apoio, nosso santuário, e nossa salvação.

Nossos lares deveriam ser “a fortaleza na qual os filhos podem encontrar a âncora de que necessitam nestes dias difíceis e turbulentos”, disse o Presidente Harold B. Lee. (His Servants Speak, compilado por R. Clayton Brough, Bountiful, Utah: Horizon, 1975, p. 154.)

Em seu livro, The Power of the Family (O Poder da Família), o Dr. Paul Pearsall diz existir um “poder de amorosa energia que flui em cada círculo familiar, nas horas de alegria dos bons tempos e, particularmente, nas horas de tristezas dos tempos difíceis”. (New York: Doubleday, 1990, p. 354.)

Ele declara: “Não importa que tipo de família tendes; seja ela composta de pai ou mãe apenas, ou seja ela a maior e mais tradicional da cidade, conservá-la unida é trabalhar pela salvação do mundo.” (Ibid., p. 351.)

O Senhor, por seus profetas, ensinou-nos sobre o poder divino e a influência do lar.

“Não existe substituto para o lar”, declarou o Presidente Joseph F. Smith. “A sua fundação é tão antiga quanto o mundo, e a sua missão foi ordenada por Deus desde os tempos antigos…

Não pode haver felicidade fora e longe do lar, e todo esforço feito para santificar e preservar-lhe a influência é enaltecedor para aqueles que labutam e se sacrificam para o seu estabelecimento… Não há felicidade sem trabalho, e não existe trabalho maior do que aquele que converte o lar numa instituição divina, que promove e preserva a vida familiar.” (Doutrina do Evangelho, pp. 272-273.)

Na noite de 21 de setembro de 1989, o furacão Hugo passou com toda fúria sobre a bela cidade de Charleston, na Carolina do Sul. Meu bom amigo, Alvie Evans, morava numa baixada perto da água, para onde se dirigia a força máxima do furacão. Ele reuniu a família e foi para um lugar mais alto, a casa de sua mãe.

Tarde da noite, ventos de duzentos e cinqüenta quilômetros por hora sopravam em volta deles, arrancando árvores e destroçando partes da casa. A tempestade se tornou tão forte que começaram a temer pela própria vida. Alvie, a mulher e os filhos, a mãe, os irmãos e as respectivas famílias se ajoelharam no saguão da casa e oraram humildemente ao Senhor, pedindo proteção e segurança.

Na manhã seguinte puderam avaliar a devastação. De mais de cinqüenta carvalhos, grandes e fortes, que existiam no quintal, só oito continuavam de pé. Foram danificados os carros, a casa, a cidade toda, mas a família nada sofreu. O Senhor ouvira suas orações e os protegera durante a tempestade. Alvie declarou: “Fiquei sem saber, se tinha uma casa para a qual voltar, mas sabia que sempre teria um lar, pois nossa família estava intacta e segura.”

O Presidente David O. McKay disse certa vez: “Não existe nada temporário no lar dos santos dos últimos dias.” (Conference Report, junho de 1919, p. 77.)

Ele também declarou: “Podemos possuir uma bela casa, com todas as decorações que a arte moderna ou o dinheiro podem proporcionar. (Ela) pode ter uma arquitetura muito agradável aos olhos e, no entanto, não ser um lar… Pode ser uma choupana, uma tenda, uma cabana, uma palhoça, mas se dentro dela reinar o espírito certo, o verdadeiro amor de Cristo, e o amor mútuo — de pais e mães pelos filhos, de filhos pelos pais, do marido pela mulher e vice-versa — tereis o verdadeiro tipo de vida que os santos dos últimos dias estão procurando edificar e estabelecer em seus lares.” (Gospel Ideals, Salt Lake City: Improvement Era, 1953, pp. 480-481.)

Hoje, mais do que nunca, forças malignas desafiam o lar. Para que ele subsista, pais e filhos têm que se dedicar aos ideais do evangelho, que garantem a preservação do lar e da família.

O Dr. Pearsall expressa a opinião de que as famílias não estão fracassando, mas nós estamos enfraquecendo-as, porque não aprendemos a colocar a vida familiar em primeiro plano em nosso mundo.

“Nossa sociedade está interferindo na necessidade de colocar a família em primeiro lugar”, escreve ele. “Nossas famílias estão em falência, e caíram nas mãos de credores, tais como escolas, casas de comércio, centros de recreação e inúmeras exigências institucionais. O problema não é estabelecer prioridades, mas, sim, fazer escolhas difíceis para a família. Só uma coisa pode vir em primeiro lugar”, salienta ele. “É a sua família?” E faz esta enfática declaração: “Previno-vos de que, se vossa família não vier em primeiro lugar, não durará.” (Pearsall, p. 18.)

Nos lares onde são mantidos altos ideais e valores do evangelho, são os pais, não os professores, que assentam o alicerce do caráter e da fé no coração dos filhos. Se a instrução que um filho deve receber no lar for negligenciada, nem a Igreja nem a escola poderá compensar a perda.

Em instruções recentes da Primeira Presidência e dos Doze, o Presidente Thomas S. Monson explicou que “a responsabilidade de edificar testemunhos e prover experiências que edifiquem a fé nos membros, incluindo nossa juventude, é do lar. A Igreja deve continuar a dar apoio à determinação da família nesse sentido”. O Presidente Monson incentivou os líderes do sacerdócio a “aumentarem seus esforços para edificar lares fortes, centralizados no evangelho”. (Conferência Geral de abril de 1990.)

Para ajudar-nos nesse empreendimento vital, mudanças drásticas na política orçamentária da Igreja foram feitas, que, de acordo com o Élder Boyd K. Packer, “terão por propósito devolver grande parte da responsabilidade do ensino, aconselhamento e atividades à família, lugar que lhe cabe.… Haverá uma menor interferência nos horários e finanças da família.

As atividades da Igreja devem ser substituídas por atividades em família.”

O Élder Packer terminou suas instruções, dizendo: “É uma correção de rumo; é uma mudança inspirada.” (Conferência Geral de abril de 1990.)

Só quando pais e filhos trabalham juntos em função de um mesmo objetivo — colocar o lar e a família em primeiro plano — pode o lar ser preservado, como pretendido por Deus.

Há poucas semanas, tivemos a oportunidade especial de reunir nossa família. Uma filha casada veio com o marido e os três filhos pequenos para uma curta estada conosco, antes de se mudarem da Costa Leste dos Estados Unidos para a Costa Oeste. Outra filha casada, veio de outra cidade, com o marido e os quatro filhos, para tornar possível a reunião da família inteira durante o fim-de-semana.

No domingo à noite toda a família se reuniu, no intuito único de celebrar nosso encontro, “todos debaixo do mesmo teto novamente”, conforme exclamou minha mulher. Ela planejara um programa especial para a ocasião, com um tema apropriado: “Reminiscências.” Possuía uma fita gravada, na qual uma de nossas filhas cantava uma canção sobre reminiscências. Conseguiu exemplares de determinado livro sobre o assunto, para ser dado como presente especial a cada filho. Para tornar o fim-de-semana realmente inesquecível, seria tirada uma fotografia da família. Todos os pormenores da noite haviam sido meticulosamente planejados. Certamente criariam lembranças felizes em cada membro da família. Ou será que não?

Enquanto a bela canção tocava suavemente como música de fundo, a sala se encheu com o barulho e os risos de nosso crescente círculo familiar. Os netinhos não conseguiam permanecer sentados. Riam, caçoavam e brincavam alegremente uns com os outros. Os adultos sentiam prazer em estar juntos, também, e todos falavam ao mesmo tempo, segundo nos pareceu, sobre os dias passados e sobre o futuro. Riam e lembravam os feitos dos filhos, que a esta altura faziam concursos de cócegas, no chão, ou enfiavam seus dedinhos no bolo de chocolate. Era frustrante — e engraçado!

Não sei o que foi mais frustrante ou engraçado — o programa familiar que terminou logo depois de começado, com Bonnie, a “revivedora de reminiscências” dizendo, num suspiro: “Oh, de que adianta? Ninguém está escutando!”, ou a sessão de fotografia, com doze adultos frenéticos, todos tentando, sem sucesso, conseguir que onze crianças extremamente ativas e barulhentas fizessem pose. Era isso uma comemoração familiar? Ou um circo familiar? De uma coisa eu sabia, — não fora assim que Bonnie planejara. Ela queria que esse dia fosse significativo e memorável.

Poucos dias depois da partida de todos, e com a casa novamente muito quieta, recebemos um presente. Era um livrinho sobre famílias, com ilustrações, e uma dedicatória: “Para a minha família tão boa, amorosa e divertida — para cada um de vocês.” Fora acrescentado um recadinho para a mãe: “Uma lembrança do caos maravilhoso, das fotos maravilhosas, do lugar maravilhoso de reunião, das maravilhosas lembranças que a senhora, com tanto carinho, ajuda a criar todas as vezes que estamos juntos.”

Mais tarde, chegou um bilhete de outra filha: “Muito obrigada por uma estadia maravilhosa. Os meninos não passavam momentos tão felizes há meses. Foi tão bom para eles se sentirem amados, serem mimados e receberem um pouco de atenção extra. Sinto-me tão feliz por, juntos, termos podido ver Clark aprender a andar, e por ele ter tido a oportunidade de começar a formar elos especiais com avós, tias, tios e primos amorosos. Nenhuma bênção poderia ter sido maior para nossos filhos, do que fazer parte de uma família, tão querida e protetora.”

Outra filha escreveu o seguinte:

Se pudessem ver a casa dos meus sonhos,

Saberiam que não é nenhum palácio,

Mas apenas o lugar onde mais feliz me sinto —

Vocês são essa casa, para mim.

Dentro do “caos maravilhoso” que é nossa família, obviamente nem tudo é perfeito. Como muitas outras famílias, ela tem problemas — desafios relacionados a enfermidades sérias, pais idosos, escola, trabalho e outros. No entanto, as preocupações e os fardos individuais podem ser aliviados pelo poder de uma família, unida pelo amor e apoio mútuos, e por orações de fé.

Depois da já bem conhecida declaração, “nenhum sucesso compensa o fracasso no lar”, o Presidente McKay continuou: “A mais humilde cabana, na qual existe uma família unida, tem mais valor para Deus e para a humanidade futura, do que quaisquer outras riquezas. Nesse lar Deus pode fazer e fará milagres.” (Conferência Geral de abril de 1965.)

Certa manhã de domingo, há poucos anos, Donald Pinnell, atualmente presidente da Estaca Amarillo Texas, estava assistindo às reuniões do seu ramo em Tucumcari, quando subitamente alguém lhe deu uma notícia alarmante: “Irmão Pinnell, sua casa está pegando fogo!”

O Presidente Pinnell rapidamente procurou os dois filhos, de doze e dezesseis anos, e dirigiu-se à sua fazenda. Seu primeiro pensamento foi para a mulher, que ficara em casa naquele dia, recuperando-se de uma cirurgia recente. Ele não teve notícias dela até que o motorista de um carro de bombeiros, que voltava, parou no caminho para lhe dizer que estava salva.

O irmão e a irmã Pinnell tinham acabado de construir a casa dos seus sonhos, uma casa estilo espanhol, na sua fazenda, que ficava a oitenta quilômetros da cidade. Era uma casa muito bonita e fonte de grande prazer para a família.

Ao aproximar-se do topo de uma colina, ele e seus filhos puderam ver, à distância, a fumaça que saía da casa queimada. Donald Pinnell declarou, sobre a ocasião: “Podíamos ver que nossa casa estava completamente envolvida pelas chamas, mas paramos o carro no topo da colina durante alguns minutos, e eu disse aos meus filhos: ‘Vejam, vocês podem passar toda a vida armazenando tesouros materiais, e depois sentar-se num monte, observando-os serem consumidos pelas chamas, ou podem armazenar o tipo certo de tesouros, levando-os consigo pela eternidade.’”

O tipo certo de tesouros são nossas famílias e os atributos e qualidades divinos de caráter, que são ensinados e aprendidos nos lares centralizados no evangelho.

Façamos as correções necessárias no nosso rumo individual e familiar, colocando o Senhor e nossa família em primeiro plano e enchendo nosso lar com esses tesouros eternos, é o que eu oro em nome de Jesus Cristo, amém.