Conferência Geral
Construir uma Vida Resistente ao Adversário
Conferência geral de outubro de 2022


Construir uma Vida Resistente ao Adversário

Oro para que continuemos a construir a nossa vida seguindo os planos e as especificações técnicas do projeto divino criado pelo nosso Pai Celestial.

Ao longo dos anos, deste belo púlpito do Centro de Conferências, temos recebido magníficos conselhos, inspiração, instrução e revelação. Ocasionalmente, os oradores recorreram a comparações relacionadas com as suas áreas de conhecimento e experiência para ilustrar, de forma clara e poderosa, determinado princípio do evangelho de Jesus Cristo.

Deste modo, por exemplo, temos aprendido sobre aviões e voos, em que um pequeno desvio inicial pode conduzir-nos a um lugar distante do nosso destino original.1 Do mesmo modo, aprendemos, também, com a comparação da função do nosso coração físico com a poderosa mudança de coração necessária para responder ao convite do Senhor para O seguir.2

Neste momento, gostaria de acrescentar, humildemente, uma comparação inspirada na área da minha formação profissional. Refiro-me ao mundo da engenharia civil. Desde o início dos meus estudos universitários, sonhei com o dia em que completaria os requisitos para me qualificar no curso que me ensinaria a projetar edifícios e outras estruturas que pudessem ser consideradas “antissísmicas”.

Chegou, então, o dia da minha primeira aula sobre esta matéria. As primeiras palavras do professor foram as seguintes: “Estão certamente ansiosos por começar este curso e aprender a projetar estruturas antissísmicas” e, muitos de nós, acenámos a cabeça com entusiasmo. Então o professor informou: “Lamento dizer-vos que isto não vai ser possível, pois não poderei ensinar-vos a projetar um edifício que seja contra, ou seja, ‘anti’ terramotos. Isto não faz sentido”, afirmou, “porque os terremotos vão ocorrer de qualquer maneira, gostemos ou não”.

Logo de seguida, acrescentou: “O que eu posso ensinar-vos é como projetar estruturas resistentes a sismos, estruturas que possam resistir às forças provenientes de um terremoto, para que a estrutura permaneça de pé, sem danos graves, e que possa continuar a oferecer o serviço para o qual foi concebida”.

O engenheiro faz os cálculos que indicam as dimensões, as qualidades e características dos alicerces, pilares, vigas, lajes de cimento e outros elementos estruturais que estão a ser projetados. Estes resultados são traduzidos em plantas e especificações técnicas, que devem ser rigorosamente seguidas pelo construtor para que a obra se concretize e, assim, cumpra a finalidade para a qual foi projetada e construída.

Apesar de terem passado mais de 40 anos desde aquela primeira aula de engenharia de resistência sísmica, recordo-me perfeitamente do momento em que comecei a adquirir uma compreensão mais profunda e completa da importância vital deste conceito, que estaria presente nas estruturas que iria desenhar na minha futura vida profissional. Não só, mas também, e ainda mais importante — que estivesse permanentemente presente na edificação da minha própria vida e daqueles sobre quem eu pudesse exercer uma influência positiva.

Quão abençoados somos por poder contar com o conhecimento do plano de salvação, criado pelo nosso Pai Celestial, de ter o evangelho restaurado de Jesus Cristo e poder contar com a orientação inspirada de profetas vivos! O que eu acabei de referir constitui os “planos” divinamente projetados e as “especificações técnicas” que nos ensinam claramente como construir vidas felizes — vidas que são resistentes ao pecado, resistentes à tentação, resistentes aos ataques de Satanás, que procura desesperadamente frustrar o nosso destino eterno de estar junto do nosso Pai Celestial e das nossas amadas famílias.

O próprio Salvador, no início do Seu ministério “foi deixado para ser tentado pelo diabo”.3 Mas, Jesus saiu vitorioso dessa grande prova. De que modo é que o ter uma atitude “anti-Satanás” ou “anti-tentação”, O teria ajudado? O que possibilitou a Jesus sair triunfante daqueles momentos mais difíceis foi a Sua preparação espiritual, que Lhe permitiu estar em condições de resistir às tentações do adversário.

Quais foram alguns dos fatores que ajudaram o Salvador a estar preparado para aquele momento crucial?

Primeiro, Ele jejuou durante 40 dias e 40 noites, um jejum que deve ter sido acompanhado de uma oração constante. Assim, embora fisicamente fraco, o Seu espírito estava muito forte. Ainda que, felizmente, não nos seja pedido que jejuemos durante tanto tempo — mas, que o façamos apenas por um período de 24 horas e uma vez por mês — o jejum proporciona-nos força espiritual e prepara-nos para resistir às provações desta vida.

Em segundo lugar, no relato das tentações a que o Salvador foi submetido, lemos que Ele sempre respondeu a Satanás tendo as escrituras em mente, citando-as e aplicando-as no momento certo.

Quando Satanás O incitou a transformar pedras em pães, para que, desse modo, pudesse saciar a Sua fome do longo jejum, o Senhor disse-lhe: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”.4 Depois, quando o Senhor estava no pináculo do templo, o diabo voltou a tentá-Lo para que demonstrasse o Seu poder, ao que o Senhor respondeu com autoridade: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus”.5 E à terceira tentativa de Satanás, o Senhor respondeu: “Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás”.6

O evento de um terremoto deixa a sua marca, mesmo em estruturas que foram projetadas e construídas corretamente — consequências como algumas fissuras, mobiliário derrubado ou tetos caídos e janelas partidas. Mas, este edifício bem projetado e bem construído irá cumprir o seu propósito de proteger os seus ocupantes e, com algumas reparações, poderá recuperar a sua condição original.

Da mesma forma, as bofetadas do adversário também podem causar “fissuras” ou outro dano parcial na nossa vida, apesar dos nossos esforços para a edificar de acordo com o projeto divino e perfeito. Estas “fissuras” podem manifestar-se através de sentimentos de tristeza ou remorso, por termos cometido alguns erros e por não termos feito tudo com perfeição, ou por sentirmos que não somos tão bons quanto gostaríamos.

Mas, o que é realmente relevante é que, por termos seguido os planos e as especificações divinamente projetadas, ou seja, o evangelho de Jesus Cristo, ainda nos mantemos de pé. A estrutura da nossa vida não foi demolida pelos esforços do adversário nem por situações difíceis que tivemos de enfrentar; pelo contrário, estamos prontos para avançar.

A alegria prometida nas escrituras, como o propósito da nossa existência7 não deve ser subentendida como significando que não teremos dificuldades nem tristezas, ou que não teremos “fissuras” como consequência das tentações, das adversidades ou das próprias provações da nossa vida terrena.

Esta alegria tem a ver com a perspetiva de vida de Néfi, quando este afirmou: “Tendo passado muitas aflições no decurso [dos] meus dias, fui, não obstante, altamente favorecido pelo Senhor em todos os meus dias”.8 Em todos os seus dias! Mesmo nos dias em que Néfi sofreu com a incompreensão e rejeição dos seus próprios irmãos, mesmo quando o amarraram no navio, mesmo no dia em que o seu pai, Leí, faleceu, mesmo quando Lamã e Lemuel se tornaram inimigos mortais do seu povo. Mesmo naqueles dias difíceis, Néfi sentiu-se altamente favorecido pelo Senhor.

Podemos ter a tranquilidade de saber que o Senhor nunca irá permitir que sejamos tentados além daquilo a que podemos resistir. Alma convida-nos a “[vigiar] e [orar] continuamente, para não [sermos] tentados além do que [podemos] suportar; e [sermos] assim conduzidos pelo Espírito Santo, tornando-[nos] humildes, mansos, submissos, pacientes, cheios de amor e longanimidade”.9

O mesmo pode ser aplicado às provações da vida. Amon recorda-nos das palavras do Senhor: “Ide (…) e suportai com paciência [as] vossas aflições, e eu farei com que tenhais êxito”.10

O Senhor provê sempre uma ajuda quando enfrentamos adversidades, tentações, incompreensão, enfermidades e até a morte. Ele disse: “E agora, em verdade vos digo, e o que digo a um digo a todos: tende bom ânimo, filhinhos; pois estou no vosso meio e não vos desampararei.”11 Ele nunca nos irá abandonar!

Oro para que continuemos a construir a nossa vida seguindo os planos e as especificações técnicas do projeto divino, criado pelo nosso Pai e alcançado por intermédio do nosso Salvador, Jesus Cristo. Assim, por causa da graça que nos chega através da Expiação do nosso Salvador, seremos bem sucedidos na construção de uma vida resistente ao pecado, resistente à tentação e fortalecida para suportar os momentos difíceis e tristes da nossa vida. E, além disso, estaremos numa condição em que teremos acesso a todas as bênçãos prometidas por intermédio do amor do nosso Pai e do nosso Salvador. Em nome de Jesus Cristo. Amém.