1990–1999
Preparar o Coração
April 1990


Preparar o Coração

“O poder de influenciar beneficamente os outros é ganho por meio do amor, do louvor, da paciência. A alegria e a confiança são acalentadas nos relacionamentos em que se perdoa e se esquece. ”

Irmãos, estou ciente do fato de que, para muitos, fé e o testemunho são uma luta constante. Alguns chegaram a abandonar metas celestiais, cansados das fadigas da batalha. Oro para que eu seja guiado em meus esforços para ajudar.

Uns trinta ou quarenta anos antes do nascimento do Salvador, um pai sábio reuniu seus filhos e lhes deu um conselho. Seu nome era Helamã, e os filhos eram Néfi e Léhi. Disse-lhes ele:

“E agora, meus filhos, lembrai-vos, lembrai-vos de que é sobre a rocha de nosso Redentor, que é Cristo, o Filho de Deus, que deveis construir os vossos alicerces, para que quando o demônio desencadear a fúria de seus ventos,… quando todo o seu granizo e violenta tempestade vos colherem, nada disso tenha força para vos arrastar ao golfo da miséria e angústia sem fim.” (Helamã 5:12; grifo nosso.)

Em palavras simples, esse pai disse aos filhos que se permanecessem firmes e ganhassem um testemunho da divindade do Senhor Jesus Cristo, não haveria teste ou provação que não pudessem sobrepujar.

Ao tentar edificar este firme alicerce, receio que alguns tenham perdido a noção da responsabilidade divina de nos ajudarmos nesse processo mutuamente.

Não há dúvida de que, às vezes, podemos forçar, coagir ou intimidar as pessoas a serem obedientes. Vezes há até em que somos relativamente bem sucedidos ao tentarmos manipular a mente humana. Não temos, porém, a capacidade de forçar sentimentos:

Não podemos forçar o amor, o respeito e a admiração.

Não podemos forçar a fé e o testemunho da verdade.

Embora não possamos forçar as coisas de maior importância, existem maneiras de podermos ajudar-nos uns aos outros. Isto é, podemos preparar corações para a obtenção de um testemunho profundo e duradouro de que Jesus Cristo é o Salvador do mundo.

Este princípio de preparar primeiramente os corações se aplica a uma vasta variedade de relacionamentos pessoais, como entre amigos, vizinhos e colegas de trabalho, entre maridos, esposas e filhos. Examinemos algumas das formas pelas quais podemos acalentar corações, para que testemunhos neles criem raízes e cresçam.

Se o vosso é um lar onde os familiares são amados incondicionalmente, a despeito do seu comportamento, então esse lar terá um espírito de cordialidade que preparará os corações para receber um testemunho da verdade. Quando crianças e adolescentes são amados pelo que são e não pela forma Como se comportam, podemos então ajudar a ocasionar as mudanças necessárias em seu comportamento. Por exemplo, o adolescente que se sente aceito, terá maior probabilidade de escolher amigos saudáveis.

Podeis pensar: “Eu gostaria de amar minha família, amigos e vizinhos incondicionalmente, mas, às vezes, é extremamente difícil. Como posso aprender a sentir esse amor puro?” Eis algumas diretrizes:

Primeiro, procurai o que há de bom em cada pessoa, mencionando essa virtude de modo consistente e sincero. É surpreendente como corações podem ser enternecidos, testemunhos implantados e relacionamentos melhorados, quando começamos, diariamente, a demonstrar pequenas doses de apreciação sincera. Isso tem um efeito maravilhoso na preparação do espírito. Mesmo a menção de algo insignificante tem um efeito positivo. Geralmente uma coisa pequena, um simples ato ou atributo que desabrochará e se multiplicará, se for notado. (Aliás, pode levar o dia todo para encontrarmos algo, mas sempre há alguma coisa.)

Certo dia, depois das aulas, uma de nossas filhas entrou no quarto de um filho adolescente. Parecia que um furacão havia passado pelo quarto, e ele estava sentado em meio a tudo aquilo. Ela sentiu a raiva subindo-lhe à cabeça, mas lembrou de sua resolução de encontrar algo de bom. Procurando desesperadamente, olhou para cima. “Seu teto está bem limpo, Adam!” Ela conseguiu dizer honestamente. Ele riu, entendeu a mensagem e limpou o quarto.

Quando os cônjuges acostumam-se a olhar além das faltas e falhas um do outro e penetram nos recessos mais profundos do coração, vemos um maravilhoso fortalecimento das relações matrimoniais.

Outra forma de preparar corações é criar uma atmosfera onde o julgamento não é feito até a raiva ter passado, até a dor ter-se dissipado, até que todos os aspectos do àssunto tenham sido explorados. A crítica destrói a auto-estima, diminui e desanima a pessoa.

Há maridos que esperam a perfeição, e quando ela não é atingida, expressam-se por meio da crítica. Certa mulher escreveu: “A vida pode ser tão difícil para uma mulher nesta situação, quando o marido relembra continuamente suas faltas, fazendo-a saber que não está vivendo de acordo com as expectativas dele. Como pode uma mulher sentir que se tornará o que o Pai Celestial espera dela, quando, não importa o quanto tente, não consegue agradar ao próprio marido?”

É de cortar o coração ver como a crítica pode ferir os filhos e diminuir-lhes a auto-estima. Em determinada família, as noites familiares foram interrompidas porque seus membros se desanimaram com as brigas. O pai, talvez consciente de sua responsabilidade em ajudar a família a progredir, imprudentemente usava a maior parte do tempo mostrando as faltas dos familiares. Embora se esforçasse por elogiar os filhos, não era o suficiente para desfazer os efeitos das críticas.

Uma jovem universitária nutria um sentimento de censura e desaprovação por sua colega de quarto. Ao examinar a questão mais de perto, concluiu que os hábitos que tanto a aborreciam, praticados pela colega, eram, na verdade, expressões apropriadas de uma herança cultural diferente.

Um amável portador do sacerdócio, ou qualquer indivíduo que esteja em posição de influenciar os outros, compreende que o poder de influenciar beneficamente os outros é ganho por meio do amor, do elogio e da paciência. A alegria e a confiança são acalentadas nos relacionamentos em que se perdoa e se esquece.

Ao desenvolver a capacidade de amar incondicionalmente, lembrai-vos de que escutar faz parte da demonstração de amor. Se no lar os filhos são ouvidos, mesmo quando o que dizem não vos parece importante ou sentis que não tendes tempo para escutar, então estais preparando corações. Podemos ouvir uma experiência chocante, sem entrarmos em estado de choque nós mesmos, ou sem uma reação verbal imediata? Todos sabemos que existe um tempo para falar e um tempo para ouvir? Ouvir com paciência as razões de um jovem por ter chegado tarde em casa, despertará nele um forte sentimento de gratidão. Lembrai-vos que podeis ouvir com a intenção de entender, sem necessariamente concordar. Muitas vezes ensinamos melhor quando ouvimos. Os relacionamentos entre marido e mulher são acalentados e fortalecidos quando despendemos mais tempo ouvindo uns aos outros. Os corações se abrandam.

Finalmente, o amor é demonstrado por meio da oração. No lar, os filhos ouvem os pais orar por eles de forma específica? Por exemplo, quando Kami fica doente, pode ouvir a família pedir que ela receba a influência sanadora do Senhor. Quando Cameron precisa de um emprego, sentir-se-á melhor ouvindo as orações da família, expressando confiança nele. Se no lar os filhos ouvem os pais orar um pelo outro diariamente, então o vosso é um lar no qual a fé é edificada. Nele, os corações podem ser mudados, e os que lá vivem estão capacitados a se tornarem filhos de Cristo.

Seguindo as maravilhosas palavras de instrução do Rei Benjamim, registradas nos primeiros capítulos de Mosiah, aprendemos que “enviou mensageiros, a fim de saber se acreditavam nas palavras que lhes tinha falado”. (Mosiah 5:1.) Ao término destes dois maravilhosos dias de conferência geral eu gostaria de que, se nos fosse feita igual pergunta, pudéssemos responder da mesma forma:

“Sim, acreditamos em todas as palavras que nos disseste, e também sabemos que são certas e verdadeiras, porque o Espírito do Senhor Onipotente efetuou em nós, ou em nossos corações, uma grande mudança, de modo que não temos mais vontade de praticar o mal, mas de fazer o bem continuamente…

E desejamos fazer um convênio, com nosso Deus, de cumprir a sua vontade, obedecer a seus mandamentos em tudo o que ele nos ordenar.” (Mosiah 5:2, 5.)

E o Rei Benjamim adicionou:

“E agora, por causa do convênio que fizestes, sereis chamados progénie de Cristo, filhos e filhas dele, pois eis que, neste dia, ele vos gerou espiritualmente; pois dizeis que vossos corações se transformaram pela fé em seu nome; portanto, nascestes dele e vos tornastes seus filhos e suas filhas.

Sob esta chefia sois feitos livres… quisera, portanto, que tomásseis sobre vós o nome de Cristo… de ser obedientes até o fim de vossa vida.” (Mosiah 5:7–8; grifo nosso.)

A isto, irmãos, adiciono meu testemunho da divindade de Jesus Cristo. Ele é nosso Salvador, e é nosso Redentor, e vive. Em nome de Jesus Cristo, amém.