Conferência Geral
Deus Fará Algo Inimaginável
Conferência Geral de outubro de 2020


Deus Fará Algo Inimaginável

Deus preparou os Seus filhos e a Sua Igreja para estes tempos.

Pouco depois de chegar ao Vale do Lago Salgado, os Santos dos Últimos Dias começaram a construir o seu templo sagrado. Sentiram que, finalmente, tinham encontrado um lugar onde poderiam adorar a Deus, em paz e livres de perseguição.

No entanto, quando os alicerces do templo estavam quase prontos, aproximou-se um exército de soldados dos Estados Unidos para impor, à força, um novo governador.

Como os líderes da Igreja não sabiam o quão hostil o exército seria, Brigham Young ordenou que os Santos evacuassem e enterrassem os alicerces do templo.

Tenho a certeza de que alguns membros da Igreja se questionaram sobre o porquê dos seus esforços, para construir o reino de Deus, serem constantemente bloqueados.

Por fim, o perigo passou e os alicerces do templo foram escavados e inspecionados. Foi então que os construtores pioneiros descobriram que alguns dos arenitos originais tinham rachado, tornando-os inadequados para servir de alicerce.

Consequentemente, Brigham pediu que reparassem a fundação para que pudesse sustentar adequadamente as paredes de granito1 do majestoso Templo da Cidade do Lago Salgado.2 Finalmente, os Santos já podiam entoar o hino “Que Firme Alicerce”3 e saber que o seu templo sagrado estava assente sobre um alicerce sólido que perduraria por gerações.

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Os Alicerces do Templo do Lago Salgado

Esta história pode ensinar-nos o modo como Deus usa a adversidade para realizar os Seus propósitos.

Uma Pandemia Mundial

Se isto nos parece familiar, dadas as circunstâncias em que nos encontramos hoje, é porque realmente o é.

Duvido que haja alguém que esteja a ouvir a minha voz ou que leia as minhas palavras que não tenha sido afetado pela pandemia mundial.

Para aqueles que choram a perda de familiares e amigos, os nossos pêsames. Rogamos ao Pai Celestial que vos conforte e console.

A longo prazo, as consequências deste vírus vão para além da saúde física. Muitas famílias perderam os seus rendimentos e sentem-se ameaçadas pela fome, pela incerteza e apreensão. Admiramos os esforços abnegados de muitos para prevenir a propagação desta doença. Sentimo-nos humildes pelo sacrifício silencioso e pelos nobres esforços daqueles que arriscaram a sua própria segurança para ajudar, curar e apoiar os necessitados. Os nossos corações estão cheios de gratidão pela vossa bondade e compaixão.

Oramos fervorosamente para que Deus abra as janelas do Céu e derrame sobre as vossas vidas as bênçãos eternas de Deus.

Nós Somos Sementes

Ainda existem muitas incógnitas sobre este vírus. Mas se há coisa que eu sei, é que este vírus não apanhou o Pai Celestial desprevenido. Ele não teve que reunir mais batalhões de anjos, convocar reuniões de emergência nem desviar recursos do departamento da criação do mundo, para lidar com uma necessidade inesperada.

A minha mensagem de hoje é que, embora esta pandemia não seja o que queríamos ou esperávamos, Deus preparou os Seus filhos e a Sua Igreja para este momento.

Vamos ultrapassar isto, sim. Mas faremos mais do que simplesmente cerrar os dentes, aguentar e esperar que as coisas voltem ao seu estado normal. Seguiremos em frente e, no fim, seremos melhores.

De certa forma, nós somos sementes. E para que as sementes atinjam o seu potencial, devem ser enterradas antes de germinar. É meu o testemunho de que, embora às vezes possamos sentir-nos sepultados pelas provações da vida ou rodeados por trevas emocionais, o amor de Deus e as bênçãos do evangelho restaurado de Jesus Cristo, farão germinar algo inimaginável.

As Bênçãos Provêm das Dificuldades

Cada dispensação enfrentou tempos de provação e dificuldades.

Enoque e o seu povo, viveram numa época de iniquidade, guerras e derramamento de sangue. “Mas o Senhor veio habitar com [o] seu povo”. Ele tinha algo inimaginável em mente para eles. Ele ajudou-os a estabelecer Sião — um povo “uno de coração e vontade” que “[vivia] em retidão”.4

O jovem José, filho de Jacó, foi lançado numa cova, vendido como escravo, traído e abandonado.5 José deve ter-se questionado se Deus o tinha esquecido. Deus tinha em mente algo inimaginável para José. Ele usou este período de provação para fortalecer o caráter de José e colocá-lo numa posição onde este pudesse salvar a sua família.6

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Joseph na Cadeia de Liberty

Pensem em Joseph Smith, o Profeta, que enquanto estava preso na Cadeia de Liberty, tanto implorou pelo alívio dos Santos que estavam a sofrer. Ele deve ter-se questionado sobre como seria possível estabelecer Sião naquelas circunstâncias. Mas, o Senhor acalmou-o, e a gloriosa revelação que se seguiu trouxe paz aos Santos — e continua a trazer paz a todos nós.7

Quantas vezes, nos primeiros anos d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os Santos desesperaram e se perguntaram se Deus os tinha esquecido? Mas, com as perseguições, perigos e ameaças de extermínio, o Senhor Deus de Israel tinha outra coisa em mente para o Seu pequeno rebanho. Algo inimaginável.

O que aprendemos com estes exemplos — e com centenas de outros nas escrituras?

Primeiro, os justos não recebem um salvo conduto que lhes permita evitar o vale das trevas. Todos nós devemos passar por momentos difíceis, pois é nesses momentos de adversidade que aprendemos os princípios que fortalecem o nosso caráter e nos levam a aproximar-nos mais de Deus.

Segundo: o nosso Pai Celestial sabe que sofremos e, porque somos os Seus filhos, Ele não nos abandonará.8

Pensem naquele que é compassivo, no Salvador, que passou tanto tempo da Sua vida a ministrar aos enfermos, aos solitários, àqueles que duvidavam e aos que desesperavam.9 Por acaso acham que o Senhor se preocupa menos convosco hoje em dia?

Meus queridos amigos, meus amados irmãos e irmãs, Deus cuidará e tomará conta de nós, o seu rebanho, durante estes tempos de incerteza e de medo. Ele conhece-nos. Ele ouve os nossos apelos. Ele é fiel e confiável. Ele cumprirá as Suas promessas.

Deus tem algo inimaginável em mente para cada um de nós individualmente e, para a Igreja coletivamente — uma obra maravilhosa e um assombro.

Graças Damos, Ó Deus, por um Profeta

Os nossos melhores dias estão à nossa frente e não atrás de nós. É por isso que Deus nos dá revelações modernas!. Sem elas, a vida pode parecer como se voássemos em círculos, à espera que o nevoeiro se dissipe para podermos aterrar em segurança. Os propósitos do Senhor para nós são muito mais elevados do que isso. Porque esta é a Igreja do Cristo vivo e porque Ele conduz os Seus profetas, estamos a avançar e a subir, para lugares onde nunca estivemos, para alturas que mal podemos imaginar!

Agora, isto não significa que não teremos turbulências no nosso voo pela mortalidade. Isto não significa que não haverá falhas inesperadas dos instrumentos, anomalias mecânicas ou sérios desafios climáticos. Na verdade, as coisas podem piorar antes de melhorar.

Como piloto de caça e capitão de um linha aérea, aprendi que, embora não pudesse escolher as adversidades que teria de enfrentar durante um voo, poderia escolher como preparar-me e como reagir. O que necessitamos em tempos de crise é de confiança e lucidez.

Como é que podemos fazer isto?

Encaramos os factos e voltamos ao que é fundamental, aos princípios básicos do evangelho, ao que é mais importante. Fortalecemos a nossa conduta religiosa individual — como a oração, o estudo das escrituras e a obediência aos mandamentos de Deus. Tomamos decisões com base nas melhores práticas já testadas.

Concentramo-nos nas coisas que podemos fazer e não nas coisas que não podemos fazer.

Devemos de passar em revista a nossa fé. E ouvirmos a palavra de orientação do Senhor e do Seu profeta para nos conduzir a um porto seguro.

Lembrem-se, esta é a Igreja de Jesus Cristo — Ele está ao leme.

Pensem nos muitos avanços inspirados que aconteceram só na última década. Para referir apenas alguns:

  • O sacramento foi enfatizado novamente como o centro da nossa adoração ao domingo.

  • O Vem, e Segue-Me foi fornecido como uma ferramenta centrada no lar e apoiada pela Igreja para fortalecer os indivíduos e as famílias.

  • Começámos a ministrar, a todos de uma forma mais elevada e mais sagrada.

  • O uso da tecnologia para partilhar o evangelho e fazer a obra do Senhor difundiu-se por toda a Igreja.

Mesmo estas sessões da conferência geral não seriam possíveis sem as maravilhosas ferramentas da tecnologia.

Irmãos e irmãs, com Cristo ao leme, as coisas não só ficarão bem, como serão inimagináveis.

A Obra da Coligação de Israel Avança

A princípio, pode ter parecido que uma pandemia mundial seria um obstáculo à obra do Senhor. Por exemplo, não foi possível partilhar o evangelho pelos métodos tradicionais. No entanto, a pandemia está a revelar maneiras novas e mais criativas de alcançar os corações sinceros. A obra de coligação de Israel está a aumentar em poder e entusiasmo. Centenas e milhares de histórias atestam isto.

Uma boa amiga que mora na bela Noruega escreveu-nos, à Harriet e a mim, a relatar um aumento recente no número de batismos. “Em locais onde a Igreja é pequena”, escreveu ela, “os galhos se transformarão em ramos e os ramos em alas!!!”

Na Letónia, uma mulher que descobriu a Igreja ao clicar num anúncio da Internet, ficou tão entusiasmada para aprender sobre o evangelho de Jesus Cristo, que apareceu uma hora antes da hora marcada e, antes que os missionários terminassem a primeira lição, ela pediu para que fosse marcada a data do seu batismo.

Na Europa de Leste, uma mulher que recebeu um telefonema das missionárias, exclamou: “Sisters, por que é que não me ligaram antes? Tenho estado à espera!”

Muitos dos nossos missionários estão mais ocupados do que nunca. Muitos estão a ensinar mais pessoas do que nunca. Há uma ligação crescente entre membros e missionários.

No passado, podíamos estar tão presos às abordagens tradicionais que, foi necessária uma pandemia para abrirmos os olhos. Talvez ainda estivéssemos a construir com arenito quando o granito já estava disponível. Por necessidade, estamos agora a aprender a usar uma variedade de métodos, incluindo a tecnologia, para convidar as pessoas — espontânea e naturalmente — a vir e a ver, a vir e a ajudar e a vir e a pertencer.

O Seu Trabalho, Os Seus Caminhos

Esta é a obra do Senhor. Ele convida-nos a encontrar os Seus métodos para a realizar, e estes podem ser diferentes dos que usámos no passado.

Isto aconteceu com Simão Pedro e outros discípulos que foram pescar no Mar de Tiberíades.

“Naquela noite eles não pescaram nada.

E sendo já manhã, Jesus se apresentou na praia…

E Ele lhes disse: Lançai a rede para o [outro] lado do barco, e achareis”.

Eles lançaram as suas redes para o outo lado e “já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes”.10

Deus revelou e continuará a revelar a Sua mão todo-poderosa. O dia chegará em que olharemos para trás e saberemos que, durante este período de adversidade, Deus esteve a ajudar-nos a encontrar maneiras melhores — os Seus métodos — para construir o Seu reino sobre um alicerce firme.

Presto o meu testemunho de que esta é a obra de Deus e Ele continuará a fazer muitas coisas inimagináveis entre os Seus filhos, entre o Seu povo. Deus carrega-nos nas palmas das Suas carinhosas e compassivas mãos.

Testifico que o Presidente Russell M. Nelson é o nosso profeta do Senhor da atualidade.

Como Apóstolo do Senhor, convido e abençoo-vos a fazer “alegremente todas as coisas que estiverem ao [vosso] alcance; e depois [aguardem], com extrema segurança para ver a salvação de Deus e a revelação do Seu braço”.11 E prometo que o Senhor fará com que coisas inimagináveis resultem dos vossos labores em retidão. Em nome de Jesus Cristo, amém.

Notas

  1. Quartzo monzonito que parecia granito retirado de uma pedreira na foz do Desfiladeiro Little Cottonwood, 32 km a sudeste da cidade.

  2. Para um estudo mais aprofundado deste período da história, ver Santos: A História da Igreja de Jesus Cristo nos Últimos Dias, vol. 2, Não por Mão Ímpia, 1846–1893 (2020), capítulos 17, 19, e 21.

  3. Ver “Que Firme Alicerce”, Hinos, nº 42

    Os versos deste grandioso hino podem servir de tema para a nossa época e, quando escutamos a letra com novos ouvidos, esta dá-nos uma visão sobre os desafios que enfrentamos:

    “Na vida ou na morte, no fausto ou na dor,

    Quer pobres ou ricos, tereis o seu amor.

    No mar ou na terra, em todo lugar,

    De todo o perigo, vos há de livrar.

    Se Deus é convosco, a quem temereis?

    Ele é vosso Deus, seu auxílio tereis.

    Se o mundo vos tenta, se o mal faz tremer,

    Com mão poderosa vos há de suster.

    E quando torrentes tiverdes que passar,

    O rio do mal não vos poderá tragar,

    Pois Ele, que pode a tormenta acalmar,

    Seus santos queridos virá resgatar.

    Se provas de fogo tiverdes que passar,

    Tereis sua graça a vos amparar.

    A chama não pode o fiel consumir

    Mas queima a escória e o ouro faz surgir.

    A alma que em Cristo confiante repousar,

    A seus inimigos não há de se entregar.

    Embora o inferno a queira destruir,

    Deus nunca, oh, nunca, o há de permitir”.

  4. Ver Moisés 7:13-18.

  5. José talvez tivesse 17 anos quando os seus irmãos o venderam como escravo (ver Génesis 37:2). Ele tinha 30 anos quando entrou ao serviço do Faraó (ver Génesis 41:46). Conseguem imaginar como era difícil para um jovem no seu auge, ser traído, vendido como escravo, falsamente acusado e depois preso? José é certamente um modelo, não só para os jovens da Igreja, mas para todo o homem, mulher e criança que deseja tomar a cruz e seguir o Salvador.

  6. Ver Génesis 45:4-11; 50:20-21. Em Salmos 105:17–18, lemos: “Mandou perante eles um homem, José, que foi vendido como escravo, cujos pés apertaram com grilhões; foi posto em ferros”. Noutra tradução, o versículo 18 diz: “Eles afligiram com grilhões os seus pés, Ferro entrou na sua alma” (Tradução Literal de Young). Para mim, isto sugere que as dificuldades de José deram-lhe uma alma tão forte e resistente como o ferro — uma qualidade que ele iria precisar para o grande e inimaginável futuro que o Senhor tinha reservado para ele.

  7. Ver Doutrina e Convénios 121:-23.

  8. Se Deus ordena aos Seus filhos que estejam cientes e sejam compassivos com os famintos, os necessitados, os nus, os enfermos e aflitos, certamente Ele terá consciência e será misericordioso para connosco, os Seus filhos. (ver Mórmon 8:39).

  9. Ver Lucas 7:11-17.

  10. Ver João 21:1-6.

  11. Doutrina e Convénios 123:17.