Conferência Geral
Voltar a Confiar
Conferência Geral de outubro de 2021


Voltar a Confiar

A confiança em Deus e nos outros traz-nos as bênçãos do Céu.

Certa vez, quando eu era muito jovem, pensei, por uns instantes, em fugir de casa. Na minha mentalidade de menino, sentia que ninguém gostava de mim.

A minha mãe atenta escutou-me e tranquilizou-me. Em casa eu estava em segurança.

Já alguma vez se sentiram como se estivessem a fugir de casa? Muitas vezes, fugir de casa significa que houve um desgaste ou quebra de confiança — de confiança em nós mesmos, nos outros, em Deus. Quando a confiança é questionada, perguntamo-nos como é que podemos voltar a confiar.

A minha mensagem de hoje é a de que, estejamos nós a ir ou a voltar para casa, Deus está a vir ao nosso encontro.1 Nele podemos encontrar fé e coragem, sabedoria e discernimento para voltar a confiar. Do mesmo modo, Ele pede-nos que mantenhamos a luz acesa uns para os outros, que sejamos mais rápidos a perdoar e menos críticos de nós mesmos e dos outros, para que a Sua Igreja seja um lugar onde nos sintamos em casa, quer estejamos a ir pela primeira vez ou a voltar.

Confiar é um ato de fé. Deus mantém a Sua fé em nós. No entanto, a confiança humana pode ser minada ou quebrada quando:

  • Um amigo, parceiro de negócios ou alguém em quem confiamos não diz a verdade, nos magoa ou se aproveita de nós.2

  • Um cônjuge é infiel.

  • Alguém que amamos enfrenta, talvez inesperadamente, a morte, lesões ou uma doença.

  • Enfrentamos uma dúvida inesperada do evangelho, talvez algo relacionado com a história da Igreja ou com as normas da Igreja, e alguém nos diz que a nossa Igreja de alguma forma ocultou ou não disse a verdade.

Outras situações podem ser menos específicas, mas de igual importância.

Talvez não nos vejamos como membros da Igreja, não nos sintamos integrados ou nos sintamos julgados pelos outros.

Ou, embora tenhamos feito tudo o que era esperado, as coisas ainda não deram certo. Apesar das nossas experiências pessoais com o Espírito Santo, podemos ainda não sentir que Deus vive ou que o evangelho é verdadeiro.

Muitos, hoje em dia, sentem uma grande necessidade de restaurar a confiança nos relacionamentos humanos e na sociedade moderna.3

Ao refletirmos sobre confiança, sabemos que Deus é “um Deus de verdade e não [pode] mentir”.4 Sabemos que a verdade é o conhecimento das coisas como elas são, foram e serão.5 Sabemos que a revelação e a inspiração contínuas ajustam a verdade imutável às novas circunstâncias.

Sabemos que a quebra de convénios parte corações. “Fiz coisas estúpidas”, diz ele. “Será que me podes perdoar?” O marido e a mulher podem dar as mãos, na esperança de voltar a confiar. Num outro cenário, um presidiário reflete: “Se eu tivesse guardado a Palavra de Sabedoria, não estaria agora aqui”.

Desfrutamos de alegria no caminho do convénio do Senhor, e os chamados para servir na Sua Igreja são um convite para sentir a confiança e o amor de Deus por nós e pelos outros. Os membros da Igreja, inclusive os adultos solteiros, servem regularmente na Igreja e nas nossas comunidades.

Por inspiração, um bispado chama um jovem casal para servir no berçário da ala. Inicialmente, o marido senta-se a um canto, alienado e distante. Com o passar do tempo, ele começa a sorrir com as crianças. Mais tarde, o casal expressa gratidão. Antes, contam eles, a esposa queria filhos, mas o marido não. Agora, o serviço que prestaram mudou-os e aproximou-os um do outro. Também lhes proporcionou a alegria de trazer filhos para o seu casamento e para o seu lar.

Numa outra cidade, uma jovem mãe com filhos pequenos e o seu marido ficam surpresos e assoberbados, mas aceitam quando ela é chamada para servir como presidente da Sociedade de Socorro da ala. Pouco tempo depois, uma tempestade de neve leva a um corte de energia, que deixa as prateleiras dos supermercados vazias e as casas geladas como frigoríficos. Por ainda ter energia e aquecimento, esta jovem família abre, generosamente, as portas da sua casa a várias famílias e indivíduos no decorrer da tempestade.

A confiança torna-se real quando fazemos coisas difíceis movidos pela fé. O serviço e o sacrifício aumentam a nossa capacidade e refinam corações. A confiança em Deus e nos outros traz-nos as bênçãos do Céu.

Depois de ter conseguido sobreviver ao cancro, um irmão fiel é atropelado por um carro. Em vez de sentir pena de si mesmo, ele pergunta em espírito de oração: “O que é que eu posso aprender com esta experiência?” Na sua unidade de cuidados intensivos, ele sente-se impelido a reparar numa enfermeira preocupada com o seu marido e os seus filhos. Um paciente com dores encontra respostas quando confia em Deus e estende a mão para ajudar os outros.

Enquanto um irmão com problemas relacionados com a pornografia aguarda à porta do escritório do seu presidente da estaca, o presidente da estaca ora para saber como pode ajudá-lo. Uma impressão nítida vem à sua mente: “Abre a porta e deixa o irmão entrar”. Com fé e confiança de que Deus o ajudaria, o líder do sacerdócio abre a porta e abraça aquele irmão. Ambos sentem, por Deus e um pelo outro, o amor e a confiança que levam à mudança. Fortalecido, aquele irmão já pode começar a arrepender-se e a mudar.

Embora as nossas circunstâncias particulares sejam pessoais, os princípios do evangelho e o Espírito Santo podem ajudar-nos a saber se, como e quando devemos voltar a confiar nas pessoas. Quando a confiança é quebrada ou existe traição, a deceção e a desilusão são reais; assim como a necessidade de discernimento para saber quando é que a fé e a coragem são merecidas e podemos voltar a confiar nos relacionamentos humanos.

No entanto, em relação a Deus e à revelação pessoal, o Presidente Russell M. Nelson assegura-nos que: “Não [precisamos] ficar a imaginar em quem [podemos] confiar com segurança”.6 Podemos sempre confiar em Deus. O Senhor conhece-nos melhor e ama-nos mais do que nós a nós mesmos. O Seu amor infinito e o Seu conhecimento perfeito do passado, presente e futuro tornam as Suas promessas e convénios constantes e seguros.

Confiem naquilo que as escrituras chamam de “o correr do tempo”.7 Com a bênção de Deus, o correr do tempo e com fé e obediência contínuas, podemos encontrar resolução e paz.

O Senhor consola-nos, dizendo:

“O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.”8

“Trazei os fardos ao Senhor [e] em Seu amor confiai.”9

“Não há tristeza na Terra da qual o céu não vos possa curar.”10

Confiem em Deus11 e nos Seus milagres. Nós, e os nossos relacionamentos, podemos mudar. Através da Expiação de Cristo, o Senhor, podemos deixar de lado o nosso egoísmo natural e tornarmo-nos filhos de Deus, mansos, humildes,12 cheios de fé e confiança. Quando nos arrependemos, confessamos e abandonamos os nossos pecados, o Senhor diz que deles não mais se lembra.13 Não é que Ele se esqueça; mas sim que, de uma forma notável, Ele pareça escolher não se lembrar deles, e assim devemos nós fazer.

Confiem na inspiração de Deus para discernir com sabedoria. Podemos perdoar outros no modo e no tempo devido, conforme o Senhor diz que devemos,14 continuando, no entanto, a ser “prudentes como as serpentes e inocentes como as pombas”.15

Por vezes, só quando o nosso coração se encontra verdadeiramente quebrantado e contrito, é que estamos mais abertos ao consolo e à orientação do Espírito Santo.16 A condenação e o perdão começam pelo reconhecimento de um erro. Frequentemente, a condenação foca-se no passado. O perdão foca-se, libertadoramente, no futuro. “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.”17

O Apóstolo Paulo pergunta: “Quem nos separará do amor de Cristo?” E responde: “Nem a morte, nem a vida, (…) nem a altura, nem a profundidade, (…) nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, [o] nosso Senhor”.18 No entanto, existe alguém que pode separar-nos de Deus e de Jesus Cristo — e esse alguém somos nós mesmos. Conforme disse Isaías: “Os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós”.19

Pelo amor divino e pela lei divina, somos responsáveis pelas nossas escolhas e pelas suas consequências. Mas o amor expiatório do nosso Salvador é “infinito e eterno”.20 Quando estivermos prontos para regressar a casa, mesmo “quando ainda [estivermos] longe”,21 Deus está pronto para nos fazer bem-vindos, cheio de compaixão, dando alegremente do melhor que tem.22

O Presidente J. Reuben Clark disse: “Eu acredito que o nosso Pai Celestial deseja salvar todos os seus filhos, (…) que na sua justiça e misericórdia Ele irá dar-nos a recompensa máxima pelos nossos atos, dando-nos tudo o que puder dar, e por outro lado, acredito que Ele irá impor-nos a pena mínima que Lhe seja possível impor-nos”.23

Na cruz, até mesmo o apelo misericordioso do nosso Salvador ao Seu Pai não foi apenas um incondicional “Pai, perdoa-lhes”, mas sim, “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.24 O nosso arbítrio e liberdade têm significado porque somos responsáveis perante Deus e perante nós mesmos por aquilo que somos, sabemos e fazemos. Felizmente, podemos confiar na justiça e misericórdia perfeitas de Deus para julgar na perfeição as nossas intenções e os nossos atos.

Concluímos tal como começámos — com a compaixão de Deus à medida que voltamos para casa, para junto Dele e dos nossos irmãos.

Lembram-se da parábola de Jesus Cristo sobre um certo homem que tinha dois filhos?25 Um dos filhos saiu de casa e desperdiçou a sua herança. Quando caiu em si, este filho procurou voltar para casa. O outro filho, ao sentir que tinha guardado os mandamentos “há tantos anos”, não quis dar as boas-vindas ao irmão que regressara a casa.26

Irmãos e irmãs, considerem que Jesus está a pedir-nos para abrir os nossos corações, a nossa compreensão, compaixão e humildade, e para nos vermos em ambos os papéis.

Tal como o primeiro filho ou filha, podemos começar por andar à deriva e mais tarde procurar voltar para casa. Deus aguarda poder receber-nos.

E tal como o outro filho ou filha, Deus implora-nos, gentilmente, que nos alegremos juntos à medida que cada um de nós vai regressando a casa para junto Dele. Ele convida-nos a tornar as nossas congregações, quóruns, classes e atividades abertas, autênticas e um lar seguro para todos. Com bondade, compreensão e respeito mútuo, cada um de nós procura, humildemente, o Senhor e ora e dá as boas-vindas às bênçãos do Seu evangelho restaurado para todos.

As nossas jornadas de vida são individuais, mas podemos regressar a Deus, o nosso Pai, e ao Seu Filho Amado, ao confiarmos em Deus, uns nos outros e em nós mesmos.27 Jesus proclama: “Não temas, crê somente”.28 Tal como fez o Profeta Joseph, podemos confiar destemidamente nos cuidados do nosso Pai Celestial.29 Querido irmão, querida irmã, querido amigo, querida amiga, procurem novamente desenvolver fé e confiança — um milagre que Ele nos promete atualmente. No sagrado e santo nome de Jesus Cristo. Amém.